A organização da memória semântica : hipótese de interactividade diferencial entre as representações semânticas para objectos biológicos e para objectos não biológicos

Abstract

A descrição semântica de uma entidade inclui informação baseada em propriedades físicas (atributos sensoriais) e informação baseada em propriedades abstractas que não são definidas fisicamente (atributos funcionais-associativos). Os estudos neuropsicológicos de doentes com défices categoriais específicos relançaram o debate acerca da organização desses conhecimentos. De acordo com uma hipótese de unicidade do sistema semântico, este sistema armazena o conhecimento funcional-associativo. A informação sensorial está armazenada em sistemas de reconhecimento pré-semânticos que são específicos para uma dada modalidade de informação. De acordo com uma hipótese de multiplicidade do sistema semântico, os dois tipos de propriedades estão representados em subsistemas semânticos distintos. Um pressuposto importante desta hipótese consiste em postular uma maior preponderância das propriedades sensoriais na representação dos objectos biológicos, e das propriedades funcionais-associativas na representação dos objectos não biológicos. No Estudo 1 foi averiguada a validade deste último pressuposto, recorrendo a quatro tarefas distintas: identificação de descritores sensoriais e não sensoriais em definições de dicionário; listagem de propriedades; fluência semântica; evocação auxiliada por indicadores. O padrão de resultados obtido forneceu um quadro consistente que fundamenta aquele pressuposto. Nos Estudos 2 e 3 foram avaliadas as duas propostas sobre a organização da memória semântica recorrendo a uma tarefa de verificação de proposições. A ordenação dos tempos de resposta é difícil de enquadrar na hipótese de unicidade. A hipótese de multiplicidade recebe apenas um apoio parcial. A hipótese colocada para explicar o padrão de resultados obtido é a de uma interactividade diferencial entre as representações semânticas para os objectos biológicos e para os objectos não biológicos. Os resultados obtidos com uma situação de facilitação / priming (Estudo 4) apoiaram esta hipótese.

A semantic description of an entity can include both information based on physical properties of an object (sensorial attributes ) and information based on abstract properties that are not physically defined (functional and associative attributes). Neuropsychological studies of patients with category-specific semantic memory disorders have refuelled a debate concerning the organisation of these knowledge. According to a unitary semantics hypothesis the semantic system stores functional-associative knowledge. Sensory information is held in modality specific pre-semantic recognition systems. According to a multiple semantics hypothesis the two types of properties are represented in separate semantic subsystems. A major assumption of this hypothesis is that sensorial properties are fundamental in the representation of living things , while functional-associative properties are fundamental in the representation of non-living things . In Study 1 we attempted to provide an empirical foundation for this last assumption usig four different tasks: identification of sensorial and non-sensorial descriptors in dictionary definitions; a feature generation task; a semantic fluency task; and a cued recall task. Together, the results of the four tasks offered consistent support for that assumption. In Studies 2 and 3 we evaluated the two proposals about the organisation of the semantic knowledge using a statement-verification technique.The ordering of verification latencies is difficult to accommodate within the unitary semantics hypothesis.The multiple semantics hypothesis is only partially supported. To interpret this pattern of results we proposed the hypothesis of a differential interactivity between the semantic representations for living and non-living things. The results of a priming study (Study 4) offered support for the hypothesis.