DCST - Teses de Doutoramento / Ph. D. Thesis
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- Governança territorial e participaçãoPublication . Caetano, Lucinda; Crespo, José Luís Mourato; Paraízo, Rodrigo Cury, coorientadorO objeto de estudo e a temática principal deste trabalho reporta-se à participação pública e à governança no âmbito das políticas territoriais locais. Investiga-se a experimentação de metodologias participativas, analisam-se mecanismos participativos e os agentes de mediação de governança, como contributos para uma sustentabilidade territorial e ambiental. A incidência reporta-se aos canais convencionais previstos nas políticas territoriais, no contexto da democracia portuguesa na atualidade. As situações analisadas referem-se aos processos participativos promovidos pelo poder local, quanto resultantes da mobilização cívica e enquanto motor de mudança societal, numa perspetiva do incremento dos valores democráticos. O enfoque privilegia territórios de baixa densidade com incidência no Algarve, designadamente Portimão e Loulé. A metodologia utilizada na investigação foi intervencionista (investigação-ação), de base qualitativa, utilizando como recurso o estudo de caso. A validação foi realizada in continuum, através de «teorias consagradas» no âmbito teórico e dos dados empíricos recolhidos nos contextos de trabalho. Face à metodologia de monitorização/ avaliação/ reformulação permanente foram determinadas questões de investigação desenvolvidas coletivamente e permanente, em passos sequenciais e contínuos durante todo o processo investigativo. Como Casos de Estudo principais foram selecionados Portimão e Loulé, com base em critérios pré-estabelecidos, no entanto, no decorrer do trabalho, foram realizadas várias sub-investigações, que recorreram a outros territórios de análise. Os resultados dessas sub-investigações foram disseminados durante o processo investigativo, através de comunicações e artigos científicos. As conclusões parecem demonstrar que um dos pontos mais frágeis da democracia portuguesa atual se vincula à fraca participação pública, determinando a alienação das populações nos processos territoriais, aliado à desacreditação dos decisores políticos, num momento temporal em que a crise territorial, social e económica coloca questões que importam ser resolvidas coletivamente. Do mesmo modo, denota-se a necessidade crescente de um posicionamento ético por parte dos técnicos e especialistas do «território». Acredita-se que a presente investigação poderá abrir novas perspetivas na abordagem a um problema antigo que se relaciona com a promoção da participação ativa da população, com especial incidência nos canais convencionais, em regimes democráticos, relativamente aos processos territoriais
- Monitorização das dinâmicas territoriais de âmbito localPublication . Amado, António Ribeiro; Cavaco, Cristina Soares Ribeiro Gomes, orientadoraA investigação desenvolve-se no âmbito do Ordenamento do Território e centra-se na avaliação de Políticas Públicas de Base Territorial em Portugal, e no papel determinante que as ações de monitorização das dinâmicas territoriais de âmbito local desempenham na prossecução desse objetivo. A necessidade de realizar ações de monitorização e avaliação em Ordenamento do Território é transversal e justificam-se no atual contexto de globalização. A necessidade de gerir o crescente grau de incerteza, associado à aceleração da vida moderna e aos efeitos crescentes da globalização, é cada vez mais um fator determinante para a atividade do Ordenamento do Território tendo em conta as volatilidades da economia e da sociedade e os impactos que daí decorrem para o território, sejam associados ao uso e aproveitamento do solo, mas também da preservação dos seus recursos, sejam associados às formas de distribuição de pessoas, atividades e respetivas mobilidades. No âmbito local do Sistema de Gestão Territorial Português, existe pouco trabalho desenvolvido e pouca consciência da importância de monitorizar o território, a sua transformação e os efeitos da implementação das políticas públicas, tornando-se essencial a operacionalização de um sistema de monitorização nos vários âmbitos e segundo um processo multi-escalar, integrável e interoperável, onde o âmbito local, pela sua maior proximidade ao território se torna imprescindível. A investigação procura dar um contributo útil para o acompanhamento e avaliação das Políticas Públicas de Base Terrtorial em Portugal e teve como principal objetivo a construção de um método para a Monitorização das Dinâmicas Territoriais (MDT) de âmbito local, possível de integrar no Sistema de Gestão Territorial Português e aplicável pelos atores e organismos competentes, no contexto do quadro regulamentar atual da política pública de Ordenamento do Território e urbanismo. Com a disponibilização do método MDT, a investigação procura dar um contributo metodológico ativo no acompanhamento, recolha e processamento de informação de base territorial de forma harmonizada e agregável, perspetivando a possibilidade de criação de um sistema de monitorização harmonizado a nível nacional, reforçando a territorialização das políticas públicas e indo ao encontro das orientações internacionais e Europeias que respeitam à avaliação das políticas públicas, designadamente as que têm sido veiculadas no quadro da Política de Coesão Europeia (PCE), em particular e mais recentemente no âmbito do Portugal 2020 (PT 2020).
