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Medir o tempo : um estudo sobre os padrões duracionais em português europeu nos primeiros três anos de idade

datacite.subject.fosHumanidades::Línguas e Literaturaspt_PT
dc.contributor.advisorFrota, Sónia Marise de Campos
dc.contributor.authorMatos, Nuno Edgar Louro de
dc.date.accessioned2022-10-13T13:48:56Z
dc.date.available2022-10-13T13:48:56Z
dc.date.issued2021-12-20
dc.date.submitted2021-09-14
dc.description.abstractO presente trabalho pretende contribuir para uma descrição detalhada da emergência e desenvolvimento da estrutura prosódica, através da análise do comportamento dos padrões de duração em Português Europeu, desde as primeiras palavras até aos três anos de idade, comparando o discurso da criança (Child Speech - CS) com o discurso dirigido à criança (Child Directed Speech – CDS). A caracterização do desenvolvimento dos padrões de duração é discutida na sua relação com outros aspetos do desenvolvimento linguístico (sintático e lexical) e com as propriedades do input. Em linha com trabalhos anteriormente desenvolvidos (Frota & Matos, 2009 e Matos, 2010) e dado o pouco conhecimento sobre o desenvolvimento dos padrões de duração numa perspetiva prosódica, traçaram-se os seguintes objetivos, que foram abordados em duas das três partes que constituem este trabalho: Parte I, discurso da criança – i) estender a amostra considerada em Matos (2010), observando os dados de três crianças entre os 1;00 e os 3;00 anos de idade (das primeiras palavras à produção de frases multipalavras e à presença de um léxico vasto e variado); ii) contribuir para o conhecimento da emergência da estrutura prosódica na produção; iii) contribuir para o debate acerca do peso relativo de fatores biológicos e da língua nativa no desenvolvimento dos padrões temporais, aferindo semelhanças e diferenças entre línguas; Parte II, discurso dirigido à criança – iv) descrever o CDS do Português Europeu, em termos duracionais, e caracterizar a sua eventual transformação em função da idade da criança; v) aferir semelhanças e diferenças nos padrões de duração entre as produções das três crianças analisadas e o CDS a que estão expostas; por fim, vi) compreender a influência do CDS na emergência da estrutura prosódica. Recorreu-se a três bases de dados de onde se extraíram as produções de três crianças e dos respetivos cuidadores – LumaLiDaAudy (Laboratório de Fonética/Lisbon Bay Lab – CLUL/FLUL), LumaLiDaVideo (Correia, 2008) e The PhonBank – CHILDES (Correia, Costa & Freitas, 2013). Todas as crianças são falantes nativas de Português Europeu e os registos foram gravados em situação naturalista, tendo sido foneticamente transcritos. Analisou-se uma secção dos dados existentes em cada base de dados, de forma a cobrir aproximadamente os mesmos períodos nas três crianças analisadas. Assim, analisaram-se os períodos referentes aos 1;01, 1;04, 1;06, 1;08/1;09, 1;10, 2;00, 2;02, 2;03/2;04, 2;06, 2;08/2;10 e 3;00 anos idade. Através do software PHON, segmentaram-se os primeiros 50 enunciados válidos (sequências com significado e acusticamente analisáveis; relação fonética com a palavra do adulto; uso adequado em contexto; e consistência no uso e interação discursiva), tendo sido a sua análise acústica realizada através do software PRAAT, onde se criou um conjunto de 5 fiadas, duas delas de auxílio à transcrição, e as restantes três obedecendo à estrutura da hierarquia prosódica – Sílaba, Palavra Prosódica, Enunciado, Ortografia e Notas. Em termos gerais, a direccionalidade do comportamento do CS revelou uma tendência de aproximação ao comportamento duracional do CDS, por outro lado os padrões temporais do CS mostram uma descontinuidade, pois a sua evolução pode ser descrita no sentido da convergência com os padrões duracionais do CDS. Os resultados das correlações entre a duração de um determinado domínio prosódico e o domínio prosódico superior em que estas se inserem, ou seja, a influência que o número de unidades de um determinado domínio prosódico exerce na duração desse domínio, revelou um processo de desenvolvimento prosódico em dois momentos. O primeiro momento está relacionado com a duração da sílaba e o número de sílabas na palavra, e é coincidente com o momento em que o tamanho de palavra é igual ou superior a 1,5 sílabas (Wsize > 1,5). Este ponto no desenvolvimento revela a separação dos domínios prosódicos sílaba e palavra (Sil ≠ PW), como proposto