Delicado, AnaRibeiro, Morgan Rhys Dennis Mano Casal2021-06-082021-06-082021-04-13http://hdl.handle.net/10451/48402No passado, os seres humanos têm recorrido frequentemente a venenos para eliminar animais selvagens que consideram indesejáveis, causando impactos negativos enormes em espécies ameaçadas por todo o mundo. Estes prejuízos incidem com intensidade notória em predadores no topo das cadeias alimentares ou em animais necrófagos, que são os principais alvos de envenenamento pelo Homem. Deste conjunto de espécies, os abutres são talvez o caso que melhor ilustra os efeitos nefastos do envenenamento ilegal, tendo levado ao declínio acentuado das suas populações por todo o mundo, onde em algumas regiões chegaram a reduzir-se em mais de 99%. Em Portugal, este envenenamento tem resultado na morte de milhares de animais selvagens ao longo dos anos, incluindo das emblemáticas espécies de abutres existentes no território nacional. Nas últimas duas décadas tem-se assinalado um aumento no combate a estes comportamentos ilícitos, particularmente em zonas rurais, através da criação de programas ambientais específicos, da melhoria das bases de dados relevantes, e até do envolvimento activo dos orgãos militares ligados à Natureza. No entanto, tem existido um baixo investimento na investigação e monitorização das dimensões humanas inerentes ao envenenamento ilegal de animais – especiamente quando comparado com as vertentes biológicas – tanto a nível nacional como internacional. De facto, a literatura académica atual é consensual quanto à necessidade de aumentar os conhecimentos e práticas interdisciplinares na área da conservação em geral. Os profissionais da conservação estão a ser encorajados a expandir os seus focos para além da implementação de regulamentos que visam proteger os ecossistemas, de modo a dar maior importância ao estudo dos comportamentos de risco que pretendem alterar, e dos contextos sociais em que se inserem. Dado que o uso ilegal de venenos para matar animais tem persistido ao longo dos anos, apesar de novas legislações e proibições por parte de organizações ambientais, parece essencial o maior envolvimento das ciências sociais da conservação. Compreender aprofundadamente os enquadramentos sociais complexos deste envenenamento poderia contribuir para uma gestão ambiental mais eficiente e duradoura. Estes poderão estar direta ou indiretamente ligados ao uso de veneno, dado que as motivações deste comportamento podem ser relativos a conflitos humano-animal mais latos, ou até a conflitos entre pessoas/grupos. Uma região de elevado valor ecológico, na qual continuam a ser registadas repetidas mortes de animais por envenenamento (entre elas várias espécies ameaçadas), é o Parque Natural do Douro Internacional no nordeste do país. O parque apresenta uma baixa densidade populacional humana, com uma forte dependência em agricultura e pastorícia para sustento. Estas comunidades acabam por impactar – tanto positiva como negativamente – os ecossistemas em que estão inseridos e a importante fauna que neles habita (de salientar as espécies de abutres que as frequentam e nidificam). Assim, este estudo procura explorar os fatores sociais associados ao uso ilegal de venenos na região do Douro em Portugal, assim como as relações entre áreas protegidas e comunidades locais que possam influenciar este comportamento. Uma combinação de entrevistas semiestruturadas individuais e de grupo (N = 47) foi realizada em 12 aldeias, localizadas em todos os municípios do Parque Natural do Douro Internacional.engciências sociais da conservaçãoconflitos sociaisconservação de abutresdimensões humanassistema socioecológicoCharacterizing perceptions of wildlife poisoning and protected area management in the Douro International Natural Parkmaster thesis202746267