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ESTRATÉGIAS DE FEEDBACK E DE ENTRAINMENT EM DIÁLOGO E SUA APLICAÇÃO EM SISTEMAS AUTOMÁTICOS
Funder
Authors
Publications
Classificação prosódica de marcadores discursivos
Publication . Cabarrão, Vera; Moniz, Helena; Ferreira, Jaime; Batista, Fernando; Trancoso, Isabel; Mata, Ana Isabel; Curto, Sérgio
This work describes the discourse markers present in two corpora for European Portuguese, in different domains (university lectures and map-task dialogues). In this study, we also perform a multiclass automatic classification task based on prosodic features to verify in both corpora which words are discourse markers, which are disfluencies, and which are sentence like-units (SUs). Results show that the selection of discourse markers varies across domain and between speakers. As for the classification task, results show that the discourse markers are better classified in the lectures corpus (87%) than in the dialogue corpus (84%). However, cross-domain experiments evidenced that data trained with the dialogue corpus predicts better the events in the lecture corpus, since this domain displays more speakers and therefore complex patterns. In both corpora, markers are more easily classified as SUs than as disfluencies.
Prosodic Classification of Discourse Markers
Publication . Cabarrão, Vera; Moniz, Helena; Ferreira, Jaime; Batista, Fernando; Trancoso, Isabel; Mata, Ana Isabel; Curto, Sérgio
The first contribution of this study is the description of the prosodic behavior of discourse markers present in two speech corpora of European Portuguese (EP) in different domains (university lectures, and map-task dialogues). The second contribution is a multiclass classification to verify, given their prosodic features, which words in both corpora are classified as discourse markers, which are disfluencies, and which correspond to words that are neither markers nor disfluencies (chunks). Our goal is to automatically predict discourse markers and include them in rich transcripts, along with other structural metadata events (e.g., disfluencies and punctuation marks) that are already encompassed in the language models of our in-house speech recognizer. Results show that the automatic classification of discourse markers is better for the lectures corpus (87%) than for the dialogue corpus (84%). Nonetheless, in both corpora, discourse markers are more easily confused with chunks than with disfluencies.
Entrainment in European Portuguese
Publication . Cabarrão, Vera Mónica dos Santos; Mata, Ana Isabel; Trancoso, Isabel
A presente tese centra-se na análise da adaptação entre falantes em diálogos espontâneos
em Português Europeu (PE). Esta adaptação, também designada por acomodação, sintonia
ou mesmo sincronismo (do inglês entrainment), tem sido descrita como a capacidade de os
seres humanos se ajustarem, tanto a nível comportamental como discursivo, ao seu interlocutor
(Brennan and Clark, 1996; Beˇnuš, 2014a). Esta estratégia tem sido estudada sob diversas
perspetivas, quer para compreender quais os mecanismos linguísticos, psicológicos e sociais
(Levitan et al., 2012; Beˇnuš, 2014a) que a motivam, quer para replicar este comportamento,
tipicamente humano, em sistemas de diálogo automáticos (Levitan, 2014; Hoegen et al., 2019).
Estudos recentes sobre adaptação entre falantes em diferentes situações comunicativas têm
mostrado a importância desta estratégia na resolução de tarefas específicas (e.g., diálogos em
formato map-task, jogos colaborativos) e em sessões de terapia (e.g., terapia conjugal; sessões
de aconselhamento sobre droga e linhas SOS anti-suicídio).
