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http://hdl.handle.net/10451/56547
Title: | Flora Tristán and transnational feminism |
Author: | Solórzano Giraldo, Elizabeth Mirella |
Advisor: | Mendes, Ana Cristina Ferreira |
Defense Date: | 21-Dec-2022 |
Abstract: | The main goal of this dissertation is to analyse the travel books Pérégrinations d’une Paria
1833-1834 (1838) and Promenades dans Londres ou L’aristocratie et Les Prolétaires Anglais
(1842) by French-Peruvian writer Flora Tristán (1803-1844) through the translated and edited
versions of Jean Hawkes: Peregrinations of a Pariah (1986) and The London Journal of
Flora Tristan (1982). Both travel accounts reveal Tristán’s gradual sociopolitical
transformation into a feminist first, and a socialist feminist later. Throughout this dissertation,
I will bring to light the importance of Tristán’s international travel experiences in her
awakening and emancipation, and the construction of her own feminism. Tristán is
considered one of the most eminent socialist feminists of the first half of the nineteenth
century in Europe and South America. Her contribution to women’s emancipation and the
key ideas she had on gender equality are still significantly influential nowadays. I intend to
show how her journey to Peru allowed her to distance herself from her own plight as a
separate French woman, giving her personal experience a level of generalisation and
abstraction; this was key to becoming a feminist. This work will also bring into view how her
last trip to London shaped Tristán’s feminism into a socialist one and encouraged her to enter
the public space as a political activist in France. Finally, the different moments in the
construction of Tristán’s feminism and who influenced her to become a socialist feminist will
also be analysed. Using the methodological perspectives of feminist literary theory, I will
reveal the economic, social, political and psychological operations of patriarchy in France,
Peru and England in the first half of the nineteenth century; also demonstrating how race,
class and other cultural factors combined with gender so as to produce women’s experience,
especially when travelling alone, and how Tristán portrayed herself and other women of the
period with these gender issues. Este trabalho tem como objetivo principal a análise dos livros de viagem Pérégrinations d’une Paria 1833-1834 (1838) e Promenades dans Londres ou L’aristocratie et Les Prolétaires Anglais (1842) da escritora franco-peruana Flora Tristán (1803–1844) através das versões traduzidas e editadas de Jean Hawkes: Peregrinations of a Pariah (1986) e The London Journal of Flora Tristan (1982). Estas obras revelam a gradual transformação sociopolítica de Tristán numa feminista em primeiro lugar, e numa feminista socialista, mais tarde. Deste modo, ao longo desta dissertação darei relevo à importância das experiências e testemunhos das viagens internacionais da autora, eventos importantes e correntes filosóficas da época que influenciaram o seu despertar e emancipação, e na construção do seu próprio feminismo. Tristán é considerada uma das mais eminentes feministas socialistas da primeira metade do século XIX na Europa e na América do Sul. A sua contribuição para a emancipação das mulheres e as ideias-chave que teve sobre a igualdade de género ainda são significativamente influentes na atualidade. A maioria das pesquisas académicas concentra-se tanto em aspetos da sua biografia, como no seu último livro, Union Ouvrière (1843), que aborda o seu envolvimento com o Sindicato dos Trabalhadores em França (1840-1844), altura em que ela já era inquestionavelmente uma feminista socialista e uma famosa ativista política. Tristán nasceu aristocrata, filha de um membro de alto escalão da Marinha espanhola, Mariano Tristán y Moscoso, pertencente a uma das famílias mais importantes e poderosas do sul do Peru, e a francesa Anne-Pierre Laisnay. O alto padrão de vida de Tristán em Paris durou apenas quatro anos. Infelizmente, após a morte de seu pai, a sua família perdeu tudo drasticamente, sendo forçados a viver no campo até 1818. Na adolescência, após uma tentativa falhada para encontrar um pretendente de melhor posição económica, Tristán foi informada de que era filha ilegítima, pois o casamento de seus pais não havia sido legalmente reconhecido. Forçada a viver uma vida com dificuldades financeiras, foi persuadida a casar-se aos dezassete anos com seu patrão, o artesão André Chazal. Depois de dois filhos e esperando um terceiro, Tristán “sentiu o peso de [suas] correntes” (Peregrinations 171), sentindo-se “[e]scravizada a um homem… numa época em que toda a resistência era vã” (173). Essa união sem amor fez com que experimentasse opressão na esfera doméstica (lar e país). A sociedade francesa esperava que ela cumprisse o papel de boa esposa e mãe, isso implicava aceitar o controle total do marido, mesmo este sendo violento e extremamente ciumento. O contexto histórico em que Tristán cresceu marginalizou as mulheres separadas, pois o divórcio era ilegal. Viu-se forçada a apresentar-se como solteira ou viúva enquanto fugia do marido; passando por estas dificuldades publicamente e depois internacionalmente. A sociedade