- Progetto urbano e archeologia diffusaPublication . Spera, Raffaele; Stendardo, Luigi; Coelho, Carlos Francisco Lucas Dias, coorientadorA relação entre a arquitetura contemporânea e a arqueologia é um tema muito amplo e largamente tratado, que se desenvolveu no tempo, sobretudo através da oposição entre duas categorias: o “antigo” e o “novo”. A discussão em torno desta dicotomia conduziu à afirmação da descontinuidade como critério de projeto em relação à arqueologia. Essa descontinuidade é muitas vezes expressa no contexto arquitetónico de forma preconceituosa, sendo declaradamente assumida a diferença entre a preexistência e a parte adicionada que se constitui, numa lógica de ruptura, a partir da utilização de diferentes formas e materiais. Contudo, as grandes transformações urbanas, como a construção de infraestruturas, evidenciam um fenómeno, que é na verdade muito capilar, devido à extrema difusão dos objetos arqueolόgicos no território: a proximidade forçada entre o projeto do “novo” e a arqueologia . Quando os artefactos passam novamente a fazer parte da dinâmica urbana por via de uma escavação programada ou até mesmo de uma forma acidental, ainda não têm assumido, ou terão perdido, o sentido de objeto de memória ou de ruína. Assumem assim a condição de fragmento, ou se quisermos, de signo. Esta condição leva à crise da dicotomia antigo/novo em que o projeto se baseia, estimulando fortemente novas possibilidades de projecto apoiadas em critérios de continuidade, de relação entre o que se adiciona e o que persiste. No entanto, ao mesmo tempo, existe uma ausência de critérios de continuidade, também por causa da oposição inerente à terminologia adotada. Portanto, para superar esta lógica de oposição, é preciso uma emancipação do fator cronológico dos termos usados. Por isso, assumindo que o termo “arqueologia” não é sinónimo de “antigo”, neste trabalho os termos “antigo” e “novo” serão substituídos correspondentemente pelas expressões layer de transformação interrompida (ou arqueológica) e layer de transformação contínua. Estas expressões estão já vagamente implícitas em alguns estudos científicos, mas nunca totalmente explicados e desenvolvidos no campo teórico. Assim, pretende-se que estes conceitos se integrem na linguagem do projecto arquitetónico: as camadas (layers), entendidas quer no sentido físico quer no sentido imaterial, mas também como um complexo de relações e de significados. Com isto, torna-se evidente a oportunidade e o objectivo da pesquisa: investigar a relação entre o projeto contemporâneo, arquitetónico e urbano, e os artefactos arqueológicos com particular enfoque nos projetos que se baseiam em critérios de continuidade entre os layers arqueológicos e os de transformação contínua. Contexto geográfico, área temática e objectivo da pesquisa O contexto geográfico e cultural a que se faz referência é o europeu, com um enfoque sobre Itália e Portugal, países onde a pesquisa foi realizada. A escolha é motivada pelo fato que, nesta área geográfica, o conceito de património cultural não sofre mudanças substanciais de significado. Além disso, é reconhecida a contribuição italiana para o debate sobre a protecção e valorização do património cultural, bem como para o estudo dos fenómenos urbanos, particularmente durante o período pós-guerra. A pesquisa realizada em contexto internacional tornou evidente o forte interesse português, no campo académico e profissional, pela cultura arquitetónica italiana. Além disso, o trabalho em Portugal facilitou, por um lado, o estudo de um caso paradigmático em Espanha, o do Museu Nacional de Arte Romana de Mérida, e, por outro, permitiu abordar as obras de alguns mestres portugueses, como Eduardo Souto de Moura e Álvaro Siza Vieira, onde é possivel observar a singular capacidade de utilização do material arqueológico como material de projeto. A relação entre a arquitectura e a arqueologia transformou-se ao longo do tempo, passando inicialmente pela restituição da imagem original dos artefactos arqueológicos e mais tarde pela exibição do palimpsesto. Actualmente, resume-se de um modo particular a questões sobre a protecção do sítio arqueológico, da museografia e da museologia, com interesse sobre aspectos ligados ao tema da narrativa. Este facto revela uma tendência de percepção do projecto como um apêndice da obra arqueológica que, evidentemente, detém um reconhecimento particular por ser um objecto de memória ou uma ruína. O presente estudo procura, pelo contrário, seguir uma linha de pesquisa menos difundida, interessada em criar uma relação de continuidade entre diferentes sistemas urbanos, entre os quais o arqueológico. Neste sentido, os vestígios arqueológicos não têm necessariamente o papel de recurso económico para o turismo. Tendo em conta a oposição inerente aos termos “antigo” e “novo” e a sua insuficiência na descrição da globalidade dos fenómenos urbanos, esta linha de estudo baseia-se na ideia de posicionar os vestígios arqueológicos na mesma área semiológica da arquitectura, tornando-os materiais do projeto. Essa hipótese, presente amplamente no pensamento de Aldo Rossi, é também assumida por outros autores italianos, como Raffaele Panella, e internacionais, embora numa outra perspectiva, como Rafael Moneo e Eduardo Souto de Moura. No entanto, tirando alguns casos excepcionais, não existe uma ideia precisa e amplamente compartilhada que corresponda à hipótese de tornar o material arqueológico em material do projeto. Daqui emerge, por um lado, a questão de investigação sobre quais são as formas contemporâneas de continuidade e, por outro, o objectivo da pesquisa de construir um quadro de intervenções baseado em critérios de continuidade. A necessidade de definir as características que determinam a associação de um projeto com a ideia de continuidade também emerge. Método e resultados esperados A metodologia adotada na pesquisa foi organizada em 3 fases diferentes. A fase de scouting constou na recolha de material bibliográfico, observação in loco e