O Castelo de Sines; Arquitetura (d)e memória

Abstract

O Castelo de Sines começou a ser erguido em inícios do século XV, dominando uma baía com enorme potencial pesqueiro e comercial, mas assolada pelos perigos do corso, das tempestades de inverno e afastada das principais rotas do comércio terrestre. A sua estrutura edificada rapidamente ficou desatualizada, sendo pouco eficaz perante o desenvolvimento da pirobalística, no entanto a sua capacidade dissuasora permaneceu perante a especificidade da ameaça. Recebeu uma guarnição permanente no reinado de Filipe I, que o habitou até meados do século XIX, com poucos recursos e equipamentos militares, mas que garantiu a conservação do imóvel durante esse longo tempo. A importância da praça de guerra foi assim reconhecida pela administração central, o que a salvou da ruína, mas essa importância era muito relativa, pelo que nunca se realizaram alterações profundas ou até a demolição e substituição por uma fortaleza moderna, como aconteceu em tantos outros lugares. O presente trabalho começou por se centrar na recolha do máximo de informação possível, necessária à elaboração e implementação de um projeto de recuperação e musealização do Castelo. Em fase de obra centrou-se a atenção na recolha de outro tipo de informação, nomeadamente da arqueologia vertical, o que veio ajudar a preencher lacunas no conhecimento. Numa terceira etapa procurou-se aprofundar o conhecimento das estratégias que no passado haviam sido postas em prática para permitir a conservação das estruturas militares, procurando encontrar aí lições úteis para o futuro. Na mesma perspetiva procurou destrinçar-se o caminho que conduziu à transformação do Castelo num bem patrimonial, o que surpreendentemente aconteceu muito tardiamente, apesar de diversas figuras ligadas ao Castelo terem desenvolvido projetos de valorização da História Local. Por fim, apresentam-se projetos em que se ensaia uma estratégia de valorização dos vestígios materiais do passado e das suas memórias, com vista a uma requalificação do espaço público e ao reconhecimento deste imóvel classificado como um património da cidade e das suas gentes, convidando à descoberta e à participação, reintegrando-a no dia-a- dia da cidade e garantindo que a necessidade de conserva-la estará sempre presente no pensamento de todos.

Sines Castle began to be built at the beginning of the 15th century, dominating a bay with enormous fishing and commercial potential, but threatened by privateering, winter storms and located far from the main land trade routes. Its structure quickly became outdated, being inefficient in the face of the development of pyroballistics, however its deterrent capacity remained, in view of the specificity of the threat. It received a permanent garrison during the reign of Philip I, who inhabited it until the mid-19th century, with few resources and military equipment, but which guaranteed the conservation of the property during this long period of time. The importance of the Castle was thus recognized by the central administration, which saved it from ruin, but this importance was very relative, so profound changes were never carried out, or even demolition and replacement by a modern fortress, as happened in so many other places. The present work began by focusing on collecting as much information as possible, necessary for the preparation and implementation of a project to restore the Castle. During the construction phase, attention was focused on collecting other types of information, namely vertical archaeology, which helped to fill in gaps in knowledge. In a third moment, we sought to deepen knowledge of the strategies that had been put into practice in the past to allow the preservation of the military structures, seeking to find useful lessons for the future. At the same time, an attempt was made to untangle the path that led to the transformation of the Castle into a heritage asset, which surprisingly happened very late, despite the fact that several figures linked to the Castle have developed projects to enhance Local History. Finally, some projects are presented in which is tested a strategy for valuing the material remains of the past and its memories, in view to restore the public space and the classified building as a common heritage, inviting people to discover and participate, reintegrating it into the day-to-day life of the city and ensuring that the need to conserve will always be present in everyone's mind.