Interaction design for dementia: an interactive system to enhance procedural memory

Abstract

A prevalência de demência tem vindo a aumentar, com aproximadamente 10 milhões de novos casos diagnosticados todos os anos. Esta é uma doença que se caracteriza pela deterioração da memória e das outras funções cognitivas, acabando por a sua progressão e sintomas ser muito díspar de pessoa para pessoa. As pessoas que vivem com demência acabam por enfrentar diversos desafios na sua vida quotidiana, como a perda de independência na realização de atividades da vida diária. Apesar das dificuldades, a memória procedimental nestas pessoas mantém-se relativamente intacta durante um período mais longo. Desta forma, as dificuldades sentidas na realização de atividades do dia-a-dia, ajudadas através da utilização da memória procedimental, foi o mote para o desenvolvimento desta dissertação. O objetivo foi através do design de interação, criar um sistema interativo (prova de conceito) que estimula a memória procedimental de pessoas com demência moderada, no contexto de realização de atividades diárias básicas, por forma a promover a sua independência e retardar o desenvolvimento da doença. Com o objetivo de obter os conhecimentos teóricos para a idealização do sistema interativo, realizou-se uma revisão de literatura nas principais áreas de estudo: design de interação, demência e tecnologia. No que diz respeito à revisão de literatura na área da demência, investigou-se sobre os tipos de demência existentes, as diversas fases da mesma, formas de prevenção, intervenção, reabilitação e cognição (memória, aprendizagem e perceção das pessoas que vivem com demência). Na pesquisa relativa à reabilitação em demência, foi possível identificar os diferentes tipos de reabilitação, tendo-se destacado o treino cognitivo, uma vez que este combinado com a prática de atividades da vida diária, permite promover uma associação procedimental entre a aprendizagem de uma atividade e os passos necessários para a concretização da mesma. No estudo da memória, procurou-se compreender como esta se organiza, tendo existido um maior foco na memória procedimental, uma vez que esta se mantém intacta durante períodos temporais mais alargados em pessoas com demência. Foram ainda analisados diversos estudos que tiveram como objetivo estimular a memória procedimental, por forma a compreender como é que os conhecimentos obtidos pelos investigadores, poderiam ser aplicados no sistema interativo a ser conceptualizado e desenvolvido. Com isto, o treino cognitivo e a memória procedimental, foram a base para o desenvolvimento do sistema idealizado. Ainda na área de estudo da demência, foram exploradas as perspetivas dos utilizadores do sistema (pessoas com demência, cuidadores e profissionais de saúde), relativamente a como experienciam a doença, por forma a compreender as necessidades de cada um e assim ser possível desenvolver uma solução mais adequada. Já na revisão de literatura na área do design de interação, foi estudada uma abordagem (Positive Person Work) que tem como objetivo considerar as necessidades psicológicas, a personalidade da pessoa com demência e ainda o seu bem-estar. Posteriormente, procurou-se compreender que aspetos são necessários ter em conta no desenvolvimento de interações para pessoas que vivem com demência, tendo sido verificada uma escassez de informação nesta área. As interações desenvolvidas para pessoas que vivem com demência deverão ser familiares, tangíveis, multissensoriais e requererem um esforço físico mínimo. No caso de a pessoa que vive com demência sentir dificuldades visuais, deverá dar-se preferência à interação através de voz, enquanto se as dificuldades sentidas forem ao nível da compreensão verbal, a interação com a pessoa com demência deverá ser através de pequenos vídeos que demonstram a ação que deverá ser espelhada por ela. Ainda inserido na área de estudo do design de interação, foram exploradas soluções existentes no mercado para pessoas com demência para a realização das suas atividades diárias, tendo sido apresentadas quatro dessas. Na revisão de literatura na área da tecnologia, foram identificados os diferentes domínios no desenvolvimento de tecnologia para pessoas que vivem com demência, bem como as “tentações” existentes, designação dada por existirem inúmeras possibilidades oferecidas pela tecnologia para a conceção de soluções. Posteriormente foi explorada uma das áreas identificadas anteriormente, as tecnologias de assistência, por permitir obter o conhecimento necessário para o desenvolvimento da solução interativa, uma vez que a utilização destas pode permitir às pessoas que vivem com demência manter as capacidades cognitivas necessárias para a realização das suas atividades diárias. No entanto, alerta-se para o facto de ser essencial que as tecnologias de assistência sejam capazes de se adaptar automaticamente de acordo com as necessidades das pessoas que vivem com demência, sendo apresentado como solução para este problema a integração de inteligência artificial. Exploraram-se também as possibilidades existentes com a integração de inteligência artificial no design de tecnologias para pessoas com demência, bem como a perspetiva destas relativamente à utilização de inteligência artificial. No final foram ainda referidas considerações éticas relativas a tecnologias de assistência, que são necessárias de ter em conta para ser possível garantir a aceitação do sistema interativo conceptualizado e desenvolvido. Terminada a revisão de literatura nas áreas da demência, design de interação e tecnologia, foi desenvolvido um mapa cognitivo que permitiu sintetizar toda a informação obtida e consequentemente identificar três proto-personas (pessoa que vive com demência, cuidadores e profissionais de saúde) e respetivos contextos de utilização, formando assim um ecossistema. O ecossistema é composto por objetos interativos, a serem utilizados pelas pessoas que vivem com demência na realização de quatro atividades diárias (lavar os dentes, escovar o cabelo, lavar as mãos e beber água); a assistente virtual Mountage, que acompanha a pessoa com demência na realização das atividades, sendo através de inteligência artificial que é capaz de adequar a sua interação com a pessoa com demência, consoante as suas necessidades e dificuldades e por fim o ecossistema inclui ainda a aplicação Mountage, a ser utilizada por cuidadores e profissionais de saúde, pretendendo dar resposta as necessidades destes dois tipos de utilizadores que foram identificadas na fase de revisão de literatura. Para comunicar o sistema interativo Mountage foi desenvolvido um customer journey; proto personas de cada tipo de utilizador identificado; requisitos funcionais e não funcionais dos objetos, assistente e aplicação; esboços dos objetos interativos; flow de interação com os objetos Mountage; protótipos em 3D dos objetos e assistente Mountage; arquitetura de informação da aplicação Mountage e protótipo da mesma. Foi ainda desenvolvida a linguagem visual do sistema interativo Mountage, com a definição das cores, tipografia e logotipo. Depois de idealizado o sistema interativo prosseguiu-se para a fase de avaliação do mesmo, em que os objetos interativos foram avaliados por uma especialista com experiência em gerontopsicomotricidade, enquanto a aplicação foi avaliada inicialmente por heurísticas e posteriormente por cuidadores informais. Na avaliação com a especialista, apesar de terem sido referidos aspetos a serem melhorados numa próxima iteração, foi referido o potencial de os objetos serem utilizados pelas pessoas que vivem com demência e de ajudarem no trabalho diário da própria especialista (gerontopsicomotricista e investigadora nessa área). Já na avaliação da aplicação Mountage com cuidadores, as tarefas desempenhadas foram intuitivas e sem ambiguidades, não tendo sido por isso necessária muita assistência ao longo da avaliação. Esta dissertação permitiu assim gerar um contributo para a área do design de interação, com a criação do sistema interativo Mountage, que é capaz de dar resposta às necessidades das pessoas que vivem com demência, cuidadores e profissionais de saúde, estando na origem deste o estudo da interligação entre as áreas do design de interação, demência e tecnologia.