levantamento de documentação gráfica para seleção de casos de estudos. A fase de análise e interpretação dos dados constou na organização dos materiais recolhidos em categorias de intervenção. Essas categorias são resumidas e organizadas num diagrama no qual se pode ler as relações e as distâncias conceptuais entre os diferentes tipos de intervenção. Para cada categoria de intervenção foram evidenciadas as analogias entre as obras de arte e de arquitetura a fim de observar o problema do ponto de vista da composição. Além disso, a comparação entre a arquitetura contemporânea e a arquitetura do passado permite o reconhecimento de algumas afinidades e aspetos qualitativos que igualmente devem ser salvaguardados no projeto contemporâneo. Deste modo, as duas comparações permitem observar a problemática de uma perspetiva particular sem o preconceito ligado aos termos antigo e novo. O resultado da análise aos casos estudo é uma espécie de dicionário visual essencial para delinear a estrutura correspondente a uma imagem atual de continuidade na arquitetura. Por fim, a fase de validação da teoria consiste na aplicação do esquema elaborado (diagramas e categorias) para alguns casos particulares, a fim de mostrar os seus limites conceptuais. O trabalho é composto por duas partes. A primeira parte contém o texto como referência principal na qual as imagens funcionam como legendas. A segunda contém as imagens onde o texto funciona como legenda. Desta última fazem ainda parte as referências bibliográficas. As duas partes estão divididas em três capítulos, uma para cada etapa conceptual: a crise da dicotomia antigo/novo; a tese e os seus fundamentos; os dados para a demonstração da tese e a interpretação deles. No entanto, só a primeira parte tem um capítulo conclusivo. O primeiro capítulo, intitulado Projeto urbano e arqueologia difusa, procura enquadrar o estudo nas problemáticas e instrumentos metodológicos associados à prática e teoria interventiva ao longo do tempo para demonstrar a sua inadequação ao contexto actual. A definição do objeto de estudo, integrado no contexto geográfico e cultural da pesquisa, foi apoiada em casos práticos demonstrativos das metodologias comummente adoptadas no processo de transformação dos edifícios. Através de um excursus sobre a evolução do debate arquitectónico, que aparentemente distancia os fenómenos urbanos da protecção e musealização dos sítios arqueológicos, mostraremos a crise da dicotomia antigo/novo e a individualização do projecto urbano como ferramenta de intervenção. Este enquadramento pretende assim justificar a necessidade de repensar a relação entre o projeto contemporâneo e os artefactos arqueológicos e, portanto, a importância deste estudo. O segundo capítulo, intitulado Da dicotomia antigo/novo à continuidade como critério de projeto, trata da hipótese de resolver a relação entre arquitetura e arqueologia pela aplicação do critério de continuidade, com a condição de abandonar a terminologia “antigo” e “novo” cativa de um fator cronológico. Como tal, neste estudo, os termos “antigo” e “novo” serão substituídos pelas expressões layer de transformação interrompida (ou arqueológico) e layer de transformação contínua. A hipótese será apoiada por estudos científicos, dos quais emergem também duas características do critério de continuidade: a assunção do material arqueológico como material de projeto – corolário da hipótese suportada – e a necessidade de refazer o significado do signo arqueológico. Com base nessas observações, o critério de continuidade será definido como a interação recíproca entre a camada arqueológica e aquela em contínua transformação, em função de um conceito espacial unitário, resultado de uma reflexão crítica do significado do signo arqueológico. No terceiro capítulo, intitulado Formas contemporâneas de continuidade, o critério de continuidade, definido no capítulo anterior, será utilizado como um fator de análise discriminante para selecionar alguns casos significativos dentro do contexto geográfico e cultural da pesquisa. Simultaneamente, será proposto um critério de classificação dos casos de estudo que levará em conta a relação espacial e de significado com a pré-existência, bem como o nível de interação e relação entre os layers. O resultado dessa classificação será demonstrado através de um diagrama tipológico no qual as distâncias conceptuais dos diferentes tipos de intervenção podem ser identificadas qualitativamente. As categorias definidas no âmbito do critério de continuidade são a Restituição,o Enchimento/Integração, a Adaptação, o Sobrescrever/Acumulação e a Re-invenção. Estas formas de leitura da arquitetura e da arqueologia procuram contribuir para a formação de um framework representativo da ideia de continuidade. Este quadro de categorias será útil para identificar algumas tendências de cariz experimental na arquitetura, baseadas no conceito de continuidade, e para orientar a análise e comparação de projetos arquitetónicos relacionados com o material arqueológico (capítulo 4). No entanto, é-lhe também reconhecido o seu sentido casuístico. Deve realçar-se assim que este estudo não se constitui como um valor absoluto e definitivo mas um conhecimento parcial. Trata-se de um contributo possível estruturado por um método científico preciso que oferece novas perspectivas e instrumentos úteis para a avaliação e avanço do debate sobre estas questões específicas. No entanto, ele permanece válido dentro de um determinado domínio e sob certas hipóteses. Por fim, será possível demonstrar a hipótese e alcançar os objetivos propostos, mas notar-se-á que outras questões serão deixadas em aberto, como, por exemplo, o papel do adjetivo “arqueológico” na arquitetura e a relação entre o significado do signo arqueológico e o tempo. Portanto este trabalho de investigação é comparável a um ensaio de escavação que, ao atingir um objetivo de conhecimento específico, intercepta outras camadas disciplinares, satisfaz alguns conhecimentos e, ao mesmo tempo, abre novas questões.
