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Last hunter-gatherers in Eurasia : a comparative approach to shell midden site structure and function between Atlantic Europe and Japan

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Abstract(s)

The construction of shell middens is a common characteristic of several of the last hunter-gatherer groups of Holocene Eurasia that occupied diverse environments, usually with significant aquatic components. In particular, numerous shell middens have been found in the archaeological record of the Late Mesolithic in Atlantic Europe and the Jomon period in the Japanese archipelago, notably the period from the end of the 9th millennium cal BP to the end of the 4th millennium cal BP (Middle and early Late Holocene). However, despite the long history of research and the high quantity of available archaeological data on these sites, systematic comparative approaches to the shell midden phenomenon between these two regions have been lacking. Furthermore, shell middens have often attracted researchers because of the richness of their contents and their frequent funerary nature, while much less attention has been given to the formation, structure and overall function of the sites themselves. This thesis examines how shell middens were internally structured and used by Middle and early Late Holocene hunter-gatherer groups in Atlantic Europe and Japan, providing the first contribution to a transcultural comparative perspective on the shell midden phenomenon and their builders from these two extremities of Eurasia. It presents a review and analysis of available archaeological data and existing local and regional perspectives on shell midden site structure and function based on several Late Mesolithic and Jomon sites from Atlantic Europe and Japan. Case studies from Portugal, north-west France and western Japan (Okayama region) are further developed through different methodologies that comprise an analysis of the parameters of the archaeological sites, written and graphic documentation from past excavations and intra-site spatial distribution of material remains with a focus on lithic material. Structured comparisons between Atlantic Europe and Japan are established throughout the thesis and integrated into a broader discussion of shell midden research, the meaning of these accumulations and the characteristics of the Holocene hunter-gatherer societies that constructed and left them behind in the two regions.
A construção de concheiros – depósitos culturais caracterizados por acumulações antropogénicas e intencionais de conchas – é uma característica comum a vários grupos humanos que, em diferentes pontos do mundo, ocuparam ambientes diversificados, tendencialmente com componentes aquáticas relevantes (como costas marítimas, margens de estuários, rios e lagos) e condições propícias à recolha de quantidades significativas de moluscos. A Europa Atlântica e o Arquipélago Japonês, embora se situem em extremos opostos da Eurásia separados por uma longa distância geográfica e cultural, partilham o facto de se destacarem por um elevado número de concheiros conhecidos no registo arqueológico das últimas comunidades de caçadores-recolectores do Holocénico, particularmente em contextos culturais do Mesolítico final, na Europa, e do Jomon, no Japão, sobretudo aqueles que integram o período cronológico compreendido entre o final do 9º milénio cal BP e o final do 4º milénio cal BP (Holocénico Médio e Tardio inicial). As duas regiões encontram-se maioritariamente na zona temperada e sofreram importantes mudanças ambientais no período pós-glaciar decorrentes do aumento e progressiva estabilização posterior das temperaturas médias e do nível do mar verificados a nível global, designadamente, profundas alterações da flora (com a expansão das florestas temperadas), da fauna (com o desaparecimento ou migração da megafauna típica do Pleistocénico e a expansão de fauna de média ou grande dimensão, como o veado e javali) e das zonas costeiras (fenómenos de acelerada transgressão e posterior estabilização/regressão das linhas de costa). Fruto destas alterações, desenvolveram-se ecossistemas de grande produtividade, sobretudo em associação a ambientes protegidos de águas pouco profundas, entretanto formados, como baías e estuários, onde abundantes e diversificados recursos aquáticos e terrestres (animais e vegetais) passaram a estar disponíveis e mais facilmente acessíveis e previsíveis para as comunidades humanas. O aparecimento de concheiros, em maior número e dimensão, no registo arqueológico do Mesolítico Final da Europa Atlântica e do Jomon do Japão (sobretudo do período entre o final do Initial Jomon e o final do Late Jomon), tem sido genericamente associado ao desenvolvimento de uma exploração mais intensa de ambientes e recursos aquáticos por parte das comunidades de caçadores-recolectores nestas fases, relativamente a períodos anteriores. Esta tendência é também sugerida por vários outros indicadores, como os dados arqueozoológicos e de isotópos estáveis de esqueletos humanos provenientes de vários concheiros, que apontam para o desenvolvimento de dietas mais diversificadas e com uma integração significativa (ainda que variável) de recursos aquáticos, a existência (numerosa em várias regiões) de outros tipos de sítios litorais (sem concheiro), ou a identificação de um maior número de equipamentos diversificados de pesca e de evidências de transporte aquático nos contextos arqueológicos deste período. A formação dos concheiros holocénicos, sobretudo os de maior dimensão, tem sido também frequentemente relacionada com o desenvolvimento de estilos de vida mais sedentários e de maiores densidades populacionais entre as comunidades de caçadores-recolectores, características por sua vez associadas ao conceito de “caçadores-recolectores complexos” ou “afluentes” (Yesner et al., 1980; Koyama and Thomas, 1981; Price and Brown, 1985; Arnold, 1996; Rowley-Conwy, 2004). Os concheiros mesolíticos na Europa