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http://hdl.handle.net/10451/59893
Título: | Tracking kinetic typography : a comparative analysis between eye movements in kinetic typography and serial presentation |
Autor: | Kuraiyté, Milda |
Orientador: | Duarte, Jorge Manuel dos Reis Tavares Bessemans, Ann |
Palavras-chave: | Design de comunicação Tipografia Cinética Movimentos oculares Leitura - suportes eletrónicos Percepção visual Distúrbios de leitura |
Data de Defesa: | 14-Jul-2023 |
Resumo: | A investigação “Tracking Kinetic Typography” pretende analisar os movimentos oculares e a leitura digital provocados pelo uso de tipografia cinética (kinetic typography) em comparação com tipografia digital estática (serial presentation). Partindo da taxonomia da tipografia temporal (temporal typography) criada por Brownie, analisamos o impacto do movimento nas diferentes categorias de tipografia cinética, sob a hipótese de que este provoca diferentes movimentos oculares e leitura digital. Com recurso ao registo dos movimentos oculares na leitura de palavras e texto apresentados utilizando tipografia cinética, definimos recomendações para a utilização de tipografia cinética em situações onde esta possa substituir ou até superar tipografia digital estática. O aparecimento e disseminação de novas tecnologias causou um crescimento rápido do uso de tipografia cinética, ao ponto de esta fazer parte do nosso dia a dia sem que demos por ela. No campo da psicolinguística existem vários estudos sobre o impacto da tipografia digital estática nos processos de leitura. Factores como o tipo de letra ou o corte podem influenciar a leitura, por exemplo em termos de velocidade de leitura ou compreensão Franken et al. (2015). O impacto da tipografia nem sempre é evidente: estudos mostram que tipos de letra que provoquem disfluência, ou seja, dificuldade no processamento cognitivo, podem provocar um processamento mais profundo e melhorar a aprendizagem (Diemand-Yauman et al., 2010). O potencial da tipografia digital estática também já é utilizado, por exemplo, para melhorar os processos de leitura de pessoas com distúrbios na leitura como dislexia ou perturbação de hiperatividade com défice de atenção (Rello & Baeza-Yates, 2016). No âmbito da tipografia cinética, o cenário é totalmente diferente. Os estudos sobre tipografia cinética existentes focam sobretudo aspectos como a definição e estruturação do conceito (Wong, 1995; Brownie, 2014) ou a técnica para a criação do movimento (Lupton, 2014). Infelizmente, praticamente não existem estudos sobre o impacto do uso de tipografia cinética nos processos de leitura, resultando num atraso significativo no conhecimento académico em comparação com o uso generalizado e crescente de tipografia cinética. A contribuição desta investigação para o conhecimento sobre tipografia cinética divide-se em duas fases. Na primeira fase, estabelecemos a medida em que a tipografia cinética é parte integral da nossa sociedade e analisamos estudos sobre o impacto da tipografia na leitura digital de modo a inferir a sua aplicação à tipografia cinética. Procuramos inicialmente entender a origem e evolução da tipografia cinética, assim como as razões que nos levam a crer que esta tendência se manterá. Fazemos também uma cronologia das contribuições científicas mais significativas deste campo de estudo que permitiram a sua progressiva estruturação, culminando na taxonomia de tipografia cinética criada por Brownie (2014). Os critérios para a criação desta taxonomia são discutidos em detalhe como ponto de partida para a sua eventual remodelação com vista a uma nova taxonomia de tipografia cinética baseada em movimentos oculares. Contextualizada a tipografia cinética como um campo da investigação de design relevante e inovador, traçamos um paralelo com os estudos na área da leitura da tipografia digital estática com o intuito de mostrar o enorme atraso no conhecimento entre leitura de tipografia digital estática e cinética. Introduzindo os conceitos relevantes para a análise dos processos de leitura, iniciamos aqui a exploração do potencial da tipografia cinética para manipular a leitura através do seu movimento, recorrendo a teorias sobre atenção, memória e em particular disfluência. Com vista a provar as hipóteses consideradas, avaliamos as metodologias existentes para análise de leitura de tipografia digital estática e estabelecemos o seu potencial para avaliação de tipografia cinética. Devido à novidade da metodologia no campo da tipografia, fazemos uma explicação particularmente detalhada da metodologia de eye-tracking, mostrando a sua relevância no campo da psicolinguística e do design e enquadrando o potencial de eye-tracking para estabelecer e interpretar as diferenças entre leitura de tipografia digital estática e cinética. Para ilustrar o potencial da metodologia eye-tracking, debruçamo-nos sobre a aplicação de eye-tracking na análise de distúrbios de leitura como dislexia e perturbação de hiperatividade com défice de atenção, sugerindo hipóteses de como a tipografia cinética poderia ser utilizada nestes casos. Na segunda fase desta investigação, testamos a nossa hipótese através de um conjunto de trabalhos experimentais utilizando eye-tracking de modo a avaliar a leitura digital provocada pelas diferentes categorias da tipografia cinética. A abordagem geral destes trabalhos passa pela criação de estímulos contendo uma palavra ou texto apresentados utilizando