- Understanding of baston castles in the XVII century in Galicia regionPublication . Tikhonova, Olha; Pereira, Michel Toussaint AlvesNa complexidade deste fenómeno, único na história da arquitetura renascentista, a origem do palácio fortificado representa um problema específico. Apesar de extensas destruições ao longo dos séculos, motivadas por guerras, transformações e as chamadas restaurações, um número considerável de exemplos ainda subsiste pela Europa fora. Não é possível apontar para qualquer outra região da Polónia que possa gabar-se de ter tantos exemplos de palácios fortificados como a Galícia. Quando procuramos saber quais os factos históricos a que este fenómeno poderia estar ligado, ou pelo menos com os quais poderíamos explicá-lo em parte, encontramos escassas informações sobre esse assunto. Pensava-se que os castelos medievais do século XVII já não eram adequados para a vida de luxo e para a proteção contra as armas de pólvora, e é por isso que eles se decompuseram em dois tipos. Um corresponde a estruturas defensivas tais como fortes modernos e fortalezas com bastiões, o outro a edifícios abertos (sem características defensivas e com forte conexão com a paisagem) que são palácios. No entanto, naquela época, apareceu também o tipo híbrido que combina esses dois tipos e mostra que uma espécie de castelo ainda poderia existir e fornecer a proteção e boa qualidade de vida ao mesmo tempo. Este tipo híbrido apareceu em Itália com os primeiros exemplos construídos para a família Medici, mas ganhou outras características tipológicas na República da Polónia no século XVII, e foi difundido especialmente na Galícia. Não tem havido um único nome específico para este tipo na teoria arquitetónica, e faltou conhecimento sobre suas variedades tipológicas ou características precisas. A maioria destas estruturas já desapareceu ou foi convertida em palácios, perdendo as suas defesas militares. Apenas alguns exemplos podem ainda ser estudados. Mas com uma vantagem significativa na nossa seleção de casos em dois países diferentes, Ucrânia e Polónia, com a Galícia foi dividida entre eles desde meados do século XX. Tal implica uma variedade que ajudou a ter diferentes visões sobre o fenómeno do palácio fortificado e estudar os respetivos complexos arquitetónicos em diferentes estados e transformações, já que a parte polaca da Galícia era um pouco mais calma que a da Ucrânia. Ao mesmo tempo, provavelmente, esta divisão da região entre dois países diferentes, cada uma com a sua língua, resultou até agora em estudos, pelos investigadores, de exemplos separados em cada parte da região e não em toda a região. O objetivo desta pesquisa foi estabelecer a classificação tipológica destes específicos complexos arquitetónicos (palácio fortificado) e sua possível origem e história. A metodologia apresentada aqui não se baseia apenas em documentação pura e evidência histórica, mas também no próprio complexo arquitetónico como fonte primária e no contexto sociopolítico e arquitetónico. A investigação partiu de uma procura dos casos de estudo mais adequados, analisando as melhores fontes para encontrar os palácios fortificados na Galícia: o primeiro levantamento militar realizado no século XVIII, focando as estruturas militares. Todos os palácios fortificados encontrados foram revisados, aqueles que permanecem pelo menos em ruínas foram examinados, e suas condições foram descritas. Os seis mais diversos e os mais bem preservados foram escolhidos para posterior estudo detalhado: Brody, Pidhirtsi, Zbarazh, Zheshov, Lanchut e Lodygovice. A investigação sobre os casos selecionados incluiu a história dos complexos arquitetónicos, análise das proporções das fortificações abaluartadas e da parte civil, composição das partes residenciais e das defesas, comparação com os modelos dos tratados de Arquitetura encontrados, que descrevem palácios fortificados, e descrição do complexo arquitetónico no respetivo sítio e paisagem, com conclusões finais sobre a classificação tipológica. As fontes primárias para análise foram os materiais originais dos arquivos de Cracóvia, Varsóvia, Zheshov e Viena e observações de campo. A definição de padrões semelhantes ajudou a entender os principais modelos que representam esse tipo, e as diferenças ajudaram a detectar as variedades no tipo (subtipos). A partir de várias fontes percebe-se que o principal corpo residencial (palácio), cercado pelas fortificações, foi construído seguindo as proporções de Palladio e Serlio, pelo menos em planta. No entanto, ninguém tentou definir quais as relações de proporção utilizados dentro dos edifícios residenciais dos palácios fortificados até esta pesquisa. Além disso, muitos pesquisadores afirmaram que os palácios fortificados na Galícia foram feitos de acordo com o sistema holandês antigo, mas as análises comparativas proporcional e de ângulos das fortificações não tinha sido feita até ao presente estudo. Além disso, a componente jardim nos palácios fortificados nunca foi abordada por outros investigadores, exceto numa pesquisa do ucraniano Remeshylo-Rybchynska, que estudou as componentes principais dos conjuntos de residências nobres, mencionando os jardins do palácio fortificado de Pidhirtsi como característica importante. Nenhum dos pesquisadores ucranianos e polacos antes do presente estudo interessou-se pela conexão visual dos espaços internos dos palácios com os respetivos jardins. O estudo crítico, de casos bem preservados, usando a análise complexa, revelou as características fundamentais dos palácios fortificados na Galícia, as semelhanças e diferenças de padrões, nos casos estudados e palácios fortificados projetados ou construídos noutros países europeus. Antes deste estudo, apenas dois exemplos eram conhecidos e citados como fonte entre os estudiosos, que abordaram os palácios fortificados na Galícia. Um é a villa Caprarola, construída na