The prevalence of dementia has been increasing, with approximately 10 million new cases diagnosed every year. People living with dementia end up facing several challenges in their daily lives, which prompted the development of this dissertation. Literature showed that cognitive training combined with the practice of activities of daily living makes it possible to promote a procedural association between learning an activity and the steps needed to carry it out, since procedural memory remains intact over a longer period of time as the disease progresses. This rationale was the basis for developing the current dissertation. Our literature review also showed that the development of interactions for people with dementia should be familiar, tangible, multisensory and require minimal physical effort. A proof of concept of an interactive system was proposed, called Mountage, which includes interactive objects to be used by people living with dementia to carry out daily activities which are monitored by the Mountage virtual assistant. For caregivers and health professionals, a Mountage application was also proposed. In evaluation phase, the interactive objects were evaluated by a specialist in gerontopsychomotricity and the application by informal caregivers. The evaluation showed potential for the objects to be used by people living with dementia. In the evaluation of the Mountage application with caregivers, the tasks performed were intuitive and unambiguous, so not much assistance was needed throughout the interaction with the application. This dissertation made it possible to generate a contribution to the area of interaction design, with the creation of the interactive system Mountage, which can respond to the needs of people living with dementia, caregivers and healthcare professionals, being at its origins the study of the interconnection between the areas of interaction design, dementia and technology.