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Research Project
ChangingMoods: Ecological role of unsophisticated cognition within cleaning mutualisms in a changing ocean
Funder
Authors
Publications
The hidden burden of sociality : effects of simulated infections on social distancing within cleaning interactions
Publication . Marquês, Tânia Raquel dos Santos; Paula, José Ricardo Maceiras de; Repolho, Tiago Filipe Baptista da Rosa
A vida em sociedade acarreta um conjunto de benefícios mas também de custos,
nomeadamente pela forma como facilita a transmissão de doenças, o que justifica a necessidade
de analisar esta problemática. As espécies sociais são aquelas que formam associações frequentes
com outros indivíduos, equilibrando as pressões do ambiente que atuam a nível cognitivo e
influenciam o seu comportamento. Quanto às diferentes formas de interação social, estas podem
ser classificadas como comensalismo, amensalismo, parasitismo e mutualismo, sendo que esta
última interação se reveste de uma relevância social significativa pela forma como beneficia
ambos os intervenientes, tal como acontece no mutualismo de limpeza em que o bodião limpador
obtém alimento ao remover ectoparasitas e outros elementos prejudiciais ao cliente. Sendo a
condição dos indivíduos influenciada pela vida em sociedade, será a complexidade deste modo
de vida a poder contribuir para uma mais elevada capacidade cognitiva. No entanto, e dado que
no decorrer das interações sociais que são criadas oportunidades para a transmissão de doenças,
torna-se fundamental reconhecer os indivíduos que se encontram doentes, permitindo a adoção
de estratégias que controlem a transmissão de doenças. O comportamento de doença inclui
diversas alterações em relação ao comportamento habitual dos indivíduos, como a letargia,
sonolência e anorexia, e é esse conjunto de alterações comportamentais que poderá tornar possível
o reconhecimento dos indivíduos que se encontram doentes. De entre as medidas que permitem
controlar a transmissão de doenças, e como a recente pandemia veio demonstrar, o distanciamento
social é uma estratégia simples e com elevada eficácia para controlar a disseminação de doenças,
existindo inúmeros registos de como o distanciamento social é aplicado em outras espécies que
não a dos seres humanos. O bodião limpador Labroides dimidiatus incorre num elevado número
de interações diárias e, apesar da preferência por muco, opta por remover e se alimentar de
ectoparasitas e tecidos não viáveis dos clientes, revelando uma capacidade cognitiva e
complexidade comportamental que o tornaram numa espécie amplamente utilizada em estudos
ecológicos e comportamentais. Surgiu também recentemente a perspetiva de os peixes limpadores
poderem constituir vetores para a transmissão de doenças, em resultado do elevado número de
interações diárias que efetuam. Através da sintomatologia que induz, o LPS permite o estudo do
comportamento de doença. Deste modo e por intermédio da estimulação imunitária induzida em
peixes limpadores, o objetivo desta dissertação foi avaliar se os peixes limpadores e seus clientes
manifestavam estratégias de distanciamento social, com recurso a três teste comportamentais: o
teste de preferência social, o teste de interação social e o teste de cooperação com audiência.
