Conflito entre pares e estratégias de coping em crianças e adolescentes, com e sem comportamentos agressivos, em contexto escolar

Abstract

Com este trabalho procurámos dar um contributo para o estudo da incidência do stressor conflito entre pares, da agressividade e das estratégias de coping mais utilizadas, pelas crianças e adolescentes. Pretendemos também contribuir para a compreensão das relações que estas variáveis estabelecem entre si e com as variáveis sócio-demográficas. O estudo exploratório realizado, de natureza correlacional, analisou a relação entre o conflito entre pares e as estratégias de coping, em 443 crianças e adolescentes, do 5º ao 9° ano de escolaridade. Também comparou dois grupos distintos: crianças e adolescentes, com (n=87) e sem (n=97) comportamentos agressivos, provenientes da mesma amostra, relativamente às variáveis mencionadas e à agressividade. Os dados foram recolhidos através de questionários de auto-relato para o conflito entre pares (QAESSCEP, construído pelas autoras) e para as estratégias de coping (SCSI, de Ryan- Wenger, 1990) e mediante a nomeação dos alunos mais e menos agressivos, por parte dos colegas e professores, e respectivo relato de agressividade através dum questionário (QACA, construído pelas autoras). O estudo empírico revelou a existência de stress (conflito entre pares) e agressividade moderados. As estratégias de coping "activas" são as utilizadas com maior frequência e consideradas mais eficazes, pelos alunos. Foram encontradas diferenças significativas relativas ao sexo, à idade e ao estatuto sócio-económico (ESE). Verificámos que a relação stress-coping-agressividade apresenta um padrão complexo, com múltiplos efeitos de interacção. Este estudo veio corroborar a relevância de uma conceptualização multidimensional do coping e da agressividade, ao identificar preditores distintos para cada uma das dimensões destes conceitos. Esta investigação permitiu-nos igualmente clarificar o papel disfuncional das estratégias de "acting out" como variáveis mediadoras e moderadoras da relação stress-agressividade e o papel do sexo como variável moderadora da relação coping-agressividade. Os resultados obtidos apoiam a necessidade de elaboração e implementação de programas de prevenção e intervenção nas escolas, a nível da agressividade.

With this work, we intend to contribute to the study of the incidence of peer conflict stressor and aggressiveness, as well as to the study of the most frequently used coping strategies, by children and adolescents. We also intend to help to understand the relations established between these variables and also between these and social demographic variables. This exploratory study, correlational in nature, examined the relationship between peer conflict and coping strategies, in 443 children and adolescents, 5th to the 9th graders. We also compared two groups, from the same sample: children and adolescents, with (n=87) and without (n=97) aggressive behaviour, with respect to the previous variables, and also to aggressiveness. Data was collected using self-report questionnaires regarding peer conflict stressor (QAESSCEP, designed by the authors) and coping strategies (SCSI, Ryan-Wenger, 1990), and through the nomination of the more and less aggressive pupils, by their peers and teacher, and respective hetero-report questionnaire of aggressiveness (QACA, designed by the authors). The study revealed moderate levels of peer conflict stress and aggressiveness. "Active" strategies of coping were the most used, by the students, who also considered them as the most efficient. There were significant differences found according to sex, age and socio economic status (SES). Findings also revealed that the relationship stress-coping-aggressiveness has a complex pattern, with multiple interaction effects. This study corroborates the relevance of a multidimensional conceptualization of coping and aggressiveness, by identifying distinct predictors for each dimension of these concepts. This study allowed us to clarify the disfunctional role of "acting out" strategies as mediator and moderator variables in the relationship stress-aggressiveness and the role of sex as a moderator variables between coping and aggressiveness. The results support the need for elaboration and implementation of prevention and intervention programmes in schools, regarding aggressiveness.