As singularidades da Sala Chineza no Palácio da Ajuda: contextualização histórica e contributos para a sua museografia

Abstract

O objectivo deste artigo é o de trazer ao conhecimento a contextualização e as influências que levaram à concepção da Sala Chineza no Palácio da Ajuda em Lisboa, as quais ainda não foram amplamente desenvolvidas na historiografia e contribuindo assim para o seu estudo museográfico. O estudo baseia-se em fontes de arquivo e em bibliografia, complementado com uma análise comparativa a exemplos coevos e concluindo-se que a sua criação vem na tradição palaciana deste tipo de salas temáticas para a exibição de peças orientais consideradas de valor; o seu revestimento total em tecido simula uma tenda, mas a forma como foi aplicado coincidiu com a tendência de cobrir integralmente os espaços interiores e a disposição do mobiliário e das peças decorativas foi uma forma de perpetuar as ofertas diplomáticas enviadas em 1862 e em 1864 pelo então Xógum do Japão ao Rei de Portugal, características que contribuem para a singularidade e a originalidade da Sala Chineza. Efectivamente, de acordo com o estado da investigação encetada este parece ser o único exemplo em que tal aconteceu e coincide cronologicamente com a abertura do Japão ao mundo ocidental em meados do século XIX, que originou uma série de acordos e visitas diplomáticas a vários países ocidentais.

The aim of this article is to bring to the knowledge the contextualization and influences that led to the design of the Sala chineza (Chinese Room) at Ajuda Palace in Lisboa, which have not yet been widely developed in historiography and thus contributing to its museographic study. The study is based on archival sources and bibliography, complemented with a comparative analysis of contemporary examples. Concluding that its creation comes from the palatial tradition of this type of themed rooms for the exhibition of valuable oriental pieces. Its total fabric covering simulates a tent, but the way in which it was applied coincided with the tendency to fully cover the interior spaces and the arrangement of furniture and decorative pieces was a way of perpetuating the diplomatic offers sent in 1862 and 1864 by the then Shogun from Japan to the King of Portugal, characteristics that contribute to the uniqueness and originality of the Sala chineza. Indeed, according to the state of the research undertaken, this seems to be the only example in which this happened and coincides chronologically with the opening of Japan to the Western world in the mid-19th century, which gave rise to a series of agreements and diplomatic visits to various western countries.