A nível experimental, foram utilizados como modelos biológicos os peixes limpadores
da espécie Labroides dimidiatus (n=23) e peixes clientes da espécie Acanthurus leucosternon
(n=3), sendo que os limpadores foram mantidos em tanques individuais, e foram divididos em 2
grupos experimentais de 11 indivíduos, o de teste e o controlo (o restante limpador foi utilizado
em testes intraespecíficos). A imunoestimulação foi realizada através da injeção intraperitoneal
de LPS, com os elementos do grupo de controlo a serem injetados com PBS (Phosphate-buffered
saline), e após a realização de todos os procedimentos experimentais, os indivíduos foram
sacrificados com MS (Morphine sulfate) e foi removido o baço para calcular o SSI (spleen
somatic-index) e validar a ativação do sistema imunitário. Para o teste de preferência social, os
indivíduos foram colocados na zona central de um tanque com 3 divisórias, sendo que nas câmaras
laterais eram colocados os estímulos (cliente versus NO (Novel non-social object) e limpador
versus NO). Após o período de aclimatação foram efetuadas as gravações de vídeo, sendo
posteriormente analisadas com recurso ao software ANY-Maze (Stoelting Europe, Ireland). No
teste de interação social os limpadores foram colocados num tanque com um cliente, e após o
período de aclimatação foi permitida a interação. As gravações de vídeo das interações foram posteriormente analisadas com recurso ao software Boris. Para determinar o possível ajuste do
comportamento alimentar os limpadores foram submetidos ao teste do efeito do observador, em
que após a fase de aprendizagem lhe eram apresentadas 2 placas (uma delas a representar o
observador) e onde deveriam maximizar os seus ganhos alimentando-se contra a sua preferência,
para posterior cálculo do bystander score. Todos os dados obtidos foram posteriormente
utilizados para análise estatística em R.
Em termos de SSI, os limpadores injetados com LPS apresentaram valores mais elevados
que os do grupo de controlo. Relativamente ao teste de preferência social, os limpadores
imunoestimulados apresentaram níveis reduzidos de atividade, quer para a distância total
percorrida quer para a velocidade média, em ambas as situações (cliente versus NO e limpador
versus NO). No entanto não houve diferenças significativas no tempo passado na proximidade de
qualquer dos estímulos. Quanto às interações, e ainda que os clientes continuassem com
comportamentos que demonstram a sua disponibilidade para interagir, os limpadores injetados
com LPS tiveram significativamente menos interações que os do grupo de controlo. Através da
análise do bystander score foi possível depreender que, enquanto os indivíduos do grupo de
controlo mostraram ser capazes de ajustar o seu comportamento alimentar na presença de
audiência, aqueles que tinham sido estimulados imunitariamente não ajustaram o seu
comportamento.
A ativação do sistema imunitário através a injeção com LPS foi validada com base no
cálculo do SSI. No entanto, a forma como tal ativação se traduz em alterações comportamentais
não é completamente conhecida, tendo sido demonstrado anteriormente que existem diversos
fatores, como o género e estatuto social, que influenciam os ajustes comportamentais e que
ocorrem em contexto de doença. Os resultados do teste de preferência social permitiram inferir
que não ocorreu preferência social, mas que também não ocorreu distanciamento social em
relação a qualquer dos estímulos. Considerando a importância do contexto social no
comportamento, assim como do tipo de relações estabelecidas, surge a possibilidade de os
comportamentos de doença terem sido suprimidos no sentido de evitar a perda dos benefícios da
vida social. Dadas as diferenças nos níveis de atividade, que foram inferiores nos indivíduos
injetados com LPS, é possível assumir que a letargia manifestada, que se inclui no comportamento
de doença, conduz a um auto isolamento passivo, o qual funciona no sentido de diminuir a
transmissão de doenças. Quanto às interações entre limpadores e clientes, observou-se uma
diferença significativa no seu número, com os limpadores injetados com LPS a interagirem
menos, ainda que os clientes continuassem a mostrar disponibilidade para interagir. Torna-se
necessário considerar a capacidade que os limpadores têm de considerar interações prévias para
decidir como ajustar o seu comportamento e as contingências associadas ao contexto, sendo lícito
considerar a capacidade de aprendizagem desta espécie para justificar o número reduzido de
interações. Em termos da capacidade de ajustar o seu comportamento na presença de uma
audiência, os limpadores injetados com LPS, contrariamente aos do grupo de controlo, não foram
capazes de ajustar o seu comportamento alimentar. Até que ponto estes resultados resultam do
comportamento de doença induzido ou resultam de outros fatores previamente identificados e
passíveis de influenciar o seu comportamento, como as características específicas do seu habitat,
é de alguma forma incerto. Em resumo, e ainda que não tenham havido indícios efetivos de que
quer os limpadores quer os clientes manifestem distanciamento social, e tendo sido validada a
ativação do sistema imunitário, a letargia e o número reduzido de interações poderão ser
considerados como mecanismos que indiretamente promovem o distanciamento social dos
limpadores em contexto de doença.
