| Name: | Description: | Size: | Format: | |
|---|---|---|---|---|
| 124.7 KB | Adobe PDF |
Authors
Abstract(s)
A resposta imunitária é a capacidade do sistema imunitário, de reagir a moléculas reconhecidas como
estranhas ou anómalas, protegendo o organismo de células tumorais ou agentes externos que
comprometem a homeostasia, como patógenos.
A resposta imunitária divide-se em resposta inata e adaptativa. A resposta inata, apesar de pouco
especifica, é essencial nas primeiras horas de infeção e na ativação da resposta adaptativa. A resposta
adaptativa é mediada por linfócitos e seus produtos e, apesar de só atuar após alguns dias de infeção,
permite uma ação extremamente específica e eficaz na eliminação de patógenos. Os linfócitos B
eliminam patógenos extracelulares através da secreção de anticorpos, um processo conhecido por
resposta humoral. Os linfócitos T eliminam patógenos intracelulares e células tumorais, e participam na
ativação de macrófagos para eliminação de patógenos fagocitados, o que corresponde à chamada
imunidade mediada por células.
Os linfócitos T diferenciam-se no timo a partir de células progenitoras geradas na medula óssea. Após
o processo de diferenciação, os linfócitos T maduros migram para órgãos linfoides secundários, onde
são ativados na presença de um antigénio (molécula encontrada em patógenos, células tumorais, ou
mesmo células endógenas que são reconhecidas por linfócitos e desencadeiam uma resposta imunitária
adaptativa). A ativação destas células leva a alterações transcricionais e metabólicas que permitem aos
linfócitos T proliferarem rapidamente e diferenciaram-se em linfócitos efetores, que atuam na
eliminação de infeções e células tumorais.
Após eliminação de uma infeção, a maior parte dos linfócitos efetores sofre apoptose, mas alguns
persistem e diferenciam-se em células de memória, capazes de sobreviver na ausência de antigénio e
montar respostas mais eficientes a antigénios encontrados anteriormente. Contudo, em infeções crónicas
ou cancro, a estimulação persistente com antigénio, em conjunto com coestimulação inibitória, e sinais
de regulação negativa mediados por citocinas leva ao desenvolvimento ineficiente de memória. Nesses
casos, as células desenvolvem um estado de disfunção designado exaustão celular.
A exaustão de linfócitos T é caracterizada por proliferação reduzida e perda progressiva de capacidades
efetoras, podendo culminar em morte celular. Linfócitos T exaustos apresentam também alterações ao
nível transcricional, epigenético e metabólico, e disfunção ao nível mitocondrial. O microambiente
tumoral é particularmente propício ao desenvolvimento de exaustão celular, e este processo é muitas
vezes responsável por um combate ineficiente a tumores. A exaustão celular limita também as
possibilidades de sucesso de imunoterapias que recorrem a células T com recetor quimérico de antigénio
(células CAR-T), linfócitos T do paciente geneticamente modificados para reconhecer antigénios
tumorais. Como tal, existem também imunoterapias que tentam revigorar linfócitos T exaustos,
recorrendo a inibidores de checkpoint imunológico, que inibem sinais de regulação negativa que
promovem a exaustão.
Devido ao impacto que a exaustão de linfócitos T tem no contexto clínico, um biomarcador capaz de
detetar este processo precocemente e monitorizar imunoterapias de forma não invasiva seria uma mais valia.