tipografia cinética. Os estímulos criados são mostrados a um grupo de leitores enquanto são recolhidos dados sobre os movimentos oculares dos mesmos. No final da visualização, são recolhidos dados adicionais sobre a compreensão, memorização ou preferências pessoais do participante sobre o estímulo. Os dados recolhidos são analisados com recurso a métodos estatísticos de modo a identificar as diferenças significativas entre a leitura de tipografia digital estática e cinética. Estas diferenças são então interpretadas à luz das teorias sobre o impacto da tipografia digital estática na leitura, estabelecendo-se a sua aplicação ou não no campo da tipografia cinética. O primeiro trabalho experimental aborda as semelhanças entre a tipografia digital estática e cinética, através de uma análise dos movimentos oculares e compreensão de texto utilizando tipografia rolante vertical (scrolling vertical typography). Os resultados mostram que, apresentada a uma velocidade baixa, os movimentos oculares provocados pela tipografia rolante vertical não diferem significativamente dos provocados pela tipografia digital estática, embora o mesmo não se verifique para estímulos apresentados a velocidade média ou alta, que apresentam um menor número de fixações. Contudo, em todas as velocidades a compreensão do texto foi igual, ou até ligeiramente melhor, quando utilizada tipografia rolante vertical, sugerindo que esta pode substituir a leitura de texto em tipografia digital estática. O segundo trabalho analisa a leitura de todas as categorias de tipografia cinética definidas por Brownie (2014), rolante, fluida (fluid) e elástica (elastic), mas limitada a uma palavra por estímulo. Os resultados revelam que, ao nível da leitura da palavra, não existem quaisquer diferenças significativas entre os movimentos oculares de tipografia digital estática, rolante e elástica. Por outro lado, a tipografia fluida provoca movimentos oculares distintos tais como um maior número de sacadas, maior duração total de sacadas e menor duração média de fixações. As sub-categorias de tipografia fluida construção (construction) e revelação (revelation) resultaram adicionalmente um menor número de fixações, mostrando que não existe uniformidade em nível de movimentos oculares ao nível das categorias definidas por Brownie (2014). Os resultados obtidos pelas categorias de construção e revelação, as suas semelhanças com os movimentos oculares de pessoas com distúrbios de leitura, levantam a possibilidade de estas poderem ser utilizadas como apoio para a leitura por estes grupos. O terceiro trabalho experimental aborda aspectos complementares da leitura como a memorização e preferências dos leitores, através da análise dos mesmos estímulos do segundo trabalho, de modo a facilitar a interpretação das diferenças em movimentos oculares identificadas anteriormente. Os resultados mostram uma tendência clara: as categorias de cinética local (local kineticism), nomeadamente tipografia fluida e elástica, apresentam melhores resultados tanto em termos de memorização como de preferência da parte dos participantes, embora não seja possível estabelecer uma relação concreta com os movimentos oculares provocados por estas categorias. A combinação dos resultados do segundo e terceiro trabalhos mostram como a tipografia elástica se apresenta como uma alternativa forte à tipografia digital estática, apresentando movimentos oculares semelhantes e resultados significativamente melhores em termos de memorização e preferência pessoal. Por fim, discutimos um quarto trabalho experimental, desenhado e preparado, onde se pretendia analisar em maior detalhe os resultados da tipografia fluida na leitura de frases. Embora este trabalho não tenha sido executado devido à situação de pandemia, discutimos a criação dos estímulos em tipografia fluida, assim como o potencial da tipografia fluida para provocar disfluência desejada (desired disfluency). Os nossos resultados confirmam o impacto de tipografia cinética nos movimentos oculares de diversos modos. Esta nova informação permite-nos propor uma nova taxonomia para a tipografia temporal baseada em movimentos oculares. As categorias propostas reflectem diferentes propósitos do uso de tipografia cinética, propondo uma nomenclatura que se quer simultaneamente intuitiva e estimulante, capaz de ajudar designers na exploração do potencial da tipografia cinética. Esta nova taxonomia difere da taxonomia criada por Brownie, ilustrando como a leitura de tipografia cinética é influenciada pelo movimento de um modo subtil e por vezes inesperado. Descobertas como a duração de fixações mais baixas observadas em cinética local e melhores resultados de memorização obtidos com tipografia fluida e elástica parecem confirmar as teorias existentes sobre disfluência desejada e sugerem que a tipografia fluida poderá ser utilizada para ajudar pessoas com problemas de leitura. Por fim, e não menos relevante, as semelhanças entre tipografia digital estática e as tipografias rolante e elástica sugerem que, num futuro próximo, poderemos pensar em incluir estas categorias nos nossos métodos de comunicação escrita |
URI: | http://hdl.handle.net/10451/59893 |
Designação: | Tese de Doutoramento em Belas-Artes, na especialidade de Design de Comunicação, Universidade de Lisboa, Faculdade de Belas-Artes, 2023 |
Aparece nas colecções: | FBA - Teses de Doutoramento |
Ficheiros deste registo:
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