Using supervised machine learning to quantify cleaning behaviour
Publication . Oliveira, Raúl Afonso Castelhano de; Paula, José Ricardo; Garcia, Nuno Cruz
Os bodiões-limpadores (Labroides dimidiatus) são conhecidos pela sua função de
limpeza nos recifes de coral, onde inspecionam e interagem com peixes clientes, onde
removem e alimentam-se de ectoparasitas. Estes peixes limpadores chegam a interagir
com mais de 2000 clientes por dia, e algumas clientes procuram os limpadores até 145
vezes por dia. O comportamento de limpeza abrange uma variedade de atividades,
incluindo mordidas de limpeza, sacudidelas por parte no cliente, estimulação tátil,
perseguição por parte do cliente, danças publicitárias do limpador, punição e
manipulação. Estas atividades refletem a motivação de limpeza e a qualidade da
interação. O Labroides dimidiatus, um bodião limpador do Indo-Pacífico, é uma das
espécies de peixes limpadores mais estudadas no que toca a interações aquáticas
mutualísticas. Este peixe serve como modelo para a investigação sobre o
desenvolvimento da cooperação interespecífica, visto ser um peixe essencial para o
funcionamento dos sistemas de recife de coral.
As análises destas interações interespecíficas têm sido tradicionalmente realizadas
processando manualmente gravações de vídeo. No entanto, este método é demorado e
pode não ser confiável devido à variação entre observadores e à fadiga devido às longas
horas analisando gravações de vídeos, portanto, alguns jornais exigem uma análise de
interobservadores para validar a análise.
À medida que que softwares de rastreamento automático e classificação comportamentais
estão se tornando cada vez mais importantes para estudos de comportamento animal
(incluindo humanos, ratos e aves), há a necessidade de ferramentas open-source que
possam rastrear e quantificar as interações de limpeza. Tanto quanto nos é dado a
conhecer, não existem tais ferramentas de open-source que seja capaz de rastrear os peixes
e classificar estas interações de limpeza. As ferramentas presentes na literatura,
maioritariamente envolver espaços bidimensionais – geralmente ratos, moscas, peixes –
por outro lado, parte da literatura que se foca em espaços tridimensionais, trabalham com
animais da mesma espécie.
Devido à inovação do estudo, a implementação do projeto apresenta diversos desafios
significativos por si só. Os problemas incluem desde início a recolha de dados e a
gravação de vídeos adequados para o nosso objetivo, neste contexto, algumas variáveis
precisam ser abordadas. As variações no tamanho dos Labroides dimidiatus e de seu
cliente de aquário para aquário, a disposição do aquário, as variações de luz entre aquários, o facto de estarmos a trabalhar com um espaço tridimensional, serem duas
espécies diferentes, com formas relativamente distintas, e por fim, a própria forma do
peixe. Todos estes aspetos são algo que vêm dificultar todo o nosso trabalho, isto porque
se não conseguirmos ter um modelo que seja capaz de rastrear os peixes, identificando os
pontos desejados de forma precisa, não se conseguirá prosseguir para a parte da
classificação comportamental.
O principal objetivo desta tese é utilizar ferramentas de aprendizagem de automática para
criar um sistema semiautomático de rastreamento e identificação para interações de
limpeza de Labroides dimidiatus. Ao automatizar procedimentos manuais trabalhosos,
este sistema procura agilizar o processo de análise, mantendo a fiabilidade dos dados.
