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Advisor(s)
Abstract(s)
Entre 1961 e 1974, cerca de um milhão de homens foram mobilizados
para Angola, Guiné -Bissau e Moçambique. Recrutados em
Portugal ou nas colónias, defrontaram aproximadamente 30 mil
combatentes dos movimentos de libertação. Apesar da magnitude
do conflito em que o regime do Estado Novo obrigou os combatentes
a lutar, a guerra colonial portuguesa é um tema sobre o
qual há ainda um longo caminho a percorrer. A ausência de uma
política de memória consistente e o gradual desaparecimento dos
testemunhos de quem a viveu em primeira mão fazem com que a
última guerra europeia de descolonização surja como uma sombra
incómoda na esfera pública portuguesa.
Durante 13 anos, milhares de jovens mobilizados para Angola,
Guiné -Bissau e Moçambique tiraram fotografias daquilo que os
rodeava: os camaradas, os quartéis, as paisagens, o quotidiano, as
populações civis, o aparato e as operações militares. Estas imagens
escaparam à censura do regime, e foram guardadas ou enviadas
pelo correio como provas de vida à distância. Afastados das regras
que condicionavam a imagem oficial do conflito, os soldados
captaram retratos do seu tempo em África. Alguns destes homens
construíram laboratórios improvisados, vários frequentaram lojas
de fotografia que floresceram com a procura gerada pela guerra,
muitos compraram e trocaram imagens. Assim, construíram os
seus arquivos fotográficos pessoais.
Mais de seis décadas após o início do conflito, algumas colecções
de antigos soldados foram destruídas pelos seus proprietários, como
se o passado se pudesse apagar nesse gesto. Outras, com o desaparecimento
dos seus donos, vão ficando órfãs. Muitas sobrevivem
ainda, conservadas em álbuns ou em caixas, analógicas ou digitalizadas,
e são mostradas em círculos restritos ou partilhadas nas redes
sociais. Dispersas um pouco por todo o país, retratam um tempo
e um espaço distantes, e mostram uma guerra vivida mas também
imaginada. Banais ou extraordinárias, revelam os muitos mundos
de uma guerra longa e anacrónica que foi mandada combater pela
ditadura. É através destes testemunhos visuais da descoberta de outro
continente, do quotidiano e das muitas formas de sobreviver às
incertezas da guerra que propomos olhar os últimos anos do colonialismo
português e os seus impactos na sociedade portuguesa.
Description
Keywords
Pedagogical Context
Citation
Antunes, M. J. L. & Ponte, I. (eds.) (2024). A guerra guardada. Fotografia de soldados portugueses em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, 1961-1974. Lisboa: Tinta-da-China