Estimativa da pegada carbónica de duas explorações leiteiras portuguesas : uma em regime convencional e outra em regime biológico

Abstract

RESUMO - Os produtos da indústria leiteira constituem uma fonte de alimento importante para a alimentação humana, no entanto, a sua produção acarreta um custo ambiental associado à emissão de gases de efeito de estufa. De modo a quantificar a pegada carbónica das explorações pecuárias, surgiram nos últimos anos numerosos estudos e calculadoras com o objetivo de determinar as emissões de gases. Contudo, pela complexidade individual inerente a cada sistema produtivo, os estudos apresentam com frequência diferenças nos métodos e consequentes resultados obtidos. Este estudo visou a determinação e comparação da pegada carbónica de duas explorações leiteiras portuguesas no ano 2022, sendo uma de regime convencional e outra de regime biológico com os animais em pastoreio. Foi usada a metodologia proposta pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) para calcular os gases associados à fermentação entérica, ao armazenamento de efluentes e à aplicação de azoto nos solos. Foram igualmente incluídas as emissões associadas à importação de alimento, assim como o consumo de combustíveis fósseis e eletricidade. Por fim, foi usado o modelo Rothamsted Carbon Model para estimar a quantidade de carbono sequestrado no solo das pastagens naturais da exploração em regime biológico. Os resultados obtidos mostraram uma pegada carbónica de 1,43 kg CO2-eq/ kg de leite corrigido para a energia (ECM) para a exploração em regime convencional e 2,82 kg CO2-eq/ kg ECM para a exploração em regime biológico. Ao considerar o valor de sequestro nas pastagens naturais, a pegada carbónica da segunda foi reduzida para 2,06 kg CO2-eq/ kg ECM. A importação de alimento representou a maior fonte de emissão na exploração convencional, ao passo que, na biológica, foi a fermentação entérica o principal contributo para a pegada carbónica. A quantificação dos gases emitidos pelas diversas fontes pode constituir um ponto de partida para a instauração de medidas de mitigação de gases de efeito de estufa nestas duas explorações, tais como o refugo dos animais pouco produtivos, alterações na dieta e no maneio dos efluentes. O uso destes dois sistemas distintos permitiu ilustrar a importância da produtividade dos animais na diminuição de emissões por litro de leite, e, ainda, o possível impacto do sequestro de carbono no valor final da pegada carbónica

ABSTRACT - Estimation of the Carbon Footprint of the Portuguese Dairy Farms: one with Conventional Production and the other with Organic Production - Dairy products constitute an important food source for human consumption; however, their production entails an environmental cost associated with the emission of greenhouse gases. In order to quantify the carbon footprint of farms, numerous studies and calculators have emerged in recent years with the aim of determining gas emissions. However, due to the individual complexity existing in different systems, studies often present differences in the methods and subsequent results obtained. This study aimed to determine the carbon footprint of two Portuguese dairy farms for the year 2022, comparing a conventional with a pasture-based organic farm. The methodology proposed by the Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) was used to calculate gases associated with enteric fermentation, effluent storage and nitrogen application to soils. Emissions associated with food imports, as well as the consumption of fossil fuels and electricity, were also included. Finally, the Rothamsted Carbon Model was used to estimate the amount of carbon sequestered in the soil of natural pastures on the biological farm. The results obtained showed a carbon footprint of 1.43 kg CO2-eq/ kg of energy corrected milk (ECM) for the conventional farm and 2.82 kg CO2-eq/ kg ECM for the organic farm. When considering the carbon sequestration in natural pastures, the carbon footprint of the organic farm was reduced to 2.06 kg CO2-eq/ kg ECM. Feed import was the largest source of emissions on the conventional farm, while on the organic farm the carbon footprint was mainly associated with enteric fermentation. The quantification of gases emitted by different sources can constitute a starting point for the implementation of greenhouse gas mitigation measures on these two farms, such as the culling of unproductive animals, changes in diet and in effluent management. The use of these two different systems shows the importance of animal productivity in reducing emissions per liter of milk, as well as the possible impact of carbon sequestration in natural pastures on the final value of the carbon footprint