Vivências de homens pais na articulação entre trabalho de cuidado infantil e trabalho remunerado: um estudo qualitativo

Abstract

As configurações familiares têm sido tema de pesquisas que visam identificar a inter-relação entre a vida pessoal e profissional de homens e mulheres (Torres, 2004). Desde as denúncias dos movimentos feministas quanto aos trabalhos realizados em nome do “dever e amor materno” (Hirata & Kergoat, 2007, 596), a sobrecarga feminina com os trabalhos de cuidado infantil e afazeres domésticos (Perista et al., 2016) e estudos sobre as masculinidades (Butler, 2003; Connell & Messerschmidt, 2013), evidenciaram o papel obsoleto de homem-ganha-pão. Este dilema entre o papel social enraizado como provedor e o desejo de maior envolvimento com os/as filhos/filhas, é tema central para analisar as chamadas práticas da masculinidade cuidadora (Cunha et al., 2016). Neste estudo, buscou-se identificar, utilizando a estratégia de pesquisa qualitativa, quais percepções dos homens pais, de crianças até 12 anos, quanto à articulação do trabalho de cuidado infantil e o trabalho remunerado. As entrevistas realizadas com 15 participantes, foram posteriormente transcritas e analisadas com auxílio do software MaxQDA. Os achados corroboram a literatura, uma realidade ainda distante da equidade. A maioria destes entrevistados indica nas suas percepções as práticas que configuram a masculinidade cuidadora. Eles destacam as dificuldades em conciliar as duas esferas, mas também a reconhecida sobrecarga feminina. Os entrevistados não questionam a autoimagem das suas masculinidades ao executarem tarefas no lar ou com os/as filhos/filhas. No entanto, sentem o abismo entre seus desejos de envolvimento e a disparidade da legislação da licença exclusiva do pai, os desconfortos com brincadeiras irônicas feitas por alguns colegas que deslegitimam a paternidade. Acreditam que as barreiras só serão superadas com incentivos por parte do Estado, das empresas empregadoras, da família e principalmente de atitude favorável dos homens. Refletem que a mudança é possível e está em curso por parte deles.

The reconfigurations of family structures have been the subject of research aiming to identify the interrelation between the personal and professional lives of both men and women (Torres, 2004). Since the feminist movements' denunciations of unpaid work carried out under the name of "maternal duty and love" (Hirata & Kergoat, 2007, p.596), the female overload with childcare and domestic tasks (Perista et al., 2016), and studies on masculinities (Butler, 2003; Connell & Messerschmidt, 2013), attention has been drawn to the outdated and ingrained role of the male breadwinner. The dilemma between the traditional role of provider and the desire for greater involvement with children is the central theme for analyzing caregiving masculinities (Cunha et al., 2016). This study aimed to identify the perceptions of fathers of children up to 12 years old regarding the articulation between childcare and paid work, through qualitative research based on semi-structured interviews. Interviews with 15 participants were transcribed using MaxQDA software. The analysis corroborates the existing literature, highlighting a reality still far from achieving equity. Nevertheless, most respondents indicated practices aligned with caregiving masculinities. They emphasized the difficulties of balancing time between the two spheres and acknowledged the persistent female overload. Participants did not question their masculinity when performing household or childcare tasks. However, they reported feeling the gap between their desire for greater involvement and the disparities in paternity leave legislation, as well as discomfort with ironic jokes from colleagues that delegitimize fatherhood. They believe that overcoming these barriers will require incentives from the state, employers, families, and, above all, a favorable attitude from men themselves. They reflect that change is possible and already underway.