em Frota et al. (2016). O segundo momento do desenvolvimento dos padrões de duração está relacionado com a duração da sílaba e o número de sílabas no enunciado e é coincidente com a emergência de enunciados de mais uma palavra (MLUw >1,5). Este ponto de desenvolvimento revela a separação dos domínios palavra e enunciado (Sil ≠ PW ≠ E). A evolução observada no segundo momento do desenvolvimento duracional aproxima-se do padrão observado para o CDS, que se caracteriza por uma homogeneidade dos padrões duracionais. A comparação entre a duração silábica por posição na palavra prosódica (inicial (1), medial (2), final (3) e monossílabos (5)), tanto nos dados do CS como nos dados do CDS, não revelou um efeito estatisticamente significativo das diferentes posições na duração da sílaba e também não revelou nenhum padrão na evolução das médias duracionais. Por outro lado, o mesmo tipo de análise para a posição no enunciado revelou, nos dados da criança, uma evolução nos padrões de duração em dois momentos. O primeiro momento é caracterizado por uma homogeneidade no valor duracional da sílaba; o segundo momento, já coincidente com os dados observados para o CDS, é caracterizado pela evidência de diferenças estatísticas entre as sílabas em posição inicial e medial em relação às sílabas em posição final e aos monossílabos, tendo estas últimas durações superiores. Estas diferenças duracionais, que nos dados das crianças precedem a emergência da Sintaxe ou combinação de palavras (MLUw >1,5), estão relacionadas com a emergência de alongamento silábico final (ASF). Observou-se, também, o efeito do acento na duração da sílaba, considerando as médias duracionais da posição no enunciado das sílabas átonas e tónicas (inicial (1), medial (2), final (3) e monossílabos (5)). Os resultados obtidos para o CS mostram, num primeiro momento, que as diferenças duracionais estabelecidas entre sílabas acentuadas e não acentuadas estão relacionadas com a posição da sílaba no enunciado, não havendo um efeito robusto da tipologia acentual. A partir dos 1;08 anos de idade, nas três crianças, assiste-se a uma evolução no comportamento duracional do CS, cujos resultados se aproximam do descrito para o CDS, onde é evidenciado um padrão robusto nos contrastes estabelecidos por tipologia acentual, independentemente da posição no enunciado. A par disso, assiste-se a uma generalização do efeito da posição, através da separação entre sílabas em posição inicial e medial em relação às sílabas em posição final e aos monossílabos. Uma vez mais, a evolução dos padrões duracionais do CS e as características duracionais do CDS são convergentes com os resultados disponíveis para o ADS em Português Europeu, onde é descrita uma relação entre a duração silábica e a tipologia acentual, com o aumento da duração das sílabas tónicas em relação às sílabas átonas, bem como o efeito do ASF. Por fim, a evolução global da duração silábica mostrou diferenças de comportamento entre o CS e o CDS. O comportamento das durações silábicas do CS mostrou uma evolução em direção ao CDS. Já o comportamento observado no CDS, uma vez mais, revelou uma homogeneidade e estabilidade duracional. As diferenças dos padrões duracionais observados no CS e a sua evolução em direção ao comportamento descrito para o CDS salientam a importância do input no desenvolvimento prosódico e duracional das produções da criança. Importantemente, o CDS não evolui em função da idade da criança; é o CS que evolui no sentido do CDS e do ADS. Os resultados do CS revelam dois momentos na reorganização das padrões de duração, que marcam a distinção entre estádios do desenvolvimento, salientando a importância na exposição ao input e ao processo de aquisição da língua. Por outro lado, a separação que decorre dos processos de evolução temporal de palavra prosódica e de enunciado; a emergência de ASF; a redução das sílabas em posição inicial e medial de enunciado; e o padrão global de evolução da duração silábica, concorrem para a evidência do peso da língua nativa na aquisição linguística. A observação do desenvolvimento da criança aponta para a tese da descontinuidade do desenvolvimento, geralmente suportada pelo desenvolvimento fisiológico, em articulação com fatores neurológicos e ambientais. A reorganização dos padrões temporais, que dá evidências para a separação dos diferentes níveis da hierarquia prosódica, visível nos resultados do CS, vem confirmar a Hipótese Harmónica do Desenvolvimento da Estrutura Prosódica (Unfolding Hypothesis), desenvolvida em Frota et al. (2016).pt_PT
