Estudo de indicadores electroencefalográficos de estados cognitivo-afectivos

Abstract

A dissertação que apresentamos reflecte o nosso interesse pelo estudo dos correlatos entre processos psíquicos e processos neurofisiológicos. Tratando-se de dois domínios epistemologicamente distintos as relações entre ambos são estudadas na perspectiva de um modelo em que o domínio psicológico é posto em confronto com os dados e processos neurofisiológicos que servem de suporte. Escolhemos para nosso tema de estudo os processos cognitivo-afectivos que têm grande significado para a explicação das vivências e dos comportamentos humanos tanto normais como patológicos. Procuramos investigar os processos cognitivos na perspectiva de uma vivência subjectiva do sujeito sem relação imediata com solicitações exteriores. Esta escolha causou problemas técnicos difíceis de resolver na medida em que não utilizava um estímulo do mundo exterior como marcador do tempo durante o qual se deveria realizar a análise dos sinais electrofisiológicos. Esta circunstância determinou a exclusão dos métodos usuais das médias que se realizam sobre dados descritos no domínio do tempo. Ficávamos assim em dificuldades para melhorar a relação sinal / ruído na análise dos dados que iríamos colher. Decidimos então pela escolha de um marcador temporal interno determinado pelo próprio sujeito que assinalaria um momento em que considerasse que se encontrava no estado cognitivo - afectivo que lhe era solicitado. Ainda assim este marcador temporal pareceu-nos pouco exacto. Pusemos então a hipótese de que a informação que procurávamos poderia estar representada no domínio da frequência durante um período compreendido entre 1 e 3 segundos. Se durante uma parte significativa desse período essa informação permanecesse estável poderíamos utilizar, para obter uma melhor relação sinal/ruído os métodos de correlação cruzada entre os sinais registados e ondas Delta repetidas periodicamente. Por outro lado considerámos que durante as fases analisadas em que estaríamos a estudar ondas periódicas faria sentido que examinássemos as relações de fase nessas ondas e não as relações de um marcador temporal inicial. Esta consideração conduziu-nos a uma situação em que podíamos realizar um processo de averaging sincronizado com a fase dos registos periódicos obtidos melhorando ainda mais a relação sinal/ruído. Esta suposição ponderava fortemente a validação da hipótese na medida em que se a informação não estivesse relacionada com a fase, o averaging iria eliminar os sinais significativos favorecendo a rejeição da hipótese inicial quanto ao significado dos sinais periódicos como correlatos de processos cognitivos. A dificuldade em analisar por intuição visualmente os resultados levou-nos por fim à escolha de um método em que as comparações eram feitas entre componentes homólogas do espectro de potência dos vários sinais. Procurámos então determinar se existiam diferenças significativas entre estados cognitivos - afectivos considerando como indicadores exclusivamente os componentes do espectro de potência. Deverá notar-se que o método utilizado, proposto por Lee, permitia a extracção de formas de onda periódicas tal como elas efectivamente ocorriam na actividade cerebral. Estávamos assim longe do ponto de vista fenomenológico da análise do sinal em termos da Transformada de Fourier. O recurso a esta transformação manteve-se no entanto quando verificámos que a análise das formas de onda seria difícil sem o apoio de uma descrição exacta dos dados que queríamos comparar. (...)