Uso de analgésicos e antibióticos em ovariohisterectomias eletivas de cadelas e gatas pelos médicos veterinários portugueses

Abstract

A escolha de fármacos analgésicos e antibióticos em ovariohisterectomias de cadelas e gatas pelos Médicos Veterinários portugueses é um tema pouco documentado. A diversidade de fármacos disponíveis permite múltiplas associações analgésicas, tornando importante a análise das práticas adotadas. Este estudo teve como objetivos descrever os protocolos analgésicos e antibióticos utilizados em ovariohisterectomias eletivas de cadelas e gatas, verificar a sua conformidade com as diretrizes mais recentes e identificar potenciais lacunas na prática clínica. Para tal, foi conduzido um inquérito disponibilizado por via informática, respondido por 134 Médicos Veterinários, abrangendo questões sobre analgesia, antibioterapia e perfil sociodemográfico e técnico-científico dos participantes. Os resultados revelaram uma diversidade considerável nos protocolos analgésicos, com tendência predominante para abordagens preventivas e multimodais. Os opioides e os agonistas α-2 adrenérgicos são amplamente utilizados na fase pré-cirúrgica, enquanto os anti-inflamatórios não esteróides predominam no período pós-cirúrgico. Observou-se, contudo, uma subutilização de analgesia intra-cirúrgica, com 37,9% (44/116) dos Médicos Veterinários a não administrar qualquer fármaco analgésico em cadelas e 53,2% (67/126) em gatas. Em relação à antibioterapia, 58,2% (78/134) dos Médicos Veterinários administra antibióticos em cadelas e 56,7% (76/134) em gatas. O protocolo mais adotado (46%, 36/78 em cadelas e 35/76 em gatas) consistiu na administração em dois momentos: pré e pós cirúrgico, destacando-se o uso de amoxicilina associado ao ácido clavulânico. A prescrição profilática de antibióticos apresentou associações estatisticamente significativas (P < 0,05) com o género do Médico Veterinário, a realização de formação adicional em cirurgia, a atuação em outras áreas da Medicina Veterinária além da clínica de pequenos animais e a duração das cirurgias em gatas, conforme demonstrado por testes de associação e modelos de regressão logística. Conclui-se que, embora se reconheçam esforços para práticas baseadas em evidências científicas, persistem lacunas na uniformidade dos protocolos e na aplicação das recomendações. Incentiva-se a formação contínua e a sensibilização para o uso adequado e racional dos fármacos analgésicos e antibióticos, de modo a contribuir para a evolução dos cuidados Médico-Veterinários peri-cirúrgicos em Portugal

ABSTRACT - USE OF ANALGESICS AND ANTIBIOTICS IN ELECTIVE OVARIOHYSTERECTOMIES OF FEMALE DOGS AND CATS BY PORTUGUESE VETERINARIANS - The choice of analgesic and antibiotic drugs in ovariohysterectomies of female dogs and cats by Portuguese veterinarians is a topic that remains poorly documented. The wide range of available drugs allows multiple analgesic associations, making it crucial to analyze the practices adopted. This study aimed to describe the analgesic and antibiotic protocols used in elective ovariohysterectomies of female dogs and cats, assess their compliance with the latest guidelines, and identify potential gaps in clinical practice. To this end, a survey was conducted and made available online, answered by 134 veterinarians, covering questions about analgesia, antibiotic therapy, and the sociodemographic and technical-scientific profile of the participants. The results revealed considerable diversity in analgesic protocols, with a predominant trend toward preventive and multimodal approaches. Opioids and α-2 adrenergic agonists are widely used in the pre-surgical phase, while non-steroidal anti-inflammatory drugs predominate in the post-surgical period. However, intraoperative analgesia was found to be underutilized, with 37,9% (44/116) of veterinarians not administering any analgesic drugs to female dogs and 53,2% (67/126) to female cats. Regarding antibiotic therapy, 58,2% (78/134) of veterinarians administer antibiotics to female dogs and 56,7% (76/134) to female cats. The most commonly adopted protocol (46%, 36/78 for female dogs and 35/76 for female cats) involved administration at two points: pre- and post-surgery, with amoxicillin associated with clavulanic acid standing out. The prophylactic prescription of antibiotics showed statistically significant associations (P < 0.05) with the veterinarian’s gender, the additional surgical training, working in areas of Veterinary Medicine beyond small animal practice, and the duration of surgeries in cats, as demonstrated by association tests and logistic regression models. In conclusion, although efforts toward evidence-based practices are recognized, gaps persist in the uniformity of protocols and the application of recommendations. Continuous education and awareness of the appropriate and rational use of analgesic and antibiotic drugs are encouraged to contribute to the advancement of peri-surgical veterinary care in Portugal