Dimensões do perfeccionismo e perturbações do comportamento alimentar : estudo da sua relação e do suporte social e coping como possíveis variáveis mediadoras

Abstract

A prevalência actual e a incidência das Perturbações do Comportamento Alimentar (PCA) sugerem que este tipo de perturbação tem sofrido uma evolução crescente, e até mesmo preocupante, na sociedade portuguesa. Uma quantidade inumerável de factores biológicos, psicológicos e sociológicos, tem sido implicada no desenvolvimento e manutenção das PCA (e.g., Garner & Garfinkel, 1997). O perfeccionismo tem sido identificado como um dos traços de personalidade com influência na emergência das mesmas (e.g., Hewitt & Flett, 1993). Por conseguinte, considerou-se como principal objectivo deste estudo a clarificação da problemática geral do perfeccionismo, entendido como um constructo multidimensional (Frost, Marten, Lahart et al., 1990) e como variável predisponente no desenvolvimento e manutenção das PCA na população portuguesa. Para o efeito, compararam-se três grupos não equivalentes, designadamente, um grupo de pessoas com PCA (N=33), um grupo com participantes sem PCA, mas com outro tipo de perturbação psicológica (N=39), e um grupo composto por estudantes universitários (N=68). O perfeccionismo foi medido pela Escala de Perfeccionismo Multidimensional (MPS; Frost & Rosenblate, 1990), assim como pela Escala de Apresentação do Self Perfeccionista (PSPS; Hewitt, Flett, Sherry et al., 2002). As PCA foram avaliadas a partir do Inventário de Perturbações do Comportamento Alimentar-2 (EDI-2; Garner, Olmstead & Polivy, 1983). Apresentam-se todos os resultados relativos à análise de diferenças entre grupos quanto às diferentes variáveis de interesse em estudo. Os resultados revelam-se significativos relativamente a todas as hipóteses colocadas quanto ao tipo de relação entre o perfeccionismo e PCA, incluindo as diferenças entre os grupos. Foram igualmente exploradas as variáveis mediadoras dessa relação, mais especificamente, o suporte social e o coping. Em modelos de regressão múltipla hierárquica, apenas o suporte social acresceu poder explicativo à variância explicada pelo perfeccionismo em relação aos índices de PCA . Enunciam-se as implicações para a prática clínica e para a investigação do presente estudo.

Recent studies of the prevalence of eating disorders suggest that it has been evolving in a growing and concerning trend in the Portuguese population. A variety of biological, psychological and sociological factors have been implicated in the development and maintenance of eating disorders (Garner, D. M. & Garfinkel, P. E., 1997). Perfectionism has been identified as one of such factors. As such, the present study aimed primarily at exploring the relationship between perfectionism, as a multidimensional construct (Frost, R.O., Marten, P., Lahart, C.,& Rosenblate, R., 1990), and eating disorders in the Portuguese population. Specifically, we conducted a comparison among three different groups of participants, namely, a group of patients with eating disorders (N=33), a group of patients without eating disorders (N=39), and a control group composed of college students (N=68). Perfectionism was assessed through the Multidimentional Perfectionism Scale (MPS; Frost, M. & Rosenblate, R., 1990) and the Perfectionistic Self-Presentation Scale (PSPS; Hewitt, Flett, Sherry et al., 2002). The Eating Disorders Inventory (EDI-2; Garner, D. M. Olmstead, M. P. & Polivy, J., 1983) was used to measure its Eating Disorders severity. Results are presented with regards to both the relationship between eating disorders and perfectionism, including the exploration of mediating variables, and the differences among the three groups. Implications will be drawn for clinical practice and future research. Results are presented concerning the analyses of group differences with reference to the different interest variables. Results were statistically significant regarding all study hypotheses pertaining to the relationship between perfeccionism and eating disorders, including differences among the groups. Mediating variables of that relationship were also explored, specifically, social support and coping. In hierarchical multiple regression models, only social support significantly added to the predictive variance of perfeccionism to account for eating disorders’ symptoms. Implications for clinical practice and research are offered.