dc.description.abstractThe present work aims at contributing to a detailed description of the emergence and development of prosodic structure, through the analysis of duration patterns in European Portuguese, from the first words to three years of age, comparing Child Speech (CS) with Child- Directed Speech (CDS). The development of duration patterns is discussed in relation to other aspects of linguistic development (namely, word combinations and lexical development) and to the properties of the input. Building on previous work (Frota & Matos, 2009 and Matos, 2010), and given the yet little knowledge about the development of duration patterns in a prosodic perspective, the following objectives were outlined: Part I, Child Speech– i) to extend the sample considered in Matos (2010), observing data from three children between 1;00 and 3;00 years of age (from the first words to the production of multiword sentences and the presence of a broad and varied lexicon); ii) to contribute to the knowledge of the emergence of prosodic structure in production; iii) to contribute to the debate about the relative weight of biological factors and the native language in the development of temporal patterns, assessing similarities and differences between languages; Part II, Child- Directed Speech – iv) to describe the CDS of European Portuguese, in terms of duration, and characterize its possible change as a function of the child's age; v) to assess similarities and differences in the patterns of duration between the productions of the three children analyzed and the CDS which they are exposed to; finally, vi) to understand the influence of CDS in the emergence of prosodic structure. Three databases were used for the extraction of the productions of three children and their parents – LumaLiDaAudy (Phonetics Laboratory/Lisbon Bay Lab – CLUL/FLUL), LumaLiDaVideo (Correia, 2008) and The PhonBank – CHILDES (Correia, Costa & Freitas, 2013). All children are native speakers of European Portuguese, and all the data were recorded in a naturalistic situation, having been phonetically transcribed. A section of the existing data in the databases was analyzed to cover similar time periods in the three children: 1;01, 1;04, 1;06, 1;08/ 1;09, 1;10, 2;00, 2;02, 2;03/2;04, 2;06, 2;08/2;10 and 3;00. The first 50 valid utterances (i.e., acoustically and meaning wise analyzable sequences, with a phonetic relationship with the adult's word, appropriate use in context, and consistency in use and discursive interaction) were segmented using the PHON software, and their acoustic analysis was performed through the PRAAT software, where a set of 5 tiers was created, two of them to aid transcription, and three following the structure of the prosodic hierarchy – Syllable, Prosodic Word, Utterance, Orthography and Notes. Overall, the CS duration patterns revealed a tendency towards the CDS duration patterns, converging with the latter. On the other hand, the CS durations patterns show a discontinuity, as its evolution can be described towards convergence with the CDS duration patterns. The results of the correlations between the duration of a given prosodic domain and the higher prosodic domain it belongs to revealed a prosodic development process in two moments. The first moment is characterized by the relation between the length of the syllable and the number of syllables in the word, and coincides in time with the production of a word length equal to or greater than 1.5 syllables (Wsize > 1.5). This point in development reveals the separation of the syllable and word prosodic domains (Sil ≠ PW), as proposed in Frota et al. (2016). The second moment in the development of duration patterns is characterized by the relation between the duration of the syllable and the number of syllables in the utterance, and coincides in time with the emergence of utterances of more than one word (MLUw > 1.5). This point in development reveals the separation of the word and utterance domains (Sil ≠ PW ≠ E). The development observed in the second moment matches the pattern observed for CDS, which is characterized by a homogeneity of duration patterns. The comparison among syllable durations by position in the prosodic word (initial (1), medial (2), final (3) and monosyllables (5)), both in the CS data and in the CDS