Estilo de vida e dieta mediterrânica como co-determinantes para a presença e severidade da metaplasia intestinal

Abstract

Introdução: O cancro gástrico é, a nível mundial, o quinto cancro mais comum e o quarto mais mortal. A metaplasia intestinal gástrica é uma lesão pré-cancerígena e a sua progressão pode resultar em cancro gástrico. Fatores de estilo de vida modificáveis, nomeadamente hábitos tabágicos, alcoólicos e alimentares têm vindo a ser associados ao risco de cancro gástrico. A Dieta Mediterrânica tem sido alvo de estudo pelo seu potencial efeito protetor no desenvolvimento de cancro gástrico, porém o seu impacto no desenvolvimento e progressão da metaplasia intestinal gástrica ainda não é claro. Assim este estudo tem como objetivo avaliar a associação entre o estilo de vida e a Dieta Mediterrânica na presença e severidade da metaplasia intestinal gástrica. População e métodos: Trata-se de um estudo observacional transversal que incluiu 273 participantes seguidos no Centro Clínico Champalimaud. A presença e severidade de MIG foi estudada através de endoscopia digestiva alta de alta resolução com narrow band imaging. Foram realizadas avaliações clínicas e antropométricas bem como recolhidas informações relativamente ao estilo de vida e hábitos alimentares. Foi aplicado um questionário de frequência alimentar validado para a população portuguesa e o questionário PREvención com Dieta MEDiterránea. Resultados: A idade (OR=1,06; 95%IC: 1,03 - 1,09) e história de infeção por Helicobacter pylori (OR=2,82; 95%IC: 1,57 - 5,08) foram fatores de risco significativos para a presença de metaplasia intestinal gástrica na presente amostra. Os mesmos fatores, idade (OR=1,05; 95%IC: 1,03 - 1,07), e ausência de história de infeção por Helicobacter pylori (OR=0,47; 95%IC: 0,32 – 0,68) e a ausência de história familiar de cancro gástrico (OR=0,56; 95%IC: 0,36 – 0,87) associaram-se à severidade da metaplasia intestinal gástrica. Não foi observada uma associação significativa entre os fatores de estilo de vida e o desenvolvimento e progressão de metaplasia intestinal gástrica. Relativamente à Dieta mediterrânica, uma baixa adesão aumentou de forma não significativa o risco de desenvolver metaplasia intestinal gástrica severa (OR=1,17; 95%IC: 0,57 – 2,43). O incumprimento da Dietary Reference Intake do ferro associou-se de forma tendencialmente não significativa à severidade da metaplasia intestinal gástrica (OR=1,74; 95%IC: 0,92 – 3,29; p=0,083). O grupo com esta lesão apresentou ainda valores de ingestão média de folato inferiores ao grupo sem lesão (p=0,087). Conclusões: No presente estudo, idade, história familiar de cancro gástrico e historial de infeção por Helicobacter pylori foram identificados como fatores de risco para a presença e severidade de metaplasia intestinal gástrica. A ingestão de folato no grupo com metaplasia intestinal gástrica foi marginalmente inferior à do grupo sem lesão. Uma baixa adesão à Dieta Mediterrânica e incumprimento da Dietary Reference Intake do ferro foram associados, ainda que de uma forma não significativa, a uma maior severidade de metaplasia intestinal gástrica.

Background: Gastric cancer is, worldwide, the fifth most diagnosed cancer and the fourth more lethal. Gastric intestinal metaplasia is a pre-cancerous lesion, and its progression can lead to the development gastric cancer. Lifestyle factors, namely, smoking, alcohol consumption and diet have all been associated with the risk of gastric cancer. The Mediterranean Diet has been a target of interest in the oncology area due to its potential beneficial effect in the development of various cancer including gastric cancer. The impact of lifestyle factors and the Mediterranean Diet on the development and progression of gastric intestinal metaplasia it’s not clear. The aim of this study is to evaluate de association between lifestyle and the Mediterranean Diet on the presence and severity of gastric intestinal metaplasia. Patients and Methods: This observational study included 273 participants followed in the Champalimaud Clinical Centre. The presence and severity of gastric intestinal metaplasia qas assessed through an upper endoscopy high resolution with narrow band imaging. Clinical and anthropometric evaluations were also performed and information about the lifestyle and eating habits were collected. A food frequency questionary validated to the Portuguese population and the PREvención com Dieta MEDiterránea questionary were applied. Results: Age (OR=1,06; 95%CI: 1,03 - 1,09) and history of Helicobacter pylori infection (OR=2,82; 95%CI: 1,57 - 5,08) were considered risk factors for the presence of gastric intestinal metaplasia in the present study. The same factors, age (OR=1,05; 95%CI: 1,03 - 1,07) and absence of history of Helicobacter pylori infection (OR=0,47; 95%CI: 0,32 – 0,68) and absence of family history of gastric cancer (OR=0,56; 95%IC: 0,36 – 0,87) were associated with the severity of gastric intestinal metaplasia. An association between lifestyle factors and the development and progression of gastric intestinal metaplasia was not observed. A low adherence to the Mediterranean Diet increased the risk of the severity of gastric intestinal metaplasia but the results were non-significant. The unfulfillment of the Dietary Reference Intake of iron was associated with the severity of gastric intestinal metaplasia. The group with this lesion also had a lower ingestion of folate compared to the group without lesion. Conclusion: In this study, age, family history of gastric cancer and history of helicobacter pylori infection were considered risk factors for the presence and severity of gastric intestinal metaplasia. The group with gastric intestinal metaplasia had a marginally lower ingestion of folate compared to the group without lesion. A low adherence to the Mediterranean Diet and the unfulfillment of the Dietary Reference Intake of iron were associated with a higher severity of the gastric intestinal metaplasia but the results weren’t statistically significant.