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A Declaração de Edimburgo (1988), resultante da 1ª Conferência Mundial de
Educação Médica afirma que o ensino médico deve reflectir as prioridades de
cada país em matéria de saúde e salientou a necessidade de alterar o sistema
tradicional de educação médica que privilegia a componente tecnológica, o
conhecimento factual e a intervenção hospitalar por um novo processo
vocacionado para a prevenção da doença, acompanhamento de patologias
crónicas e que confira competências perante as disfunções psicológicas, de
comportamento e de doenças comuns que afectam grande parte da população. Já
antes tinham sido identificadas zonas sistemáticas de insuficiência como sejam a
continuidade de cuidados, a prevenção e promoção da saúde e uma orientação
excessiva para a especialização (WHO, 1988).
Talvez as discrepâncias que têm vindo a avolumar-se resultem de concepções
extremas do perfil médico: de um lado o médico-tecnologista formado pelo
ensino tradicional e, do outro, o médico-utilitário requerido pelas populações
(Martins e Silva, 1993). Estas diferenças são a principal causa do dilema em que
se debatem os responsáveis pelo processo de educação médica quando
equacionam o tipo, extensão e profundidade dos (novos) conhecimentos
científicos a mobilizar.
Por outro lado assiste-se a um fenómeno, a "cumculopatia" (Marchais, Bureau,
Dumais e Pigeons, 1992) para o que contribuiu a miríade de especializações e
subespecializações derivadas dos progressos de saberes e técnicas, cada uma
procurando estabelecer o seu próprio nicho. Neste caso avolumam-se
dificuldades porque as orientações de mudanças na formação visam mais
justificar posições e promover pessoas. Evidencia-se que a formação dos médicos, aliás como de quaisquer outros
profissionais, não pode constituir um processo estático, sendo inevitável a
permanente introdução de mudanças. Muitos sistemas que têm capacidade de
mudança são sujeitos a conflitos de interesses.
O objectivo da acção médica não é só o diagnóstico, mas antes a melhor gestão do
caso saúde-doença. Eis o que será o objectivo central da educação médica
(Robin, 1981). Em conformidade o médico não deverá ficar apto apenas a ser
um utilizador de ciência aplicável, mas também adquirir as atitudes adequadas a
lidar com as pessoas em situação, nos seus contextos de vida.
Naturalmente depreende-se que o estilo e o conteúdo da educação médica dos
nossos dias são factores determinantes da qualidade dos serviços de saúde no
futuro.
Os modelos conceptuais que têm orientado a organização dos cuidados de saúde
revelam-se ultrapassados, face a novas formas de conceber saúde e doença, e face
à emergência de novos paradigmas científicos (Caldas de Almeida, 1989). A
educação médica é submetida a uma pressão constante no sentido de alargar o seu
âmbito, de modo a acompanhar a sempre crescente quantidade de saberes e
tecnologia ligada às diferentes disciplinas existentes e, nalguns casos, criar novas.
Em simultâneo é pressionada no sentido de reduzir o opressivo aumento de
informação que submerge os estudantes. Aos educadores médicos é pedido que
adoptem novos métodos de ensino e de aprendizagem que exigem mais recursos,
demandando-lhes concomitantemente contenção nas despesas. Surge ainda como
factor modelador o desfasamento existente entre os cuidados de saúde prestados
às populações e aqueles que seria legítimo estas esperarem.
Na verdade, verifica-se que, apesar dos notáveis progressos registados nas
ciências biomédicas, os serviços de saúde continuam a revelar insuficiências e
desajustamentos importantes relativamente às necessidades das populações
(Caldas de Almeida, 1989), pelo que há que repensar a formação destes
profissionais. (...)
Description
Dissertação de Mestrado em Ciências da Educação na área de Pedagogia na Saúde, 1995
Keywords
Teses de mestrado - 1995 Tratamento e prevenção Psiquiatria Identidade médica Necessidades de formação Conteúdos curriculares