Nesta tese, as semelhanças acústico-prosódicas entre falantes são analisadas ao nível do
diálogo (adaptação global) e em tomadas de palavra intercaladas (adaptação local), tendo em
conta variáveis sociais, como o papel desempenhado pelo falante no diálogo ou a familiaridade
entre falantes. A nível local, verifica-se também se a adaptação entre pares de enunciados
contíguos produzidos por falantes distintos varia de acordo com os tipos de frase (como, por
exemplo, uma declarativa seguida de uma interrogativa ou quando ambas são declarativas ou
interrogativas), bem como com a presença no início do segundo enunciado de estruturas muito
frequentes em fala espontânea, tais como marcadores discursivos (e.g., agora; bem; bom; portanto;
então), disfluências (pausas preenchidas, sobretudo aa e aam); repetições enfáticas (sim,
sim, sim), constituintes afirmativos (sim; exacto; certo) e negativos (não; eu não tenho) e estruturas
ambíguas (palavras que tanto podem ser marcadores discursivos como constituintes afirmativos,
como pronto e ok). Para efetuar esta análise local, foi necessário um estudo mais aprofundado
dos marcadores discursivos nos corpora disponíveis. As marcas de pontuação, que
delimitam constituintes similares a frases (sentence-like units, SUs), as disfluências e até os constituintes
afirmativos já haviam sido estudados em diversos trabalhos em fala espontânea em
PE (Batista, 2011; Batista et al., 2012a; Moniz, 2013; Moniz et al., 2015; Cabarrão, 2013; Cabarrão
et al., 2016). Por outro lado, a literatura sobre marcadores discursivos em dados de fala espontânea
ainda é pouco exaustiva, na medida em que a maioria dos estudos se centram na análise
das funções pragmáticas destas estruturas em textos escritos.
O estudo dos marcadores discursivos visa não só contribuir para uma análise mais completa da adaptação local entre falantes (através dos exemplos destas estruturas em posição
inicial), mas também para a descrição prosódica destas estruturas em fala espontânea em
diferentes corpora, nomeadamente aulas universitárias e diálogos em formato map-task. Considerando
o facto de marcadores e disfluências serem descritos na literatura como estruturas
paralinguísticas que partilham algumas propriedades (Liu et al., 2006; Goldwater et al., 2010),
e ainda o facto de ambos serem considerados na adaptação local, pretendeu-se aferir também
se estas estruturas se distinguem prosodicamente. Como tal, foi realizada uma tarefa de classificação
automática multiclasse para determinar, com base nas propriedades prosódicas das
palavras, quais as que são marcadores discursivos, quais as que são disfluências e quais as que
são SUs.
Os resultados mostram que a seleção de marcadores discursivos depende do corpus e do
falante. No mesmo corpus, existem falantes que tendem a utilizar o mesmo marcador e outros
que variam entre diversas estruturas. Apesar de existir variação por corpus, também se observa
que os marcadores mais frequentes são semelhantes em ambos os corpora. As experiências dentro
do mesmo corpus (in-domain), em que o conjunto de treino e de teste correspondem a dados
selecionados aleatoriamente a partir dos mesmos dados, mostram uma exatidão na classificação
de 87% nas aulas universitárias e de 84%, nos diálogos. As pistas acústico-prosódicas
GeMAPS e, especialmente, as eGeMAPS, parâmetros comummente utilizados em tarefas paralinguísticas,
obtiveram um bom desempenho nos dados. Os resultados sugerem que os marcadores
em posição inicial são geralmente mais fáceis de identificar do que as disfluências.
Para testar a robustez do sistema de classificação entre corpora, realizou-se uma outra experiência
com dados de um corpus para treino e do outro corpus para teste e vice-versa. Tal como
expectável, os valores obtidos nesta tarefa são mais baixos (em cerca de 11% a 12%) do que utilizando
os mesmos dados para treino e teste. Ainda assim, as melhorias obtidas face à base de
comparação em ambos os corpora mostram que esta classificação pode ser utilizada em dados
fora do domínio. De forma a perceber o impacto de cada pista acústico-prosódica na distinção
entre marcadores e disfluências, foi efetuada também uma análise às pistas mais relevantes em
ambos os domínios. As pistas relacionadas com a frequência fundamental (f0), nomeadamente
declives de f0, são as mais relevantes na distinção entre estas estruturas. No geral, apesar da complexidade
desta tarefa, os resultados são muito encorajadores para a classificação automática
multiclasse.
No que diz respeito à análise de adaptação global entre falantes, os resultados evidenciam
adaptação acústico-prosódica, embora expressa em diferentes graus: os falantes não se adaptam
sempre aos mesmos interlocutores e seguindo as mesmas estratégias acústico-prosódicas.