Itália, e o outro um projeto para o palácio fortificado de Zbarazh, na Galícia, descrito no tratado de Vincenzo Scamozzi L'Idea della Architettura Universale. No entanto, encontrámos os manuscritos originais de seis tratados que se referem aos palácios fortificados e oferecem uma visão geral, bem como vários exemplos de projetos, construídos ou não, dos palácios fortificados que pertencem ao tipo italiano “palazzo in forteza”. Além disso, revelamos as diferenças entre o tipo italiano e o palácio fortificado na Galícia. A maioria dos palácios fortificados da Galícia tomou como modelo para a sua componente defensiva, dos Países Baixos, o bem desenvolvido sistema de fortificações abaluartadas holandesas (exceto Zbarazh, o exemplo projetado segundo o tipo italiano "palácio em fortezza") é por isso que a forma daqueles é diferente. Ainda mais, se compararmos os exemplos italianos e sicilianos de palácios fortificados do século XVII com os da Galícia, a ligação entre palácio e baluartes é diferente. As semelhanças que podem ser encontradas com exemplos da Galícia são apenas em aparência geral e somente em três casos (um sub-tipo): Pidhirtsi, Zheshov e Zbarazh. O palácio fortificado do tipo italiano “palazzo in fortezza”, em contraste com aqueles três na Galícia, não tem uma cortina separada, e as paredes do palácio formam defesas. O palácio fortificado de Pidhirtsi tem semelhanças mais aparentes com o tipo italiano “palazzo no fortezza” porque as paredes traseiras da sua parte residencial situam-se diretamente sobre da fortificação como no tipo italiano. No entanto, a parte da frente de Pidhirtsi tem um sistema de bastiões bem desenvolvido, e a componente residencial é desviada para trás. Os palácios fortificados de Zheshov e Zbarazh têm ainda menos semelhanças. Os seus corpos residenciais não ficam diretamente sobre as muralhas, eles recuam. Os outros três casos de estudo, ou seja, Brody, Lanchut e Lodygovice, pertenciam a um tipo totalmente diferente: o seu palácio é separado das fortificações. Após as análises, classificámos os palácios fortificados na Galícia em dois tipos principais: um complexo integrado que consiste num palácio ligado a baluartes bem desenvolvidos; e um complexo com um palácio independente e cercado por fortificações maciças e robustas de baluartes construídos em terra e reforçadas por paredes de alvenaria. Cada um desses tipos tem dois subtipos. O primeiro subtipo integrado parte de um modelo francês projetado por Perret. Neste modelo, o corpo residencial está sobre a parede da fortificação em frente à entrada do complexo e tem um pátio em frente ao palácio. É semelhante à construída Palazzina del Forte di Belvedere da Medici no século XVI. O segundo subtipo integrado é baseado num exemplo francês projetado por Jacques Androuet du Cerceau (a primeira proposta para Verneuil). O projeto determina um palácio de planta retangular com um pátio interno que fica no topo da plataforma abaluartada e tem uma composição central. Este subtipo pode ser detetado até mesmo num exemplo mais antigo, a villa di Cafaggiolo da Medici, do século XV. O segundo tipo, a que chamamos de composto, tem também dois subtipos. Um subtipo baseado nos modelos de Serlio e outro nas regras prescritas, para o projeto do palácio fortificado, pelo arquiteto polonês Naronowicz-Naroński. A origem deste tipo pode ser encontrada até à villa di Poggio a Ciano, do século XV, projetada por Giuliano da Sangallo. Por último, mas não menos importante, definimos as razões para o aparecimento de palácios fortificados na Galícia e encontrámos semelhanças com as causas do aparecimento dos primeiros e ainda incipientes palácios fortificados em Itália. Eles são políticos - concentração do poder nas mãos de famílias nobres; insegurança - a possibilidade da rebelião de pessoas para se opor ao poder dessas famílias e o medo de assaltantes aleatórios ou ameaças militares; e também a vontade, por parte dos seus proprietários, em ter uma representatividade arquitetónica do seu estatuto social. Estes entendimentos trazem novos pontos de vista não somente à questão do palácio fortificado na Galícia, como contribuem para o conhecimento do fenómeno dos palácios fortificados na Europa antes do século XIX.
- Filamentos metropolitanosPublication . Moreira, Inês de Castro Luís Lopes; Morgado, Carla Sofia Alexandrino Pereira; Torné, Carles Llop iAs alterações do contexto físico, económico e político, ocorridas desde a segunda metade do século XX, vieram potenciar as transformações no território metropolitano de Lisboa e a emergência de filamentos metropolitanos (áreas urbanas especializadas). Estas, produto de processos de infraestruturação e densificação metropolitana, caracterizam-se pela ocupação de áreas periféricas ao centro consolidado, em localizações estratégicas da rede rodoviária e elevado grau de especialização funcional. O resultado consiste num sistema urbano polinucleado, com a existência de áreas de grande concentração de atividades económicas ligadas ao sector terciário e quaternário e, simultaneamente, o abandono e a posterior reestruturação das áreas industriais periféricas. De forma a analisar o processo subjacente ao seu aparecimento e consolidação, exploram-se as transformações que se verificaram, os principais motores e as consequências da especialização do território. Com o objectivo de identificar e tipificar as formações urbanísticas emergentes, descodificar as suas lógicas espaciais e os seus processos de formação/transformação, propõe-se a seguinte estrutura metodológica: - Enquadramento conceptual e comparativo das transformações do território metropolitano de Lisboa; - Análise das novas configurações urbanas especializadas a nível funcional e da sua correlação com o território metropolitano; - Operacionalização das dinâmicas identificadas e tradução em princípios de atuação exportáveis para realidades semelhantes.
