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Governação eficaz e apoio à democracia

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Existe uma longa tradição na investigação e pensamento políticos que defende que as instituições políticas e o seu funcionamento devem ser vistos como um reflexo dos valores e atitudes dos cidadãos. É uma tradição que remonta à obra Da Democracia na América, de Alexis de Tocqueville (2000 [1840]), e que tem encontrado um apoio empírico renovado nos trabalhos de Almond e Verba (1963), Putnam (1993) ou Fukuyama (1995), autores que se têm focado no papel da «cultura cívica», na «confiança interpessoal», no «capital social» e nos seus efeitos sobre os regimes políticos e o seu desempenho institucional. Esta abordagem à ligação entre as atitudes de massas e as instituições trata as primeiras como causas de mudança nas segundas. Deste modo, os «valores de auto-expressão», eles próprios originados pelo desenvolvimento sócio-económico e pelo aumento dos recursos cognitivos dos cidadãos, são vistos como causas de mudança de regime e de respeito pelos direitos civis e políticos (Inglehart e Welzel 2005), enquanto o apoio incondicional de massas à democracia («legitimidade democrática») tem sido considerado uma condição para a consolidação e estabilidade da democracia (Gunther et al. 2007; Diamond 1999). No entanto, existe uma tradição igualmente longa na investigação e pensamento políticos que sugere que as atitudes, crenças e preferências dos cidadãos em relação às instituições e regimes políticos devem também ser consideradas consequências – em vez de apenas causas – do funcionamento dessas instituições e regimes. Num conjunto de trabalhos escritos desde a década de 50, David Easton (1953, 1957, 1965a, 1965b e 1975) teorizou que as atitudes e as acções de apoio a um regime político devem ser tratadas não só como inputs relevantes no sistema político, mas também como resultado dos efeitos dos outputs do sistema, ou seja, das decisões políticas e das políticas públicas. Da mesma forma, outros dois gigantes da ciência política do século XX, Seymour Martin Lipset e Robert Dahl, defendiam que a legitimidade dos regimes políticos e as crenças básicas sobre a autoridade podem ser afectadas pela «eficácia» dos governos, entendida como «o desempenho real de um sistema político, na medida em que satisfaz as funções básicas governativas, tal como definidas pelas expectativas da maioria dos membros de uma sociedade» (Lipset 1959, 86), ou, simplificando, como a «capacidade [do governo] em lidar eficazmente com problemas palpáveis» (Dahl 1971, 147). Este capítulo reconhece esta segunda tradição e testa empiricamente hipóteses que advêm da mesma. Especificamente, testa a hipótese de que, independentemente da forma como os factores sociais e económicos afectam as atitudes e crenças fundamentais dos cidadãos sobre as instituições políticas, a eficácia governativa, entendida como a qualidade da formulação e implementação das políticas públicas, molda de forma importante as crenças e atitudes de massas, em particular as atitudes em relação aos regimes. As pessoas que vivem em regimes democráticos em que a qualidade da elaboração de políticas é alta tenderão a dar maior apoio à democracia e a rejeitar alternativas autocráticas. Por oposição, quando a ineficácia é dominante, o apoio democrático será prejudicado. Uma implicação adicional consiste no facto de a relação entre a governação eficaz e o apoio à democracia poder por vezes ser negativa: as autocracias em que a qualidade da formulação e implementação das políticas é alta tenderão a ser caracterizadas por níveis mais baixos de apoio de massas à democracia como regime.

Description

Keywords

Democracia Cidadania política

Pedagogical Context

Citation

Magalhães, P. C. (2013). Governação eficaz e apoio à democracia. In Pinto, A. C., Sousa, L. de, Magalhães, P. (orgs.), A qualidade da democracia em Portugal: a visão dos cidadãos, (pp. 241-261). Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais

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ICS. Imprensa de Ciências Sociais

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