Atlântica e Jomon no Japão têm sido amplamente estudados desde o século XIX, existindo hoje uma abundante e diversificada informação arqueológica disponível sobre estes sítios. As influências da arqueologia ocidental na arqueologia japonesa em geral, bem como, especificamente, na investigação de concheiros, são, também, evidentes. Porém, não têm sido desenvolvidas abordagens comparativas detalhadas de concheiros entre a Europa e o Japão, por razões que se podem relacionar com a distância entre as duas regiões, as dificuldades de entendimento linguístico entre investigadores, a enorme heterogeneidade destes sítios, mesmo quando observados a partir de escalas micro-regionais, entre outros factores. Por outro lado, quer na Europa, quer no Japão, os concheiros têm atraído fortemente a atenção dos investigadores, principalmente, pela riqueza dos seus conteúdos arqueológicos, proporcionada pelo bom nível de preservação de material orgânico que habitualmente caracteriza estes sítios. Tal situação tem permitido, em ambas as regiões, o desenvolvimento de numerosas análises específicas direccionadas para o estudo do paleoambiente, paleoeconomia (sobretudo no que se refere às paleodietas) e cultura material. A frequente natureza funerária dos concheiros tem sido igualmente destacada, atestada pelo elevado e excepcional número de esqueletos humanos aí exumados. Porém, a formação, estrutura interna e funcionalidade geral destes sítios (para lá da actividade funerária) têm sido tópicos menos desenvolvidos pela investigação. Os concheiros têm sido, portanto, mais abordados como acumulações e repositórios de informação detalhada sobre aspectos ambientais, económicos e culturais vários, do que como sítios que, em si mesmos, terão tido significado, enquanto palco e parte de actividades humanas no passado. Tais actividades foram, em muitos casos, diversificadas dentro dos mesmos sítios e desenvolvidas de forma prolongada no tempo, por diferentes gerações. O estudo e o debate sobre esta vertente dos concheiros, menos explorada, torna-se, por isso, necessário, e a utilização de uma óptica comparativa transcultural tem o potencial de, entre outros aspectos, auxiliar processos de inferência e de interpretação do registo arqueológico, muitas vezes de difícil entendimento nestes contextos pré-históricos, e promover a crítica de conceitos vulgarmente utilizados. A presente dissertação constitui, assim, uma primeira abordagem comparativa e transcultural entre a Europa Atlântica e o Japão ao fenómeno dos concheiros e às sociedades que os originaram. Especificamente, procura analisar de que forma os concheiros foram internamente estruturados e utilizados pelos grupos de caçadores-recolectores do Holocénico Médio e Tardio inicial nas duas regiões – Mesolíticos e Jomon - utilizando diferentes escalas e focando-se nas temáticas da organização espacial interna (site structure) e funcionalidade dos sítios (site function). Procura-se, através da examinação detalhada da diversidade do registo arqueológico, discutir algumas ideias pré-concebidas dos concheiros enquanto acumulações necessariamente caóticas, sem qualquer tipo de organização discernível, com propósitos limitados à acumulação de detritos e, quando aplicável, à actividade funerária, bem como classificações funcionais pouco fundamentadas. Nesse sentido, é apresentada uma revisão e análise dos dados arqueológicos disponíveis e perspectivas até agora defendidas no que toca à organização espacial interna e funcionalidade dos concheiros, tendo por base a bibliografia existente sobre vários sítios com ocupação no Mesolítico final na Europa Atlântica e Jomon no Japão. São também desenvolvidos, em maior detalhe, casos de estudo de Portugal, noroeste de França e Japão ocidental (região de Okayama), utilizando diferentes metodologias. No que toca aos grupos de concheiros destas regiões, procede-se ao levantamento e sistematização de dados relativos a aspectos físicos, conteúdos arqueológicos e características funcionais (actividades) documentadas através do registo arqueológico. Posteriormente, são seleccionados e classificados parâmetros quantitativos e qualitativos, procedendo-se à análise regional e inter-regional das principais tendências dos grupos de sítios. Relativamente a alguns dos concheiros do vale do Sado (Portugal), do noroeste de França e de Okayama, no Japão, apresentam-se análises de documentação escrita e gráfica de escavações realizadas no passado, em vários casos, na primeira metade e inícios da segunda metade do século XX, com enfoque nas características e distribuição espacial dos principais elementos que constituem estes sítios (depósitos, estruturas e materiais arqueológicos). São também apresentadas análises espaciais de materiais arqueológicos, nomeadamente de materiais líticos, provenientes das escavações mais recentemente realizadas, no século XXI, nos concheiros de Poças de São Bento (Vale do Sado, Portugal), Beg-er-Vil (Bretanha, França) e Hikozaki (Okayama, Japão). A análise do material lítico, abundante nestes três sítios, incide maioritariamente sobre material em pedra lascada e combina dados resultantes do seu estudo tecno-tipológico e a abundante informação contextual e espacial disponível, resultante da aplicação de protocolos de trabalho de escavação e de pós-escavação de grande detalhe. Ao longo da dissertação, são estabelecidas comparações sistemáticas entre dados arqueológicos da Europa Atlântica e Japão, destacando semelhanças e diferenças, as quais são integradas numa discussão final mais alargada sobre os problemas e perspectivas em comum relativas às metodologias de investigação dos concheiros (nomeadamente no que toca à sua escavação), o funcionamento e significado destas acumulações e as características das sociedades caçadoras-recolectoras holocénicas que as construíram e deixaram em ambas as regiões, em especial, no que toca à sua relação com os meios e recursos aquáticos e à sua complexidade social.

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