As aporias do Motor Imóvel : tradução e comentário da "Metafísica" de Teofrasto

Abstract

Este trabalho está dividido em duas partes. Na primeira, procura-se investigar qual é natureza das aporias que Teofrasto, na sua Metafísica, formula a respeito do Motor Imóvel aristotélico, com o intuito último de compreender se estas constituem críticas a essa doutrina ou, alternativamente, exercícios que se dispõe de uma natureza mais positiva, contribuindo possivelmente para o melhoramento da visão aristotélica de Deus como causa última do movimento e da mudança. Propõe-se, contra o consenso geral da literatura, que as aporias que Teofrasto desenvolve devem ser lidas como possuindo uma natureza positiva e, mais, que devemos considerar que Teofrasto defende a existência de um Motor Imóvel. Esta é por, conseguinte, a primeira defesa sistemática da natureza positiva das aporias do Motor Imóvel e de Teofrasto como defensor da existência de tal entidade. Começa-se por analisar os textos das aporias. Em seguida, apresenta-se e discuti-se o que a literatura especializada tem a dizer sobre o objecto desta investigação. A partir deste esforço, prova-se a correcção da proposta já referida mostrando o seguinte: 1) Os textos das aporias do Motor Imóvel, quando lidos atentamente, não denotam um aspecto crítico da doutrina do Motor Imóvel num sentido “negativo”; 2) A concepção que Teofrasto possui do movimento animal exige, pelo facto de os céus se tratarem de um animal, que ele aceite a existência de um Motor Imóvel; 3) que Teofrasto aceite a distinção entre acto (ἐνέργεια) e movimento (κίνησις) compromete-o com a existência de um Motor Imóvel; 4) existem vários outros elementos textuais na Metafísica que sugerem que Teofrasto aceita a existência de um Motor Imóvel; 5) os argumentos utilizados na literatura para suportar as conclusões opostas àquelas aqui defendidas devem ser rejeitados. Na segunda parte do trabalho apresentamos uma tradução integral da Metafísica de Teofrasto, a primeira alguma vez realizada para a língua portuguesa.

This work is divided into two parts. In the first one, we try to investigate the nature of the aporiai that Theophrastus, in his Metaphysics, raises on the Aristotelian Prime Mover, with the ultimate goal of assessing if they consist of criticisms of that doctrine or, rather, of philosophical exercises of a more positive nature, contributing perhaps to the improvement of Aristotle’s conception of God as the ultimate cause of motion and change. We submit, despite contrary scholarly consensus, that Theophrastus’ aporiai should be read on a positive note and, furthermore, that we should consider that Theophrastus upheld the existence of at least one Prime Mover. This work consists, therefore, of the first systematic defense in Theophrastean scholarship of the positive nature of the aporiai of the Prime Mover and of Theophrastus as a defender of the existence of a Prime Mover. We start by carefully analysing the aporiai on the Prime Mover. We move on to portray and debate the scholarly views on the issues at hand. Drawing on these previous efforts, we prove the correctness of our proposal by showing that: 1) The texts of the aporiai do not read as what we label “negative” criticisms of the Prime Mover; 2) Theophrastus’ views on animal motion require that he accepts a Prime Mover; 3) Theophrastus’ acceptance of the distinction between activity (ἐνέργεια) and motion (κίνησις) commits him to the existence of a Prime Mover; 4) There are textual elements in the Metaphysics, besides those of the aporiai, that support our proposals; 5) The arguments that scholars use to support the position opposite to our own do not follow through. The second part of the work consists of a full translation of Theophrastus’ Metaphysics into Portuguese, the first of its kind.