La opacidad como potencia: una investigación cinematográfica a partir de 918 gau

Abstract

O trabalho que se segue é o resultado de uma investigação prático-teórica que se debruça sobre uma experiência pessoal e colectiva no quadro do chamado “conflito político basco”. Na base deste trabalho de investigação está a análise crítica das formas narrativas das subjectividades militantes que, tradicionalmente, constituíram formas popularizadas de representação da pessoa militante na dicotomia narrativa de herói vs. traidor. Com o objetivo de mostrar outras formas de articulação da experiência militante que escapam a esta lógica binária, analisa-se, por um lado, o processo de realização do filme 918 gau (Arantza Santesteban, 2021) como uma espécie de narrativa cinematográfica enquadrada na procura de lugares de enunciação política sensíveis e representativos dos estados de vulnerabilidade dos sujeitos militantes. O objetivo desta análise é alargar a representação da experiência militante a partir da ideia de opacidade (Glissant, 2017; Butler, 2016; Wark, 2021; Soto Calderón, 2023) como possibilidade de leitura dos sujeitos politizados a partir de uma perspetiva de não-transparência. Por último, analisam-se dois estudos de caso no âmbito das produções culturais bascas da época contemporânea, aprofundando a figura de María Dolores González Katarain, Yoyes, assassinada pela ETA sob a acusação de traição, bem como a análise da canção “Itziarren semea” do dueto basco Pantxoa eta Peio, como exemplo de modelação da ideia de heroísmo no âmbito do conflito político basco. Como epílogo da investigação, propõe-se uma reflexão final sobre o peso dos memoriais revolucionários do século XX nos imaginários políticos actuais e a necessidade de estabelecer outras representações do político, reivindicando a possibilidade e o direito à opacidade