Este trabalho teve como objetivo desenvolver um biomarcador que detete exaustão de linfócitos T de
forma precoce. Para isso células mononucleares do sangue periférico (PBMCs) foram isoladas de buffy
coats doados pelo Instituto Português do Sangue e Transplantação (IPST). Após um período de
criopreservação, os linfócitos T nestas amostras foram ativados múltiplas vezes com anticorpos anti CD3/CD28, de forma a simular a estimulação antigénica persistente que leva à exaustão. O biomarcador
foi medido em amostras reativadas múltiplas vezes e em amostras submetidas apenas a uma estimulação inicial de 3 dias, que serviram de controlo. Foi seguida também a proliferação celular, visto que uma
proliferação reduzida é indicativa de disfunção celular e característica de exaustão. A expressão de
marcadores de exaustão foi também monitorizada através de citometria de fluxo. Este é o método
atualmente usado na clínica para deteção de exaustão de linfócitos T, e permite garantir que os linfócitos
T presentes na amostra desenvolveram exaustão. Além disso, serve de referência para determinar se o
biomarcador é mais sensível e consegue detetar exaustão de forma mais precoce.
Os marcadores de exaustão seguidos foram a proteína de morte celular programada 1 (PD-1), o gene 3
de ativação linfocitária (LAG-3), a imunoglobulina de células T e domínio 3 da mucina (TIM-3), e o
cluster de diferenciação 39 (CD39). Observou-se que os linfócitos T reativados apresentavam maior
expressão de todos estes marcadores de exaustão relativamente a linfócitos controlo, ativados apenas
uma vez. A expressão de PD-1 encontrava-se aumentada 1,7±0,1 vezes após a primeira reativação e
1,6±0,3 após quatro reativações, em linfócitos reativados comparativamente com linfócitos controlo. Já
a expressão de LAG-3 encontrava-se aumentada 3,4±0,4 vezes após a primeira reativação e 6,2±0,7
após quatro reativações. Relativamente à expressão de TIM-3, observou-se um valor 2,1±0,4 vezes mais
elevado nos linfócitos reativados após a primeira reativação e 2,1±0,6 após quatro reativações.
Finalmente, a expressão de CD39 foi 5,2±2,9 vezes maior em células reativadas após três reativações e
9,9±6,3 após quatro reativações.
Para além disso, amostras de PBMCs com linfócitos reativados apresentaram também uma redução na
proliferação e uma alteração do biomarcador. A proliferação cumulativa de células controlo ao fim de
sete dias correspondeu a 461% do número inicial de células, enquanto para as células reativadas este
valor foi de apenas 167%. O biomarcador foi alterado após as reativações.
A maior expressão de marcadores de exaustão associada à proliferação reduzida confirmou o
desenvolvimento deste estado de disfunção nos linfócitos reativados. O facto de o desenvolvimento de
exaustão nestes linfócitos estar associado a uma alteração do biomarcador demonstra que este consegue
detetar exaustão de linfócitos T. Além disso, estas alterações no biomarcador foram detetadas no dia a
seguir à primeira reativação, confirmando uma deteção precoce da exaustão, mas não mais precoce que
a expressão de marcadores de exaustão observada por citometria de fluxo, que também já se encontrava
alterada neste momento.
Surpreendentemente, células reativadas após um período sem ativação, apesar de expressarem menos
CD39, têm o biomarcador alterado e proliferaram menos que células continuamente reativadas. Deste
modo, observou-se um aumento de 9,6±5,9 em células reativadas após descanso e apenas 2,3±0,0 em
células reativadas sem qualquer descanso na expressão de CD39 relativamente a células controlo.
Registou-se ainda uma diminuição do número de células descansadas em -32±7%, 24 horas após
reativação e um aumento em 38±30% do número de células reativadas no mesmo intervalo de tempo.
Conclui-se que ativação após um descanso leva a stress celular e viabilidade reduzida que são detetados
pelo biomarcador, mas não pelos marcadores de exaustão. O biomarcador consegue ainda seguir a
recuperação funcional de células reativadas após a interrupção do processo de reativação, ao contrário
da citometria de fluxo.
