As metamorfoses da escravatura moderna. Trabalho, autopropriedade e o problema da escravatura na história do capitalismo

Abstract

Embora a escravatura seja ilegal em todo o mundo, diversos organismos internacionais têm avançado com estimativas de milhões de escravos ou de situações próximas da escravatura no mundo contemporâneo. Este paradoxo da chamada “escravatura moderna” e sua controvérsia apenas pode começar a ser esclarecido a partir duma análise retrospectiva da constituição e dinâmica histórica da forma social do capitalismo e das correspondentes metamorfoses da escravatura desde o século XV. Através de um aprofundamento do conceito de escravatura e da historicidade das categorias fundamentais da crítica da economia política marxiana, à semelhança do realizado recentemente pelo paradigma da “crítica do valor”, são discutidos os materiais empíricos e grelhas conceptuais envolvidos nos sucessivos debates económicos e historiográficos das últimas décadas sobre a relação, tantas vezes considerada paradoxal, entre escravatura e capitalismo. O autor procura mostrar que o esclarecimento dessa relação processual passa pela historicidade das formas sócio-económicas do “trabalho” e da “autopropriedade”.

Although slavery is illegal throughout the world, several international organizations have advanced estimates of millions of slaves or situations close to slavery in the contemporary world. This paradox of the so-called “modern slavery” and its controversy can only begin to be clarified from a retrospective analysis of the constitution and historical dynamics of the social form of capitalism and the corresponding metamorphoses of slavery since the 15th century. Through a deepening of the concept of slavery and the historicity of the fundamental categories of the Marxian critique of political economy, similarly to what was recently carried out by the paradigm of the “critique of value”, the empirical materials and conceptual frameworks involved in the successive economic and historiographical debates are discussed. of recent decades on the relationship, so often considered paradoxical, between slavery and capitalism. The author seeks to show that the clarification of this procedural relationship passes through the historicity of the socio-economic forms of “labor” and “self-ownership”.