- O espaço público no planeamento e ordenamento do territórioPublication . Silva, Diana Solange de Almeida; Cabral, João Carlos Vassalo SantosAvaliamos o espaço público na produção urbana e no seu enquadramento nos instrumentos de planeamento territoriais, no século XX, em Portugal. As mais recentes investigações sobre o espaço público reintroduziram o seu posicionamento no âmbito das políticas territoriais nacionais, que, como veremos, contradizem os diagnósticos da condição material do espaço público, como é exemplo Vila Nova de Gaia. Distinguimos três linhas de investigação que sustentam o pendor do desenho urbano, no qual se enquadram a maioria dos autores da morfologia urbana: a que indaga o papel do projeto urbano; a que avalia o uso dos espaços urbanos, explorando, na medida do inquérito, da análise topológica e de metodologias digitais, a otimização formal e social dos espaços públicos; e, mais recentemente, a que se debruça sobre a integração dos sistemas ecológicos, denunciando lacunas que a produção urbana contemporânea operou quanto à supressão de territórios fundamentais para a resiliência do meio urbanizado. Salvo exceções pontuais, todas assumem a natureza pública do espaço como benéfica, naturalizando historicamente o espaço público, definindo-o como lugar de construção cívica e política, e fazendo coincidir o desenvolvimento da democracia ocidental com a promoção daquele no planeamento urbano. Consideramos esta hipótese incompatível tanto com a condição geral do espaço público encontrada na produção urbana, como com a constituição de uma noção homogénea e universal de público numa sociedade particularmente hierarquizada e diferenciada. Consideramos que aquela contradição traduz a dificuldade fundamental em expor os processos de produção urbana sob a ótica da produção e reprodução socioeconómicas que originam a transformação do solo em espaço público. Assim, colocamos a questão: Para que serve o espaço público, a quem, ou como? Criticamos a formulação de público e do espaço público na mesma medida, entendendo a estruturalidade entre sociedade e território na construção teórica e física do espaço público, e verificando processos de produção territorial na medida dos processos de produção socioeconómica em contexto de economia capitalista. Demonstramos que a produção de espaço público traduz uma condição estrutural da organização social baseada na propriedade privada, no direito particular de transformação do solo, relativizando a desigualdade material dos espaços urbanizados, a natureza social da propriedade e produzindo efeitos contrários à coesão territorial, num contexto de liberalização das mais-valias nas políticas territoriais. Fazemo-lo através do estudo da forma do espaço público, em diferentes momentos históricos e económicos daquele concelho; através de regulação, expondo o quadro legal e regulamentar que estabeleceu o espaço público, considerando o enquadramento da propriedade do solo e da dominialidade; através da gestão, averiguando como os instrumentos de gestão territorial promoveram a produção, uso e concessão do espaço público. Para tal, realizamos a diagnose do atual espaço público em Vila Nova de Gaia, através do levantamento tipificado do mesmo, quantificando as áreas de cada tipo produzidas em cada período. Seguimos uma metodologia de análise a duas escalas – concelhia e local, tendo como suporte as bases cartográficas existentes, o levantamento axial do espaço público da AMP e o levantamento dos instrumentos de planeamento desenvolvidos para o concelho, no século XX. A avaliação do espaço público é realizada quantitativamente e qualitativamente, nessas duas escalas, servindo-nos da análise diacrónica da mancha de espaço público, da análise topológica e da análise estatística para contextualizar posteriormente oito áreas alvo de instrumentos de planeamento. Da comparação das oito áreas selecionadas com o concelho, segundo critérios correspondentes à morfologia, à regulação e à gestão urbanas, expomos a situação efetiva do espaço público concelhio. Vila Nova de Gaia ilustra esta distância entre políticas territoriais e produção urbana, particularmente no que se refere ao entendimento defendido para o espaço público concelhio, nas diferentes conjunturas de planeamento que o promoveram.
- Territórios turísticos em áreas costeiras. o resortPublication . Martins, Célia Sousa; Cavaco, Cristina Soares Ribeiro GomesCom o desenvolvimento turístico massificado das áreas costeiras, nas últimas décadas, emerge uma urbanização turística dispersa, com consequências relevantes nos processos e formas de ocupação do território. Neste âmbito, o resort tem a sua quota de responsabilidade, participando ativamente no processo de turistificação do território. Contudo, da implantação e espacialização de resorts turísticos emerge um conjunto de problemas e contradições que justificam uma reflexão atenta ao nível do planeamento e do desenvolvimento dos espaços turísticos nas áreas costeiras. A investigação, de natureza analítica e interpretativa, procura introduzir um olhar inovador sobre o resort, considerado como um produto híbrido que orbita em torno de três esferas diferentes: uma esfera turística, relacionada com a sua vocação funcional principal; uma esfera imobiliária, associada à capitalização económico-financeira dos empreendimentos; e uma esfera urbanística, relacionada com a natureza morfológica dos assentamentos. A partir de um amplo suporte teórico e empírico, procuramos compreender o processo de produção e desenvolvimento de duas gerações de resorts que são semelhantes ao nível da forma mas distintas ao nível dos processos respeitantes à sua génese e desenvolvimento. A metodologia assenta numa abordagem que convoca a morfologia urbana como disciplina central da investigação empírica. Exploramos a vertente processual por via da análise das políticas públicas do turismo e do ordenamento do território e os seus efeitos na vertente espacial e funcional por via do estudo do caso de Óbidos, analisando de forma crítica a transformação da área costeira a partir do modelo de urbanização por resort. Os resultados confirmam o diálogo assíduo entre cada uma das dimensões que sustentam a tríade conceptual do resort, apontando para a necessidade de reforçar a importância da dimensão urbanística à luz de uma articulação e compatibilização da ação entre as políticas e os instrumentos do turismo e ordenamento do território, pois continua a subsistir uma lógica de ocupação fragmentada, em detrimento de uma integração urbano-territorial. Neste sentido, a investigação procura traçar linhas de orientação estratégica para o planeamento e ordenamento turístico com o intuito de contribuir para uma territorialização sustentável do resort, no presente e no futuro.
- Desenvolvimento urbano, justiça espacial e o papel da política de habitação e de solosPublication . Guinote, José Carlos dos Santos; Mourato, João Morais Lavadinho; Cabral, João Carlos Vassalo Santos, coorientadorO objectivo desta investigação é estudar a relação estabelecida em Portugal desde a segunda metade do século XX entre desenvolvimento urbano e justiça espacial. Recorremos para tal a uma análise crítica sobre a articulação entre Política de Solos (PS) e Política de Habitação (PH), inquirindo sobre a relação que se estabelece - ou não - entre estas políticas públicas e qual o seu impacto no determinar do carácter mais ou menos justo do padrão de desenvolvimento urbano nacional. Através desta investigação visamos contribuir para a ilustração pormenorizada e factual do posicionamento do Estado Português perante a questão das mais-valias urbanísticas e determinar quais as consequências desse posicionamento. Em detalhe, queremos compreender qual o papel desempenhado pelo controlo público das mais-valias urbanísticas na articulação entre as Políticas de Solos e de Habitação e investigar a forma como evoluíram, ao longo do período histórico em análise, os diferentes mecanismos da sua geração e captura. Para atingir estes objectivos recorremos a uma análise a dois níveis. A um nível macro, com vista à produção de uma matriz contextualizadora, efectuámos uma análise comparativa de Portugal com outros países em que a captura das mais-valias urbanísticas se concretiza de forma diferente. A um nível micro, centrámos a nossa investigação num município particular da AML, Alcochete, para efectuar uma análise de pormenor com vista a ilustrar os processo técnicos e políticos que definem o padrão vigente de captura de mais-valias urbanísticas. Sustentada metodologicamente na análise documental dos documentos estratégicos prospectivos e instrumentos de gestão territorial dos territórios em análise, documentação de suporte à tomada de decisão política sobre a matéria em análise, entrevistas com decisores políticos e técnicos municipais, esta investigação pretendeu, para além de dar resposta às questões fundacionais identificadas, avançar propostas específicas que potenciem a política de ordenamento do território como factor de progresso e de promoção de uma maior justiça social e espacial.
