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Title: A presença destacada dos mármores do Alentejo em três edifícios monumentais da cidade do Porto da primeira metade do século XX: diálogo entre modernidade e tradição
Other Titles: The significant presence of Alentejo marble in three monumental buildings in the city of Porto from the first half of the 20th century: dialogue between modernity and tradition
Author: Soares, Clara Moura
Rodrigues, Rute Massano
Keywords: Porto
Arquitetura
Rochas ornamentais
Mármores
Século XX
Issue Date: 2022
Publisher: Almedina
Citation: SOARES, Clara Moura, RODRIGUES, Rute Massano - "A presença destacada dos mármores do Alentejo em três edifícios monumentais da cidade do Porto da primeira metade do século XX: diálogo entre modernidade e tradição". In CARNEIRO, André, SOARES, Clara Moura, GRILO, Fernando e SERRÃO, Vítor (coords.) - Mármore : 2000 anos de História, vol. III - Contributo dos Mármores do Alentejo para a afirmação das artes. S. l : Almedina, 2022, pp.385-461.
Abstract: Na primeira metade do século XX, a arquitetura em Portugal conheceu desenvolvimentos assinaláveis, com a experimentação de novas soluções que procuraram ir ao encontro das necessidades e dos interesses privados e, a partir dos anos 30/40, da consistente política de obras públicas do Estado Novo. Neste contexto, condicionado pela conjuntura política e económica, as influências internacionais produziram debates vários, refletindo-se, contudo, num modernismo pouco consistente, a coexistir com uma arquitetura de matriz historicista. Os edifícios então construídos usufruem dos novos materiais (ferro, vidro e betão armado), beneficiando, igualmente, dos avanços nas técnicas construtivas. Ao mesmo tempo, os “mármores” portugueses, nomeadamente os do Alentejo, ligados a uma certa identidade nacional, ganham uma destacada relevância na arquitetura vigente, seja ela mais moderna, ou mais tradicionalista. As suas características (resistência, efeitos cromáticos, versatilidade) ampliam a sua utilização, muitas vezes associada à inovação, à tradição, à monumentalidade, à durabilidade e à facilidade de preservação. A vontade de arquitetos ou de clientes e a disponibilidade financeira das empreitadas permitiam ultrapassar barreiras, sendo os novos materiais utilizados nos mais notáveis edifícios institucionais, prédios, moradias, lojas e outros equipamentos, conjugados com diversas rochas ornamentais. Nos edifícios públicos então construídos em Lisboa (e.g. Casa da Moeda, de Jorge Segurado; Pavilhão do Rádio, de Carlos Ramos; Instituto Nacional de Estatística, Instituto Superior Técnico, Gares Marítimas de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbidos, de Porfírio Pardal Monteiro), com clara linguagem racionalista, as rochas ornamentais marcaram presença em pavimentos e revestimentos diversos, assumindo, por vezes, um papel de destaque. Integraram-se nos novos volumes e nos espaços, indo ao encontro das necessidades estéticas e funcionais, o mesmo ocorrendo em obras de iniciativa privada (e.g. Hotel Vitória, de Cassiano Branco) que o desenvolvimento urbano suscitou. A distância da capital e das obras públicas incentivadas pelo regime do Estado Novo ditou que a renovação do gosto se fizesse noutras partes do país, como na cidade do Porto, mais tardiamente e ligada, sobretudo, à iniciativa privada. Nos anos 20 e 30 do século XX, entre a praça da Liberdade e o largo da Trindade, nasceria um boulevard moderno, de influências parisienses. Com fachadas a alternar entre o ecletismo ao gosto fin-de-siècle e a Art Déco, seria dotado de um conjunto de edifícios nobres, como os novos Paços do Concelho, instituições bancárias, seguradoras, hotéis, edifícios residenciais, estabelecimentos comerciais. Ali prevaleceu o emprego de materiais nobres, boa cantaria de granito e mármore, e destacaram-se arquitetos como José Marques da Silva, Rogério de Azevedo, Porfírio Pardal Monteiro ou Carlos Chambers Ramos. Ao granito (a pedra local que domina a imagem urbana), juntar-se-iam outras rochas ornamentais, como os mármores do Alentejo, proporcionando efeitos estéticos diferenciados, acentuando a monumentalidade e garantindo boas soluções de conservação. Em edifícios portuenses, alguns marcados pelo gosto moderno Art Déco (e.g. Armazéns Nascimento, de Marques da Silva; Casa de Serralves, de Marques da Silva, et al.; sede do Comércio do Porto, de Rogério de Azevedo; Coliseu do Porto, de Cassiano Branco e Júlio de Brito; edifício Maurício Macedo, de Rogério de Azevedo), os “mármores” estariam presentes em fachadas, pavimentos e outros revestimentos. Estes adquirem, porém, destacada relevância em três edifícios: na Caixa Geral de Depósitos (CGD), nos Paços do Concelho e na igreja de Santo António das Antas. No edifício de gaveto da CGD (1923-[28]), na avenida dos Aliados, emblemático da primeira fase da carreira de Pardal Monteiro, este concebeu um exterior com fachada eclética de influência parisiense, classicizante, em granito, e um interior em que domina a Art Déco. Enquanto parte de um “programa artístico global”, nomeadamente, nos designados vestíbulo e hall, destacam-se o pavimento em mármores com motivos geométricos e os revestimentos de paredes onde encontramos, juntamente com calcários da zona de Lisboa e Sintra, mármores do Alentejo, fornecidos pela empresa Industrial Marmorista. São