francesa fez dela uma pária como filha, esposa e mãe. Este foi o momento em que decidiu libertar-se e optou pelo proibido: deixar o marido e viajar sozinha. A sua viagem ao Peru, é um dos focos desta dissertação, já que permitiu que se distanciasse dos seus próprios obstáculos, dando à sua experiência pessoal um nível de generalização. Ela observou que as mulheres aristocratas eram oprimidas pelas mesmas instituições e leis patriarcais do mesmo modo que em França. Os testemunhos, eventos políticos e personagens importantes que ela conheceu no Peru foram chaves na construção do seu feminismo. Após a viagem, Tristán decidiu ser escritora e denunciar as lutas das mulheres viajantes, ideias descritas no seu primeiro panfleto, escrevendo de seguida o livro sobre as suas experiências no Peru que a levaria à fama, Peregrinations. Após a publicação da sua primeira obra, Chazal, o seu marido, tentou matá-la, sem sucesso, disparando pelas costas. Este ato levou-o à prisão, facto que ajudou Tristán a continuar com a sua agenda feminista. A sua quarta viagem à cidade de Londres, cujo objetivo foi a investigação social da mesma, foi descrita no The London Journal. Este livro de viagem revela a evolução e consolidação do pensamento feminista de Tristán. As mulheres desta capital europeia, principalmente as da classe trabalhadora, não eram apenas oprimidas pelas mesmas leis patriarcais dos países acima referidos, mas também pelo capitalismo. As terríveis consequências da Revolução Industrial em relação às mulheres e à classe operária que ela testemunhou, fizeram com que direcionasse o olhar à economia como a primeira causa da opressão das mulheres. Este facto deu início à sua escrita de viagem, obra socialista, a qual lhe permitiu entrar no espaço público em França como ativista política no seu retorno a este país. A jornada em Londres, serviu-lhe para adotar a educação como principal solução dos diferentes problemas sociais das mulheres da classe trabalhadora, para visionar o proletariado como uma classe social e propor a união deste para a luta dos seus direitos. O livro também evidencia as diferentes influências filosóficas que Tristán teve na sua própria construção do seu feminismo. Os mais influentes foram Mary Wollstonecraft, concordando que a educação devia ser igualitária moralmente e era chave para uma sociedade mais justa; os Saint-Simonians, que introduziram o sentido de classe em relação ao proletariado; Charles Fourier, que a influenciou na ideia socialista de comunidades semelhantes aos falanstérios; e Robert Owen, reformador industrialista que acreditava que a educação infantil teria um impacto positivo nas sociedades futuras tornando-as mais justas, igualitárias e ordenadas. Embora a obra e os ideais de Tristán tenham logo sido considerados parte do socialismo utópico, o livro evidenciou uma realidade inglesa para onde a França também se encaminhava. Tristán faleceu aos 41 anos devido à febre tifóide, a qual contraiu durante a sua viagem a França, momento em que lutava para unir os líderes dos trabalhadores de França. Tristán foi severamente crítica na produção dos seus dois livros analisados nesta dissertação: Peregrinations, tendo sido dedicado à sociedade peruana, e The London Journal dedicado particularmente aos trabalhadores londrinos. Ambos foram friamente recebidos pelos nacionais. Peregrinations foi queimado na praça principal de Lima e até proibido por um tempo. The London Journal foi escrito em francês e a receção deste em Inglaterra não foi a esperada pela escritora. Nenhum trabalho surge do nada; o contexto sociopolítico e filosófico de Tristán, as lutas pessoais como esposa fugitiva e sobretudo as experiências como mulher viajante nas suas peregrinações internacionais ajudaram-na a tornar-se uma proeminente pensadora feminista socialista ao fim da sua viagem a Londres. Os textos escritos pela autora são um exemplo perfeito para analisar e revelar as operações económicas, sociais, políticas e psicológicas do patriarcado em França, Peru e Inglaterra na primeira metade do século XIX. Do mesmo modo, para examinar como Tristán retratou as mulheres da época e a si mesma como viajante, escritora e mulher separada, e se estas impressões estavam relacionadas com questões de gênero. E, por fim, estes textos são pertinentes para demonstrar também como a raça, a classe e outros fatores identitários cruzam os gêneros para produzir a experiência das mulheres, principalmente quando viajavam sozinhas. Para esta análise na dissertação, usarei as perspetivas metodológicas da teoria literária feminista e terei como referência principal as obras de Susan Grogan Flora Tristan, Life stories (1998) que analisa a imagem pública de Tristán e as diferentes funções de escritora, feminista socialista e viajante que adotou durante a sua curta vida; e a obra de Sandra Dijkstra Flora Tristan Feminism in the Age of George Sand (2019) que retrata Tristán como uma escritora com consciência de classe e gênero num período histórico de transição. |
URI: | http://hdl.handle.net/10451/56547 |
Designation: | Mestrado em Estudos Ingleses e Americanos |
Appears in Collections: | FL - Dissertações de Mestrado |
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