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Abstract(s)
Procurar reencontrar num mapa antigo as formas do mundo que conhecemos resulta ser um gesto quase espontâneo. Tomemos dois exemplos
conexos, a Austrália e a Antárctida (ou Terra Austral), que se encontram
entre os mais frequentemente referidos, facto a que não serão estranhas
as sérias consequências geográficas e políticas que os mesmos suscitaram
e parecem continuar a suscitar.
Em tese, o caso da Antárctida constituiu um dos mais improváveis pretextos de extrapolação cartográfica deste género porquanto sabemos que
foi preciso esperar pelas viagens de William Smith, Edward Bransfield,
Nathaniel Palmer, Thaddeus von Bellingshausen e John Davis, no início
do século XIX, para que se realizassem os primeiros avistamentos e desembarques nesse continente. Ainda assim, como não ser tentado a ver
na grande massa de terra austral e nas três zonas climáticas que lhe são
sobrepostas em qualquer das várias versões medievais do mapa -mundo
que acompanha o Commentarius in somnium Scipionis (Comentário
do sonho de Cipião) do filósofo latino Ambrosius Theodosius Macrobius
(395 -436) não apenas a memória de uma terra conhecida, como de uma
terra conhecida quando as condições climáticas eram bem mais clementes que as de hoje39 (Fig. 2)? Como não ser tentado a ver uma alusão ao
mesmo continente antárctico na legenda que alude a uma quarta parte do mundo, situada para além do oceano, nos confins do sul – “Quarta
pars trans Oceanum interior est in meridie” –, tal como surge inscrita
nas cópias medievais do mapa -mundo que acompanha os manuscritos
do Comentário do Beato de Liébana ao Apocalipse (c. 776) e que este
tomou de empréstimo da descrição da Líbia das Etimologias de Isidoro
de Sevilha (c. 560 -636)40 (Fig. 3)?
Description
Keywords
Terra australis Cartografia renascentista
Pedagogical Context
Citation
Oliveira, F. R. (2020). Terra australis recenter inventa: o ressurgimento do mito da quarta parte do mundo na cartografia renascentista. In: C. Simões & F. C. Domingues (eds.). Portugueses na Austrália: as primeiras viagens (pp. 21-57). Imprensa da Universidade de Coimbra. https://doi.org/10.14195/978-989-26-0633-010.14195/978-989-26-0633-0
Publisher
Imprensa da Universidade de Coimbra