patentes nesta obra os conhecimentos profundos que Pardal Monteiro tinha de rochas ornamentais, das implicações decorativas que a sua escolha, corte e aplicação tinham na arquitetura. Na mesma avenida, destaca-se o edifício dos Paços do Concelho (1916-1957), ao gosto Beaux-Arts, revestido a granito. Uma obra pública, onde os mármores, fornecidos pela Mármores & Granitos, Lda. – com especial destaque para os do Alentejo, entre eles o ruivina na imponente escadaria e Salão Nobre – foram uma escolha dos arquitetos para revestir interiores. Primeiro, por António Correia da Silva (filho de canteiro, tal como Pardal Monteiro) e, a partir de 1950, por Carlos Chambers Ramos, um pioneiro da arquitetura moderna portuguesa, responsável por diversos acabamentos, arranjos interiores e algumas alterações ao projeto inicial. Para finalizar, abordamos a igreja de Santo António das Antas, nascida numa zona nova da cidade, urbanisticamente construída sob influência italiana dos arquitetos Piacentini e Muzio. Depois de um primeiro projeto de 1936, de Ferreira Peneda, onde este já optaria por uma decoração com mármores nacionais, em 1944, acabaria aprovado um projeto de Fernando Tudela e Fernando Barbosa, em que sobressai uma modernidade baseada na sobriedade e monumentalidade do modelo clássico italiano. No interior, onde hoje se destaca, sobretudo, o mármore Verde Viana, o Mármore de Estremoz não deixou de estar previsto no projeto para o batistério (revestimento e pia batismal), pias de água benta, entre outros.
The distance from the capital and the public works encouraged by the Estado Novo regime determined that the renewal of taste was carried out in other parts of the country, such as the city of Porto, later and mostly linked to private initiative. In the 1920s and 1930s, between Praça da Liberdade and Largo da Trindade, a modern boulevard with Parisian influences was born. With façades alternating between fin-de-siècle eclectic taste and Art Deco, it would be endowed with a number of noble buildings, such as the new City Hall, banking institutions, insurance companies, hotels, residential buildings, and commercial establishments. In those cases, the use of noble materials such as good granite and marble stonework prevailed, and architects such as the likes of José Marques da Silva, Rogério de Azevedo, Porfírio Pardal Monteiro or Carlos Chambers Ramos stood out. Granite (the local stone that dominates the urban image) was joined by other ornamental stones, such as marble from the Alentejo, providing different aesthetic effects, accentuating monumentality and ensuring good conservation solutions. In Oporto buildings, some of them marked by the modern Art Deco taste (e.g. Armazéns Nascimento department store, by Marques da Silva; Casa de Serralves [Serralves Villa], by Marques da Silva, et al.; Comércio do Porto newspaper’s headquarters, by Rogério de Azevedo; Oporto Coliseum, by Cassiano Branco and Júlio de Brito; Maurício Macedo building, by Rogério de Azevedo), “marbles” were present in façades, floors and other coverings. Three buildings, however, stand out: the Caixa Geral de Depósitos (CGD) bank, the City Hall and the Church of Santo António das Antas. In the corner building of the CGD (1923-[28]), on Avenida dos Aliados, emblematic of the first phase in Pardal Monteiro’s career, he designed an exterior with a granite eclectic, Parisian-influenced, classicist façade, and an interior dominated by Art Deco. As part of a “global artistic programme”, particularly in the lobby and hall, the marble flooring with geometric motifs and the wall coverings also stand out. Along with limestone from the Lisbon and Sintra area, we find marble from the Alentejo, supplied by the Industrial Marmorista company. This work demonstrates a deep knowledge of ornamental stones by Pardal Monteiro, of the decorative implications that their choice, cutting and application had in architecture. On the same avenue lies the City Hall building (1916-1957), in the Beaux-Arts style, clad in granite. A public work where the marbles, supplied by the Mármores & Granitos, Lda. company – with special emphasis on those from the Alentejo, among them the ruivina in the imposing staircase and the Salão Nobre (Noble Room) – were an architectural choice for the interior cladding. First by António Correia da Silva (the son of a stonemason, like Pardal Monteiro), and from 1950 onwards by Carlos Chambers Ramos, a pioneer of modern Portuguese architecture, responsible for various finishes, interior fittings and some changes to the initial project. Finally, we address the Santo António das Antas Church, born in a new area of the city, whose urban plan was built under the Italian influence of the architects Piacentini and Muzio. After a first 1936 project by Ferreira Peneda, on which he would opt for a decoration with national marbles, in 1944 a project by Fernando Tudela and Fernando Barbosa would be approved, in which a modernity based on the sobriety and monumentality of the classical Italian model becomes apparent. Inside, where today the Verde Viana marble stands out above all, the Estremoz marble was not left out of the project for the baptistery (coatings and baptismal font), holy water sinks, among others.
Peer review: no
URI: http://hdl.handle.net/10451/59043
ISBN: 978-989-53156-3-5
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