Análise da Influência da Fragmentação Florestal e Efeitos de Margens na Ocorrência de Incêndios em Portugal Continental Utilizando Padrões Morfológicos de Uso e Ocupação do Solo

Abstract

As características ecológicas das fronteiras florestais têm vindo a ser estudadas, mas a ocorrência e a intensidade dos incêndios como efeitos de margem em larga escala são menos conhecidas, assim como o papel das diferentes características do uso e ocupação do solo na modificação dessa relação. Um aspeto importante na descrição do padrão espacial da floresta é a identificação precisa e o mapeamento da fragmentação “interna” e “externa”. Diferentes causas de alterações na paisagem podem ter assinaturas características relacionadas a esses tipos de fragmentação. Por exemplo, o aparecimento de lacunas internas nas florestas introduz “efeitos de margem” bióticos e abióticos diretamente no seu interior. Os incêndios tendem a ocorrer com mais frequência em florestas fragmentadas e estão associados principalmente às suas margens. A maioria dos incêndios relacionados com as margens desloca-se para as florestas a partir de áreas desmatadas, e o desmatamento adicional fragmenta a floresta remanescente. A alteração do regime de incêndio torna-se ainda mais influenciada pela proximidade das margens florestais desmatadas e produz, entre outros, o aumento da dessecação e de cargas de combustível nas áreas de margem. A combinação da desflorestação e da fragmentação florestal torna a floresta mais vulnerável aos incêndios, e este fenómeno pode ser agravado pelas alterações climáticas. Neste trabalho usamos processamento morfológico de imagens para classificar os padrões espaciais ao nível do pixel em mapas binários (floresta e não floresta) de uso e ocupação do solo. O padrão de ocupação do solo é classificado como “perfurado”, “margem”, “mancha” e “núcleo” com grande resolução espacial e exatidão temática em comparação com abordagens anteriores, mantendo a capacidade de rotular esses padrões ao nível de pixel para diferentes escalas de observação. Também analisámos a fragmentação e a ocorrência e intensidade dos incêndios em Portugal continental. Posteriormente calculámos a distância com que os incêndios relacionados com as margens ocorrem no interior da floresta e fora da margem da floresta. A fragmentação florestal teve um impacto significativo na ocorrência e frequência do incêndio, apoiando a hipótese de que quanto mais fragmentada for uma floresta, maior será o grau de combustão de biomassa. Estes resultados estão de acordo com a ocorrência de um efeito de margem tanto na ocorrência como na frequência do incêndio. Apesar de, de uma forma geral, os diferentes tipos de gestão influenciarem a ocorrência e a frequência do incêndio, o incêndio como efeito de margem em grande escala ocorre independentemente do tipo de gestão. Este trabalho foi financiado pelos projetos FTC, Change4Fire (2022.05015.PTDC) e AgroEcoDecipher (2022.09372.PTDC), e Bolsa de Doutoramento 2022.12095.BD.