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Advisor(s)
Abstract(s)
A experiência que a formação em contexto de trabalho oferece, há muito que é reconhecida como
fundamental na formação de enfermeiros, pelo que a formação inicial destes se organiza de modo a
contemplar tempos que decorrem no espaço escolar, intercalados pelas respectivas práticas clínicas,
que se desenvolvem em contexto de trabalho. O sistema de formação dos enfermeiros surge em
estreita articulação com a profissão e com os hospitais, que constituem o seu local preferencial de
intervenção.
Esta formação reproduz no seu interior as lógicas de relação com o saber e com os poderes que
encontra no hospital. Esta reconhece como válidos e fundamentais ao exercício da profissão
sobretudo os saberes oriundos da medicina e um conjunto de saberes processuais essencialmente
prescritivos da acção. Os saberes da experiência são aqui desvalorizados pelo seu carácter
"evidentemente não científico". A pobreza da investigação e da reflexão na e sobre a profissão,
dificultam a produção de saber em enfermagem.
Tal como a maioria das formações que prevêem a alternância entre períodos escolares e períodos de
estágio, concebe estes últimos, fundamentalmente, como locais de aplicação do conjunto de saberes
teóricos aprendidos em aula. A experiência prática tem ficado, deste modo, reduzida ao treino de um
conjunto de habilidades, predominantemente trabalhadas em contexto hospitalar e que se supõe
transferíveis para qualquer contexto.
No entanto, a formação inicial tem sido acusada de oferecer uma formação excessivamente teórica
descurando a aprendizagem prática dos novos profissionais o que tem contribuído, na opinião dos
críticos, para aprofundar o designado fosso entre teoria e prática.
Mais que um desencontro entre teoria e prática os problemas da formação inicial radicam num
conjunto de outros aspectos que procurarei equacionar ao longo deste trabalho.
A dificuldade de a partir das situações concretas do quotidiano, transformar a experiência em
sabedoria, para com ela enriquecer o universo simbólico dos actores, tendo em vista a construção e a
recriação dos saberes profissionais, é um problema que permanece por resolver e que tem efeitos
importantes na produção de conhecimento em enfermagem.
Uma formação que permanece centrada no professor e na transmissão de saberes, favorece pouco a
produção de conhecimento e o assumir de um estatuto de actor pelos alunos. O investimento na
pessoa do profissional fica por fazer ao reduzir-se o aluno a objecto da acção exercida por outros.A subordinação da formação à lógica do trabalho procura mais formar produtos acabados, dentro de
parâmetros claramente definidos, que abrir espaços para a construção de caminhos diversificados. O
centrar da formação num conjunto de competências instrumentais da profissão, mantém por debater
as condições sociotécnicas em que a profissão se exerce, limitando a capacidade de reflectir sobre a
profissão e de projectar e influenciar as políticas de saúde.
Por outro lado, toma-se difícil pensar em mudar as práticas na formação inicial, sem que ao nível
dos contextos de trabalho se produzam dinâmicas de mudança que ponham em causa as relações dos
profissionais com o acto de trabalho e com o saber.
Paralelamente, as profundas e rápidas transformações por que tem passado o mundo do trabalho e as
profissões, colocam a formação face ao problema de como preparar hoje o profissional de amanhã.
A procura de soluções para esta questão traduziu-se, em finais dos anos 60, na emergência do
Movimento da Educação Permanente, que pretendendo questionar a escola, acabou por não pôr em
causa o seu modelo, acentuando a escolarização da sociedade, através da criação de centros que
multiplicaram os cursos e as acções de formação para aduhos em contextos de trabalho (Novoa
1988). Estas formações, que alguns autores (e.g. Jobert, 1990, Correia 1998), denominam de
"correctivas e adaptativas", na medida em que pretendiam corrigir as insuficiências dos indivíduos,
revelaram-se pouco eficazes. Elas não colocaram nunca a questão central que, de acordo com Novoa
(1988), Feiry (1987), e muitos outros, consiste em saber: como formar-se? A formação é centrada
na pessoa, no percurso que esta realiza, ou como diz Rémy Hess (1985, citado por Novoa 1988)
"formar-se não é instruir-se, é antes de mais, reflectir, pensar numa experiência vivida..., é aprender
a construir uma distância face à experiência de vida, é aprender a contá-la através de palavras, é ser
capaz de a conceptualizar," (p. 115), mas também de se projectar no futuro. Trata-se no fundo de
desenvolver, conforme refere Canário (1994), o reflexo de aprendizagem, ou seja, aprender a
aprender ao longo da vida. E aprender ao longo da vida é ser capaz de transformar a vivência do
quotidiano em saber, de construir a experiência que ao longo dos anos confere a sabedoria, que
permite agir e ser agido num mundo em transformação cada vez mais acelerada.
Construir uma experiência é um processo que se aprende. Quando os cursos de formação inicial em
enfermagem preconizam que 50% do tempo de formação seja passado em contextos de trabalho
estão, em simultâneo, a afirmar que estes são potencialmente formativos.
Aprender a aprender com a experiência é a questão que se procura equacionar neste trabalho, para a
qual se considera como fundamental a reflexividade critica que permite olhar a sua vivência,
questioná-la e questionar-se a si próprio. O tema deste trabalho; "a aprendizagem pela experiênoia
na formação inicial de enfermeiros", parece assim, ser de toda a pertinência.(...)
Description
Tese de Mestrado em Ciências da Educação (História da Educação), Universidade de Lisboa, 1999
Keywords
Pedagogia da saúde Enfermagem Formação inicial de enfermeiros Prática profissional Relações internacionais Teses de mestrado - 1999