Além disso, os dados provenientes do sistema de rastreamento semiautomático serão
utilizados para um algoritmo projetados para analisar com foco específico as interações
mutualísticas. Ao integrar técnicas de aprendizagem automática no fluxo de trabalho de
análise, esta tese procura aumentar a eficácia e rapidez da investigação em ecologia
marinha. Inicialmente é necessário identificar ferramentas atuais, parametrizar e adaptar
com o objetivo de poder rastrear o movimento das duas espécies de peixes. Para esta
tarefa, decidimos então usar a ferramenta DLC (DeepLabCut), a qual é uma ferramenta
semiautomática de rastreamento animais. Os dados coletados serão então utilizados num
algoritmo para analisar interações interespecíficas. Como resultado, forneceremos uma
ferramenta (ou uma definição de configuração para uma ferramenta já existente) que
auxiliará os investigadores etólogos que estudam bodiões-limpadores, em particular o
Labroides dimidiatus.
Neste trabalho foram usadas duas câmaras por aquário, uma camara que grava a parte
frontal e outra que grava a parte superior, para que possamos replicar uma gravação
tridimensional, potenciando assim a informação obtida pelas gravações dos vídeos.
Foram utilizados 6 aquários diferentes com diferentes indivíduos. Visto termos dois
ângulos diferentes de câmaras, foram treinadas duas redes neuronais distintas e
posteriormente analisadas, obtendo resultados bastante positivos com taxas de erro
significativamente baixas. Posteriormente, estes dados foram implementados no
algoritmo que tem por base a distância entre os peixes e o tempo que passam perto um do
outro. Para calcular a distância, além de diferentes distâncias, foram também testadas
diferentes estratégias de medição da distância entre os peixes, que tinha por base o uso de
diferentes pontos de referência para calcular a distância. Apesar de não termos conseguido
diferenciar os diversos tipos de interações mutualísticas, focamo-nos em diferencias interação de não interação. Os resultados obtidos à primeira vista não são os melhores,
mas, contudo, após uma melhor reflexão, chegamos à conclusão que é um excelente passo
para a automatização da classificação de interações. O algoritmo com os melhores
parâmetros para o nosso estudo, conseguiu identificar 90% das interações totais dos
vídeos usados no estudo. Contudo, classificou aproximadamente de 15% das não
interações como interações. Apesar de parecer um erro elevado, o algoritmo classificou
somente 25% da duração total dos vídeos, como interações. Com isto em mente, mesmo
que seja preciso uma verificação por parte de uma pessoa, esta verificação seria no
máximo 25% do tempo utilizado caso tivesse que manualmente analisar os vídeos por
completo.
Este trabalho contribui para a comunidade científica com uma base de dados de vídeos
raw e vídeos manualmente anotados de interações mutualísticas de limpeza. Estes vídeos
poderão ser utilizados para testar diversas abordagens de rastreamento ou de classificação
comportamental, tanto como conjunto de dados de treino, mas também como conjunto de
validação de verdade absoluta.
Como trabalho futuro, seria necessário aumentar a base de dados, visto ter sido possível
com uma porção total dos vídeos disponíveis. Posteriormente seria interessante passar de
um ambiente controlado como os aquários no laboratório, para um ambiente natural. No
entanto, esta mudança apresentaria alguns obstáculos, principalmente no que diz respeito
à colheita e análise de dados. O desenvolvimento de metodologias capazes de rastrear e
analisar interações em ambientes de recife exigiria técnicas inovadoras que incluam
câmaras subaquáticas, algoritmos de rastreamento mais avançados e técnicas de
processamento de dados robustas.
A colaboração com especialistas em biologia marinha, visão computacional e
aprendizagem automática poderia avançar ainda mais no desenvolvimento de ferramentas
automatizadas de rastreamento e classificação adaptadas especificamente para o estudo
de interações mutualísticas em ecossistemas de recifes de coral. Ao aproveitar a
experiência interdisciplinar e os avanços tecnológicos, a investigação futura pode
continuar a expandir os limites do conhecimento em ecologia marinha e análise do
comportamento.
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Fundação para a Ciência e a Tecnologia
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3599-PPCDT
Funding Award Number
PTDC/BIA-BMA/0080/2021
