Granadeiro, José Pedro,1964-Catry, Paulo Xavier,1968-Cardoso, Paulo Eduardo2017-05-162017-05-1620172017http://hdl.handle.net/10451/27697Tese de mestrado em Ecologia e Gestão Ambiental, apresentada à Universidade de Lisboa, através da Faculdade de Ciências, 2017Os mangais são um ecossistema de enorme importância para a proteção costeira, a segurança alimentar e para a conservação e refúgio da biodiversidade. Prestam ainda inúmeros serviços de manutenção e regulação, sobretudo por ser um importante sumidouro de carbono e ainda de aprovisionamento para as populações humanas costeiras. Tal como muitos outros ecossistemas, os mangais enfrentam ameaças globais, como sejam a degradação, a poluição ou a sobre-exploração e substituição por usos intensivos como a aquacultura. A Guiné-Bissau é o segundo país de África Ocidental em extensão de mangais, onde os mesmos representam um importante recurso à subsistência das populações e um valioso património de biodiversidade. Os estudos sobre os mangais do país remontam a meados do século passado e fornecem uma visão geral da sua ocorrência no território nacional e no contexto regional. Não obstante, não há nenhuma abordagem recente e consistente que tenha procurado avaliar a extensão e a evolução dos mangais do país para um período tão longo como o que se apresenta neste estudo. O estudo mais recente data de 2010 e não faz uma avaliação por setor administrativo. Num cenário em que se prevêem a redução e degradação dos mangais em termos globais, esta avaliação reveste-se de particular importância. Neste contexto, e a propósito dos trabalhos de preparação da Lei para a Conservação e Gestão dos Mangais na Guiné-Bissau, realizou-se este estudo que lhe serviu de base, tendo como objetivos avaliar a extensão nacional atual dos mangais e a evolução da sua cobertura nos últimos 43 anos (1973 a 2015). Neste período deu-se a implementação de uma extensa área protegida com vista a preservar este ecossistema, o Parque Natural dos Tarrafes do rio Cacheu (PNTC). Por este motivo, selecionou-se esta área protegida para estudar a evolução dos mangais. Por forma a estabelecer um termo de comparação entre o PNTC e um espaço não protegido selecionou-se uma área de mangal próxima onde a mesma avaliação foi efetuada. Com base em imagens de satélite Landsat de 2014 foi possível cartografar 3128 km2 de mangais para a Guiné-Bissau, que ocupam 8,66% do território nacional. Os mangais ocupavam 400,6 km2 do PNTC em 2015 e a análise da sua evolução nos últimos 43 anos revela que a cobertura atual é 3,8% maior do que a que se registou em 1973, com uma extensão adicional de 14,66 km2. Este acréscimo engloba a recuperação de áreas de mangal por regeneração, bem como novas áreas onde o mangal se instalou. A recuperação verificada deu-se particularmente a partir de 2000, ano de implementação legal do PNTC, mas a mesma tendência foi observada fora da área protegida, fazendo crer que outros fatores, que não a criação do espaço protegido, terão contribuído para a tendência de recuperação na região do rio Cacheu nos últimos 43 anos. De entre os fatores passíveis de terem causado esta tendência salienta-se desde logo o abandono da cultura de arroz (e em particular o arroz de água salgada ou arroz de bolanha), cuja cultura sofreu uma quebra de produção a partir de finais da década de 90 do século passado. O aumento da procura de alternativas de maior rentabilidade, como foi o caso da cultura da castanha de caju, que teve um crescimento notável na Guiné-Bissau e que posicionou o país como maior exportador deste produto em África, também pode ter influenciado este aumento da área de mangal. As secas prolongadas, que se verificaram entre 1960 e 1990, tiveram uma influência importante na regressão dos mangais da região Oeste de África, muito em particular no Senegal e, possivelmente, também na Guiné-Bissau, que partilha das mesmas condições biogeográficas. Este trabalho inseriu-se numa abordagem integrada de estabelecimento de estratégias de uso sustentável e de gestão de recursos florestais que está plasmada na “Estratégia Nacional para as Áreas Protegidas e a Conservação da Biodiversidade na Guiné-Bissau”, que procura valorizar os mangais nas suas diversas valências. A Estratégia Nacional e Lei dos Mangais constituem uma resposta efetiva à necessidade de conservação e valorização dos mangais da Guiné-Bissau. A utilização de recursos de livre acesso e das melhores metodologias disponíveis, numa abordagem clara e bem documentada, asseguram a sua reprodutividade e consequente possibilidade de aplicação na monitorização temporal do mangal na Guiné-Bissau num cenário de escassez de recursos financeiros.Mangroves provide several ecosystem services from coastal protection, food security, biodiversity refuge and carbon sequestration, acting in ecological regulation and providing resources for coastal populations. Never the less, mangroves across the globe are facing rapid degradation due to pollution, overexploitation and replacement by aquaculture and other human activities. Guinea-Bissau holds the second largest national mangrove area in West Africa representing an important resource for human subsistence and an invaluable biological heritage. Over the last six decades several studies contributed to evaluate the extent of mangroves, globally, regionally and specifically to Guinea-Bissau, providing an overview for the extent and status. Nevertheless, there is no recent and consistent evaluation focusing on the country mangroves that could provide an accurate estimate of coverage and trend over the last few decades. The previous and most recent evaluation was obtained for 2010 and do not provide a regional evaluation at administrative level. In a global scenario of general loss of mangroves, a systematic and consistent evaluation of mangrove cover and trend in Guinea-Bissau are critical not only from a biological or conservational point of view, but also to preserve the services it provides to human populations. This study aimed to evaluate the extension and mangrove extent dynamics in the last four decades (1973 to 2015) and provide information for the National Mangrove Law that is under preparation. The protected area of Parque Natural dos Tarrafes do rio Cacheu (PNTC) was created during the referred period to protect the mangroves from the Cacheu region. An unprotected area in the same region was added to our evaluation to clarify the relevance of legal protection on evolution of mangrove extent. A total of 3,128 sq. kilometers was mapped for Guinea-Bissau for 2014, corresponding to about 8.66 % of national territory. In 2015 a total of 400.6 sq. kilometers of mangroves was mapped for PNTC and the actual extent is 3.8% larger than it was in 1973. The observed recovery was particularly notorious from 2000 when the PNTC was legally implemented but the same trend was observed for the unprotected area. We discuss about contributing factors that could explain the regional trend of recovery. The rice production (particularly the mangrove rice) dropped since 1990 due to abandonment, with farmers moving to the profitable cashew cultivation, rising Guinea-Bissau to the top of African producer of cashew nut. The climatic Sahelian crisis, that lasted from 1960 to 1990, influenced the mangrove extend in the region, particularly in Senegal with plausible effects in Guinea-Bissau as well. This study was developed into a general approach to strategic and sustainable use and management of forest resources as defined by the “National Strategy for Protected Areas and Biodiversity Conservation” for valuing the mangroves. The National Strategy and the Law of Mangroves are clear demonstrations of efforts to preserve the mangroves of Guinea-Bissau. This study used free resources, from satellite data to algorithms, in a clear and reproducible approach that allow its application for future initiatives of monitoring mangrove cover trend. This is particularly relevant in scenarios of low resources.porConservaçãoGestãoParque Nacional dos Tarrafes do rio CacheuLandsatServiços de ecossistemasTeses de mestrado - 2017Os mangais da Guiné-Bissau: análise a 40 anos de evolução da sua extensãomaster thesis201919192