- La forma del construito costiero non accreditatoPublication . Antoniadis, Stefanos; Coelho, Carlos Francisco Lucas Dias; Stendardo,Luigi, coorientadorPremissa Em Arquitectura, o desenvolvimento, a confirmação ou a negação de alguns paradigmas culturais e teóricos deve ser antecedido pelo mesmo processo em relação ao mais básico e prioritário dos objetos em questão, ou seja, o veículo das mesmas conjeturas, o produto de estes três anos de formação de terceiro ciclo: a tese de doutoramento. Esta é precisamente uma pesquisa, uma investigação de carácter experimental, original e inédita, confrontada meticulosamente com capacidades e técnicas capazes de controlar o seu processo. Não constitui uma prática de deificação de verdade dogmática, não tem validade universal, não revela a soma absoluta do saber. Pelo contrário, quer gostemos quer não, a investigação, como atividade, é de natureza duplamente parcial: epistemológica e temporal. Por sua vez, derivado de visões anteriores e baseado em inúmeros estudos, é um segmento do saber com uma certa legitimidade, transmissível entre pensadores e operadores da comunidade científica. Ao mesmo tempo, não tem validade cronológica ilimitada e não constitui uma meta invejada, mas sim um ponto de partida para futuras pesquisas académicas, próprias e de outrem, para um avanço disciplinar contínuo. É também importante precisar que o objeto de estudo não é produto de um capricho, e a investigação que dele resulta não constitui um exercício ocioso. Persiste, no entanto, a convicção de que é necessário que sejamos comedidos, mantendo-nos o mais possível dentro do nosso campo disciplinar específico, agora cada vez mais adulterado por desvios e fascinações sócio-antropológicas, com as condições da contemporaneidade na esfera de um realismo saudável. Objeto da pesquisa O objeto desta pesquisa é, portanto, aquela paisagem moderna dos segmentos costeiros do sul da Europa feita de geografia e de objets trouves, formas e materiais comuns, arquiteturas ainda “não acreditadas”, resultantes de práticas não muito claras – traços de cidades informais litorais, produtos de auto-construção, ilegalidades, e ambiguidade normativa – que têm normalmente origem, necessidade, sentido e uso autónomos, relativamente a eventuais leituras formais e convencionais, mas que podem interessar bastante a quem se ocupa do território contemporâneo antrópico. Quer se queira quer não, estes manufatos, pela presença cénica por vezes tão imponente e violenta, outras vezes insignificante e camuflada, representam uma quota consistente da paisagem contemporânea e das ocasiões profissionais de nós arquitetos, cada vez mais forçados a manipular, com o olhar e com as nossas obras, a transformar e a corrigir este tipo de situações complexas, em vez de enriquecer os nossos territórios com nova edificação. Só os edifícios abusivos em Itália chegam aos 17%, enquanto que a percentagem aumenta entre os 30% e os 40% se considerarmos as construções que persistem ao longo da costa; a vizinha Grécia evidencia práticas semelhantes; se considerarmos também os edifícios autorizados do ponto de vista normativo, mas nunca ‘dirigidos’ a quem os observa, é óbvio que falamos pelo menos de metade daquilo que há anos temos constantemente debaixo dos olhos. Um fenómeno de quantidades e dimensões tais que é legítimo, por um lado, reconhecer que o atual sistema positivista normativo é, resumidamente, bastante ineficaz, e, por outro, falar de situações inadiáveis, e não de dissertação teorética gratuita. Talvez tenhamos realmente passado um ponto sem retorno. É possível conjeturar a demolição de quilómetros e quilómetros de construção ao longo da costa? Como reutilizar e armazenar os milhares de restos de metros cúbicos de materiais de construção civil não recicláveis? É economicamente sustentável? É dialeticamente correto? É culturalmente sincrónico? Cada empreendimento demiúrgico, adequado a reimplantar uma hipotética idade de ouro ou o sublimado “ponto zero” do estado natural das coisas, arrisca a parecer mais arrogante e insensato – mesmo que não seja considerado assim pelo senso comum – que uma humilde e realista tentativa de reconhecer certas formas que adornam o território honestamente rejeitado na consciência da autonomia disciplinar e dos limites – dentro dos quais a nossa investigação pode definir-se, de um certo modo, como científica – das nossas competências de estudiosos de arquitetura, que não se confundem com as nossas aspirações vagas de cidadãos e utentes sociais. Trata-se, na verdade, de abandonar por um momento os impulsos políticos e sociológicos e a prática da “reportagem da degradação” – muito em voga hoje – para se limitar, e não se trata de limites, pelo contrário, a investigar, na qualidade de arquiteto, a forma, e compreender até que ponto, objetos e linguagem, não considerados áulicos e sem acreditação, possam constituir, pelo contrário, materiais de construção de interesse. Exatamente como outros, não só no campo arquitetónico, têm repetidamente tentado, ao longo da história, uma cultura nova de partilha. O significado de acreditação A tese de doutoramento entende, portanto, propor uma leitura da paisagem contemporânea, olhando a dinâmica da acreditação como o principal instrumento de reavaliação de alguns objetos e segmentos costeiros da nossa área geográfico-cultural, a fim de enfrentar mais adequadamente a complexidade da gestão de território. A pesquisa explora, portanto, algumas técnicas compositivas para a acreditação, ou seja, contextualiza o objeto, ou