Um líquido metonímico : alcoolismo e relação do objecto através do Rorschach e da Escala de Mutualidade de Autonomia

Abstract

O presente trabalho é um estudo exploratório sobre as manifestações da patologia alcoólica através do Rorschach e de uma escala de relação de objecto aplicada ao Rorschach, Escala de Mutalidade de Autonomia (MOA). A ideia orientadora é a de que existirão indicadores que revelam o predomínio de características estruturais de personalidade de tipo narcísico. Espera-se que diferentes graus de desenvolvimento das relações de objecto se possam reflectir num padrão de comportamento diferencial de variáveis do Rorschach. A amostra é composta por 40 indivíduos com Síndroma de Dependência Alcoólica, internados em dois centros de tratamento de alcoolismo. Os sujeitos não apresentavam duplo diagnóstico, psiquiátrico ou orgânico, nem outras adições associadas. A análise dos níveis de desenvolvimento de relações de objecto, avaliados pela escala MOA, revelou que as modalidades de interacção mais representadas são as que sugerem a presença de relações baseadas na satisfação de necessidades (dimensão anaclítico-dependente), e as relações em que há potencialidade de uma relação mútua mas em que esta não é enfatizada (dimensão de interacção simples). A análise de Clusters permitiu evidenciar três perfis de relação de objecto que reflectem a coexistência de várias modalidades de funcionamento psíquico num mesmo indivíduo. Foi utilizada estatística não paramétrica, através de análise de correlações e análise comparativa de grupos. O Perfil 1 é constituído por indivíduos com um funcionamento mais evoluído, mais adaptativo, e uma expressão modulada dos afectos. O Perfil 2, é constituído por indivíduos com recursos ideativos reduzidos, expressão reduzida de necessidades, expressão reduzida de agressividade, tendência para simplificar situações complexas e dificuldade em lidar com as exigências da realidade. O Perfil 3 é constituído por indivíduos com bons recursos ideativos, dificuldades ao nível da modulação afectiva, vulnerabilidade à ocorrência de perturbação afectiva. Discutem-se as implicações dos resultados ao nível do planeamento das intervenções psicoterapêuticas e apontam-se novas linhas de estudo.

The study analyses the manifestations of alcoholic pathology through the Rorschach and an object relation scale, Mutuality of Autonomy Scale (MOA). The main guiding idea is that these subjects will manifest proeminent structural narcisistic personality characteristics. Thus, we hope that different object relations levels could be translatted in different features assessed by the Rorschach. A sample of men with alcoholic dependency was studied in two inpatient centers. Subjects didn't have dual diagnosis, psychiatric or organic, nor story of other addictions besides alcohol. Analysis of developmental object relation levels, assessed by MOA, revealed that interaction modalities suggesting the presence of need-satisfying relationships (anaclitic-dependency psychological dimension) and relationships where there is no stated emphasis or highlightings of mutuality (simple interaction), were the most represented in the sample. Cluster analysis made it possible to distinguish three groups of subjects, named Profile 1, Profile 2 and Profile 3, that reflect the coexistence of different object relation levels in each subject. Non-parametric statistics, correlations and comparisons, was applied between Profiles and Rorschach variables, evidencing that Profile 1 is characterized by the presence of more healthy psychological functioning, more adaptability, and a modulated expression of emotions. Profile 2 is characterized by the presence of reduced ideative resources, reduced expression of needs, reduced expression of agressiveness, tendency to oversimplify complex stimulus demand situations, difficulties in dealing with daily real demands. Profile 3 is characterized by good ideative resources, difficulties in affect modulation and vulnerability to the ocorrence of affective disturbance. The results, and their implications to psychoterapeutic interventions are discussed, as well as new lines of study.