Os resultados mostram que os falantes são mais semelhantes aos seus interlocutores do que ao
seu próprio discurso noutros diálogos (cada falante participa em quatro conversas, duas como
dador e duas como seguidor) na maioria dos parâmetros acústico-prosódicos, nomeadamente
f0, duração e qualidade de voz, sendo a energia o único parâmetro inalterado. Já na comparação
entre pares e não-pares, esta adaptação verifica-se maioritariamente em parâmetros de duração. Este estudo mostra também que os principais parâmetros prosódicos (f0, energia,
duração e qualidade de voz) são monitorizados no processo de adaptação entre falantes, evidenciando
um resultado para o PE que se diferencia dos obtidos para o Inglês e o Mandarim
(Levitan, 2014). Nestas línguas, observa-se adaptação global entre interlocutores principalmente
em pistas de energia, quer na comparação com não-pares, quer com o mesmo falante
noutro diálogo. Quanto ao papel desempenhado, observa-se que cerca de metade dos falantes
é mais consistente no seu discurso enquanto dador, mostrando menos adaptação ao interlocutor,
e a outra metade como seguidor. Tal pode dever-se ao facto de se tratar de um diálogo
colaborativo, em que os falantes trabalham em conjunto para ser bem-sucedidos na tarefa de
chegar ao destino final no mapa. Estes resultados permitem também equacionar o facto de a
adaptação entre falantes estar mais relacionada com o interlocutor, a sua postura e personalidade,
do que com o papel desempenhado no diálogo.
Os resultados obtidos quanto à adaptação local, sem considerar os tipos de frases ou estruturas
específicas, revelam que os falantes são mais semelhantes entre enunciados contíguos do
que entre não contíguos nos quatro parâmetros prosódicos: f0, energia, duração e qualidade de
voz. Estes resultados não estão de acordo com uma análise similar para o inglês (Levitan, 2014):
os falantes adaptam-se nos enunciados contíguos nos parâmetros média e máximo de energia e
harmonics-to-noise-ratio (HNR), mas não em pistas de f0. Esses resultados permitem colocar a
hipótese de que pistas como energia podem ser independentes da língua, pelo menos em corpora
semelhantes, mas não os parâmetros de f0. As experiências realizadas até ao momento
mostram assim que o comportamento acústico-prosódico da adaptação local em PE abrange
não só pistas de energia mas todos os outros parâmetros prosódicos.
Considerando a adaptação entre diferentes tipos de SUs, os pares pergunta-resposta são
aqueles com maior semelhança na maioria dos parâmetros analisados, f0, energia, duração e
qualidade de voz, sendo os pares declarativo-interrogativo aqueles nos quais ocorre menos adaptação.
Estes resultados já eram expectáveis, dada a natureza colaborativa do corpus. Quanto
aos subtipos de interrogativas nos pares pergunta-resposta, existem maiores evidências de
adaptação com perguntas Sim-Não e Tags do que com perguntas parciais. Em PE, as perguntas
Sim-Não e Tags compartilham um contorno alto/ascendente por oposição ao contorno
baixo/descendente associado a perguntas parciais e a declarativas neutras. Além disso, as
perguntas Sim-Não não possuem pistas léxico-sintáticas associadas, apenas prosódicas, o que
pode constituir mais uma evidência para a adaptação local encontrada. Importa ainda referir
que os pares pergunta-resposta são a força motriz da natureza dialógica do corpus, constituído
por tarefas muito colaborativas que têm de ser resolvidas em conjunto por dois interlocutores.
Os resultados deste estudo mostram que as estruturas com maior adaptação local são as que
promovem colaboração e reforço positivo, estratégias que contribuem para a fluidez e sucesso
do diálogo. Em linha com o que foi dito para as SUs, há maiores evidências de adaptação local
com constituintes afirmativos no início do segundo enunciado em enunciados contíguos.
Estes resultados evidenciam, uma vez mais, o esforço colaborativo entre os interlocutores para resolver a tarefa. Por outro lado, as pausas preenchidas e os marcadores discursivos são as estruturas
que apresentam menor grau de adaptação. Uma possível explicação é o facto de que,
quando os falantes proferem estas estruturas, estão já a planear o que dizer a seguir.
O trabalho desenvolvido ao longo desta tese visa contribuir para a análise linguística e
automática de tópicos inexplorados na fala espontânea em PE, nomeadamente estratégias de
adaptação acústico-prosódica entre falantes.
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SFRH/BD/96492/2013