Adicionalmente, foi observada uma correlação entre o número de células após descongelamento e o
biomarcador por células que apenas sofreram uma ativação inicial após quatro dias sem ativação. Este
resultado sugere que um processo de isolamento, criopreservação e descongelamento menos eficiente,
que leva a número menor de células e reduz a sua viabilidade e capacidades efetoras também se traduz
num valor alterado do biomarcador. Em conclusão, este trabalho permitiu demonstrar que o biomarcador consegue detetar não só exaustão,
mas também outras condições que reduzem a fitness das células e podem comprometer terapias com
células CAR T, o que constitui uma vantagem relativamente à monitorização da expressão de
marcadores de exaustão por citometria de fluxo, que apenas permite detetar exaustão celular. O
biomarcador pode também ser usado para monitorizar o progresso de imunoterapias com inibidores de
checkpoint na recuperação de linfócitos T do paciente.
Futuramente, poder-se-ão realizar medidas do biomarcador em linfócitos T isolados, garantido assim
que o sinal obtido provém apenas deste tipo de células e não de outras PBMCs. Convém, no entanto,
notar que estas experiências seriam cegas ao efeito de interações entre linfócitos T e outras células que
ocorrem in vivo e têm impacto no processo de exaustão celular.
T cell exhaustion is a state of dysfunction characterized by reduced proliferation, increased expression of inhibitory receptors, and progressive loss of effector functions. The main driver of this dysfunctional state is persistent antigen stimulation, which happens in chronic infections and cancer. This state of dysfunction impairs the immune response against cancer and leads to chimeric antigen receptor (CAR) T cell therapy failure. As such one immunotherapeutic approach consists in using immune checkpoint inhibitors to reinvigorate exhausted T cells. The goal of this work was to identify a biomarker that is effective for early detection of T cell exhaustion. With that objective in mind, T cells in a peripheral blood mononuclear cells (PBMCs) sample were activated multiple times with anti-CD3/CD28 antibodies to mimic persistent antigen stimulation and compared with cells that underwent a single activation. Expression of exhaustion markers was monitored by flow cytometry, to ensure that T cells were becoming exhausted. Indeed, reactivated cells presented increased expression of exhaustion markers, confirming the development of an exhausted phenotype. The biomarker was changed in exhausted cells and, in cells that were exposed to other conditions that compromise cell fitness. Additionally, the biomarker was able to monitor recovery from such conditions. As such, it is possible to conclude that the biomarker detects T cell exhaustion. Furthermore, it can also be used to detect other conditions that may compromise success of CAR T cell therapy and to monitor T cell reinvigoration upon treatment with immune checkpoint inhibitors.
T cell exhaustion is a state of dysfunction characterized by reduced proliferation, increased expression of inhibitory receptors, and progressive loss of effector functions. The main driver of this dysfunctional state is persistent antigen stimulation, which happens in chronic infections and cancer. This state of dysfunction impairs the immune response against cancer and leads to chimeric antigen receptor (CAR) T cell therapy failure. As such one immunotherapeutic approach consists in using immune checkpoint inhibitors to reinvigorate exhausted T cells. The goal of this work was to identify a biomarker that is effective for early detection of T cell exhaustion. With that objective in mind, T cells in a peripheral blood mononuclear cells (PBMCs) sample were activated multiple times with anti-CD3/CD28 antibodies to mimic persistent antigen stimulation and compared with cells that underwent a single activation. Expression of exhaustion markers was monitored by flow cytometry, to ensure that T cells were becoming exhausted. Indeed, reactivated cells presented increased expression of exhaustion markers, confirming the development of an exhausted phenotype. The biomarker was changed in exhausted cells and, in cells that were exposed to other conditions that compromise cell fitness. Additionally, the biomarker was able to monitor recovery from such conditions. As such, it is possible to conclude that the biomarker detects T cell exhaustion. Furthermore, it can also be used to detect other conditions that may compromise success of CAR T cell therapy and to monitor T cell reinvigoration upon treatment with immune checkpoint inhibitors.
Description
Tese de Mestrado, Bioquímica e Biomedicina, 2025, Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências
Keywords
Linfócitos T Microcalorimetria Exaustão Celular Imunoterapia Estimulação Antigénica Persistente Teses de mestrado - 2025