o conjunto de objetos, em novos e variados possíveis sistemas de relações funcionais da construção da paisagem, do espaço coletivo, da forma e da contemporaneidade. A acreditação de um objeto está ligada a características intrínsecas e extrínsecas ao mesmo. Esta reside seguramente em atributos formais – forma, dimensões, escala, relação com a paisagem, materiais utilizados – mas sobretudo, amaldiçoando um estéril e perigoso elenco numérico das qualidades a registar, evitando a redução da arquitetura a sistemas meramente quantitativos, em características extrínsecas ao próprio objeto. Em primeiro lugar, a capacidade de criação – aliás, compositiva - que descreve o objeto a ser acreditado, a partir da operação de lançar um olhar sobre este, que é já projeto, transformando-o e tornando evidente com a produção de uma forma (seja ela uma fotografia, uma colagem, um desenho, um poema, uma composição musical) esta transformação. Uma transformação que consiste sobretudo na ativação de novas relações entre o objeto e outros elementos e layers do território, sejam estes materiais ou imateriais. Método e resultados esperados A acumulação de fragmentos da contemporaneidade sobre a forma de um ábaco de elementos de um vocabulário possível, a abstração das formas que adornam a nossa geografia, o confronto sistemático entre “objetos encontrados”, esquecimento de hoje, e casos do passado pelos quais existe uma clara e universal atribuição de qualidade, o desnivelamento de um diálogo organizado entre elementos de pontuação, geneticamente heterogéneos, de diversas frentes costeiras, pode constituir um exercício saudável de observação para poder superar o paradigma do pitoresco e da lente da retórica, principais limites da pesquisa de onde é sempre difícil libertar-se. Desta forma, os investigadores, estudiosos, e administradores que colocarem as lentes dadas por esta pesquisa, e através das quais observarem a paisagem, poderão dialogar, debater e criar avanços disciplinares significativos no sentido de compreender as formas do território, concentrando-se nos mecanismos de reconhecimento e acreditação dos elementos que contribuem para a definição da paisagem contemporânea. A utilidade da dissertação é modernizar e atualizar o paradigma em vez de forçar a realidade a uma evolução improvável de “regresso ao futuro”, para constituir uma base disciplinar, seja para elaborar cenários possíveis, seja para estruturar sistemas de avaliação de propostas de criação, seja para uma articulação normativa territorial de nova geração para áreas distintas.
- Addressing urban outdoor thermal comfort thresholds through public space designPublication . Nouri, Andre Naghi Lopes dos Santos; Costa, João Pedro de Abreu; Matzarakis, Andreas, coorientadorNa cidade contemporânea, factores como as elevadas temperaturas e a intensidade dos efeitos da ilha de calor em meio urbano, têm vindo a revelar proeminente desconforto térmico e importantes preocupações com a saúde durante os períodos anuais de maior estímulo térmico. Para além destes riscos já existentes e inerentes ao clima urbano, as projecções das alterações climáticas apontam para uma exacerbação destes factores de risco ao longo do Séc. XXI. Muito embora as avaliações e outputs top-down tenham revelado informação de carácter imperativo relativamente a tais fenómenos, a emergência da agenda de adaptação às alterações climáticas veio também incentivar a comunidade científica internacional a maturar e a desenvolver abordagens bottom-up mais incisivas, com vista a fazer frente aos factores de risco locais. Assim sendo, a perspectiva de "localidade" tem vindo a ganhar um novo significado para disciplinas como o urbanismo e o design urbano, quando confrontados com aspectos como a segurança, o conforto térmico humano e a prosperidade do meio urbano contemporâneo. Todavia e, atendendo ao seu carácter emergente, as abordagens bottom-up ainda se encontram numa fase inicial e, consequentemente, relativamente limitadas, tendo em conta a distância existente entre a teoria e a aplicação prática. Como resposta, esta tese efectua uma abordagem bottom-up e uma reflexão acerca do modo como a união entre a climatologia urbana e o design do espaço público urbano, enquanto campos distintos, pode ser fortalecida. Tal fortalecimento visa investigar de forma directa sobre a possibilidade de "localmente", o conforto térmico humano em meio urbano exterior, ser melhorado através de práticas interdisciplinares apoiadas no conhecimento científico. Tendo em consideração o caso de Lisboa, esta investigação analisa a forma como esta abordagem pode suplantar questões como a incerteza climática/aplicacional e, consequentemente: (i) traduzir-se em linhas de orientação para o urbanismo e para o design urbano local, que poderão ser aplicadas/implementadas em múltiplas circunstâncias e contextos urbanos; visando ainda, (ii) auxiliar especialistas "não-climatólogos" a realizar levantamentos bioclimáticos (baseados em dados locais e/ou na informação obtida a partir da estação meteorológica) com o intuito de determinar/atenuar os factores de risco de stress associados ao calor e ao frio num determinado contexto exterior. Consequentemente e, focado numa abordagem bottom-up que para além disso considera outputs relevantes a partir de avaliações top-down, o design do espaço público é retratado como sendo uma ferramenta indispensável, com vista a assegurar "localmente" um meio urbano activo, confortável e seguro, tanto no presente, quanto num futuro que se afigura incerto.