Concepções científicas e concepções pessoais sobre o conhecimento e dificuldades de aprendizagem

Abstract

Nas últimas décadas, as dificuldades de aprendizagem têm sido analisadas e estudadas de múltiplas formas, no contexto de diferentes teorias e com diferentes metodologias. Partindo do estudo de crenças epistemológicas sobre o conhecimento e sobre a aprendizagem e de uma pesquisa de concepções pessoais sobre dificuldades de aprendizagem, a autora propõe neste trabalho uma perspectiva um pouco diferente. Num a perspectiva construtivista, a aprendizagem deve ser concebida como um tempo de mudança, uma oportunidade de crescimento e de descoberta, num contexto sociocultural e pessoal específico. Nesta perspectiva, espera-se a ocorrência de dificuldades e perplexidades, em qualquer situação de aprendizagem, com resultados por vezes extremam ente positivos. No confronto com situações problemáticas, o conflito cognitivo e a descoberta de novas soluções podem contribuir para um aumento da qualidade de aprendizagem. Pelo contrário, uma visão mais tradicional, tende a conceber os problemas de forma negativa e patológica. Numa perspectiva diferencial, só alguns alunos têm dificuldades e necessidades de apoio específico e especializado. Em alternativa, este trabalho propõe uma perspectiva funcional, no pressuposto de que as dificuldades podem (e devem) surgir em qualquer situação de aprendizagem, com resultados mais ou menos positivos. Podem constituir um desafio e uma oportunidade, uma necessidade para a promoção do desenvolvimento e para uma aprendizagem mais profunda e de maior qualidade. Problemas, questões, dúvidas e erros podem contribuir e ser usados de forma mais ou menos eficaz em qualquer situação de aprendizagem. Alunos e professores podem redescobrir formas de conceber e de integrar as dificuldades de uma forma mais adaptativa e construtiva. A formação de professores e os métodos de ensino podem promover uma análise de erros e insucessos de uma forma mais funcional e contextualizada, que oriente procedimentos de intervenção e promova o desenvolvimento de competências pessoais. Incluem-se neste trabalho, quatro estudos complementares. Um questionário epistemológico, originalmente proposto para a população americana (Schommer, 1990), foi traduzido, adaptado e estudado, tendo sido desenvolvidas duas versões para uso junto de alunos do ensino secundário e universitário, respectivamente. Um terceiro estudo de natureza qualitativa permitiu a identificação de quatro perspectivas e nove concepções pessoais sobre dificuldades de aprendizagem. Por último, a autora desenvolveu um estudo preparatório de um questionário de avaliação de crenças sobre dificuldades de aprendizagem.

Learning difficulties have been studied in many ways and in very different theoretical frameworks. In this case, the author tries a slightly new perspective, which evolves from a study of students epistemological beliefs about knowledge and learning, and from a study of personal conceptions about learning difficulties. In a constructivist framework, learning is always a time for change, an opportunity of growth and discovery, in a social and personal context. Difficulties must be expected as a normal element in any learning enterprise. Difficulties may even bring new insights to the student, and increase the quality of learning. Or they can be considered in a more classical detrimental and pathological perspective. From a differential perspective, disabilities can occuronly in a few cases, and those students need specific and specialized help. From a functional perspective, difficulties may arise and even help any learning effort. They can be seen and interpreted as a personal challenge, as an opportunity, or even as a necessity to learning and development. The motivational and epistemological role of questions, doubts, problems and complexities, can be use in a more or less positive and functional mode, in any context of learning. All students and all teachers can learn how to use and understand difficulties in a more adaptative and constructive way. Teaching methods and teachers instruction must be review to increase and develop such functionalist and contextualized approach to problems and errors. Four different studies were conducted. Two different versions of an epistemological questionnaire were translated, tested and analysed, for use with university and secondary students, respectively. A qualitative study identified four major personal perspectives and nine different conceptions about learning difficulties, which can be organized in a multilevel structure. In a fourth and last study, the author explores a new questionnaire for further evaluation of personal beliefs about learning difficulties.