data, did not reveal a statistically significant effect of position on syllable duration, or any pattern in the evolution of duration means. By contrast, the same type of analysis carried out for position in the utterance revealed, in the child's data, a development in the patterns of duration coinciding with two moments. The first moment is characterized by a homogeneity in syllable duration; the second moment, which matches the data observed for the CDS, is characterized by statistical differences between syllables in initial and medial position relative to syllables in final position and to monosyllables, with longer durations in the latter cases. These durational differences, which in children's data precede the emergence of Syntax or word combinations (MLUw >1.5), are related to the emergence of final syllable lengthening (FSL). The effect of stress on the duration of the syllable, considering unstressed and stressed syllables, as well as their position in the utterance (initial (1), medial (2), final (3) and monosyllables (5)) was also observed. The results obtained for CS show, at first, that the duration differences between stressed and non-stressed syllables are related to the position of the syllable in the utterance, with no robust effect of the stress condition. From the age of 1;08 years onwards, there is a development in the CS duration patterns, that become similar to those described for CDS, where a robust pattern is found in the contrasts established by stress condition, independently of the position in the utterance. In addition, there is a generalization of the effect of position in CS, through the separation between syllables in initial and medial position on the one hand, and syllables in final position and monosyllables on the other. Once again, the deleopment of duration patterns in CS, and the duration features of CDS converge with the results available for the ADS in European Portuguese, where a relationship between syllable duration and the stress condition is described, with the increased duration of stressed syllables relative to unstressed syllables, and where the effect of ASF is found. Finally, the global development of syllable duration showed differences between CS and CDS. In CS, syllable durations showed an evolution towards CDS. In CDS, a homogeneity and duration stability was found. The differences in the duration patterns observed in CS along development and their change towards the patterns that characterize CDS highlight the importance of the input in the prosodic and duration development of the child's productions. Crucially, CDS was found not to change as a function of the child’s age; it is the child’s speech that develops toward the patterns of CDS and ADS. The CS results reveal two moments in the reorganization of duration patterns, which mark the distinction between stages of development, highlighting the importance of exposure to input and the language acquisition process. On the other hand, the separation that arises from the processes of temporal evolution of prosodic word and utterance; the emergence of FSL; the reduction of syllables in the initial and medial position of the utterance; and the global pattern of evolution of the syllabic duration, contribute to the evidence of the weight of the native language in linguistic acquisition. The observation of child development points to the thesis of discontinuity of development, generally supported by physiological development, in conjunction with neurological and environmental factors. The reorganization of temporal patterns, which provides additional evidence for the separation of the different levels of the prosodic hierarchy, found in the CS results, supports the Unfolding Hypothesis (HHDEP) developed in Frota et al. (2016).pt_PT
dc.identifier.tid101566603pt_PT
dc.identifier.urihttp://hdl.handle.net/10451/54763
dc.language.isoporpt_PT
dc.relationSRFH/BD/82710/2011pt_PT
dc.subjectLíngua portuguesa - Prosódia (Linguística)
dc.subjectLíngua portuguesa - Aquisição linguística
dc.subjectAquisição da linguagem
dc.subjectTeses de doutoramento - 2021
dc.titleMedir o tempo : um estudo sobre os padrões duracionais em português europeu nos primeiros três anos de idadept_PT
dc.typedoctoral thesis
dspace.entity.typePublication
rcaap.rightsopenAccesspt_PT
rcaap.typedoctoralThesispt_PT
thesis.degree.nameDoutoramento em Linguísticapt_PT

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