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http://hdl.handle.net/10400.5/101136
Título: | Niche precision modeling for rare species : the case of coastal cliffs |
Autor: | Rodrigues, João Pereira |
Orientador: | Branquinho, Cristina Vinuesa, Sergio Chozas |
Palavras-chave: | Plantas rupícolas Euphorbia pedroi Métodos de amostragem de plantas Nicho Ecológico Veículo Aéreo Não Tripulado Teses de mestrado - 2025 |
Data de Defesa: | 2025 |
Resumo: | As falésias costeiras são ecossistemas por norma intactos devido ao seu difícil acesso, servindo de
refúgio para espécies raras e ameaçadas, no entanto estas também sofrem ameaças à sua biodiversidade,
tais como as alterações climáticas, alterações no uso do solo e pressões significativas por parte de
espécies exóticas invasoras, como Carpobrotus edulis que modificam os habitats e interferem nas
interações bióticas. Esta planta, introduzida na Europa como ornamental no século XVII, é altamente
invasiva e altera as características do solo, prejudicando a regeneração da flora nativa. No contexto
português, o Cabo Espichel alberga espécies endémicas ameaçadas, como Euphorbia pedroi e
Convolvulus fernandesii, cuja conservação é prejudicada pela expansão de C. edulis. A presença desta
espécie invasora pode restringir ainda mais os nichos ecológicos já especializados destas plantas, ao
alterar a disponibilidade de recursos e a dinâmica competitiva. A definição precisa dos fatores
ambientais que moldam a distribuição das espécies endémicas, e portanto, do nicho ecológico, é
essencial para o desenvolvimento de estratégias eficazes de conservação e restauro ecológico. A
investigação da vegetação em falésias tem sido limitada por desafios logísticos, sendo tradicionalmente
realizada através de telescópios terrestres ou escalada, métodos que apresentam riscos e dificuldades
operacionais. Neste sentido, os avanços na deteção remota, particularmente através de veículos aéreos
não tripulados, abriram novas possibilidades para a monitorização e cartografia da vegetação rupícola.
No entanto, técnicas como fotogrametria vertical e oblíqua ainda enfrentam dificuldades, como
problemas de oclusão ou sobreposição nos setores verticais e necessidade de elevadas competências de
pilotagem manual, podendo isto comprometer a resolução e precisão dos modelos tridimensionais
gerados. Perante estas ameaças e desafios metodológicos, a Mossy Earth tem implementado ações de
restauro ecológico no Cabo Espichel, controlando a propagação de C. edulis e promovendo a
participação de escaladores na conservação da flora endémica. Como parte deste projeto, este estudo
tem como objetivo avaliar as melhores ferramentas para a identificação e cartografia das espécies E.
pedroi, e potencialmente C. fernandesii e C. edulis, utilizando tecnologias inovadoras para compreender
a relevância das variáveis topográficas na sua distribuição utilizando fotogrametria horizontal. A
definição precisa dos nichos ecológicos destas plantas permitirá não apenas orientar ações de
conservação, mas também apoiar futuros esforços de restauro e reintrodução em habitats adequados. O
estudo foi realizado no Cabo Espichel, situado no sudoeste da Península de Setúbal, Portugal. A zona
de estudo abrange um quilómetro de falésias verticais e está inserida em três sistemas de conservação
distintos: a Zona Especial de Conservação Arrábida/Espichel, o Parque Natural da Arrábida e a Zona de
Proteção Especial Cabo Espichel. A vegetação apresenta endemismos como E. pedroi e C. fernandesii,
enquanto C. edulis, uma espécie invasora, representa uma ameaça significativa para a flora nativa. A
cartografia das espécies foi realizada com um veículo aéreo não tripulado e o planeamento do voo foi
efetuado com o software UgCS, permitindo a captura de 1.990 imagens de alta resolução. O
processamento das imagens foi realizado no Pix4Dmatic, dividindo-se a área de estudo em três secções.
A identificação das espécies vegetais foi inicialmente tentada através de técnicas automáticas, como a
análise de cor RGB e o plugin CANUPO para classificação de nuvens de pontos. No entanto, devido à
baixa precisão destes métodos, optou-se pela identificação manual dos indivíduos de E. pedroi. A
caracterização do ambiente topográfico foi realizada através da extração de variáveis altimétricas e
topográficas das nuvens de pontos, nomeadamente altitude, inclinação e azimute. Para garantir maior
precisão, os dados foram calibrados com um Modelo Digital de Terreno de referência. Posteriormente,
a modelação da distribuição de E. pedroi foi efetuada utilizando um modelo Random Forest, com um
conjunto de treino correspondente a 70% dos dados e um conjunto de teste com os restantes 30%. A
análise de importância das variáveis revelou que a inclinação e a orientação do terreno foram os
principais determinantes na distribuição da espécie. Os resultados obtidos foram utilizados para prever
a presença de E. pedroi numa secção adicional da falésia, demonstrando a aplicabilidade do modelo na identificação de nichos ecológicos favoráveis à espécie. Este estudo destaca a eficácia da utilização de
veículos aéreos não tripulados na monitorização de vegetação rupícola e na cartografia detalhada de
habitats inacessíveis, contribuindo para a conservação de espécies endémicas ameaçadas e representa
um avanço significativo na compreensão das metodologias utilizadas para monitorizar populações de
plantas rupícolas, identificando as técnicas disponíveis para a sua deteção e caracterizando as condições
topográficas favoráveis à sua ocorrência com alta resolução espacial. A pesquisa demonstra que a
combinação de software de controlo de drones de alta resolução com técnicas de fotogrametria e análise
de nuvens de pontos 3D constitui uma abordagem eficiente para estudar populações de plantas
endémicas em ambientes desafiadores, como falésias costeiras. Esta metodologia permite a identificação
ex-situ das espécies e a extração de dados morfológicos detalhados, reduzindo o esforço de amostragem
e o impacto ambiental. No caso da espécie validada, Euphorbia pedroi, os resultados indicam que o seu
nicho fundamental está associado a características topográficas específicas: altitude média de 62,66
metros, inclinação de 62,69° e orientação de 192,65° (Sul-Sudoeste). Estes achados corroboram estudos
anteriores, mas avançam na quantificação exata das condições topográficas mais favoráveis à espécie.
Através das métricas Mean Decrease Accuracy (MDA) e Mean Decrease Gini (MDG), verificou-se que
a orientação e a inclinação tiveram maior influência na precisão preditiva, enquanto que a altitude teve
um papel mais relevante na segmentação dos dados. Estas conclusões são fundamentais para a
conservação da espécie, permitindo a identificação e priorização de áreas para proteção e restauração
do habitat. A metodologia adotada demonstra que a cartografia de falésias com veículos aéreos não
tripulados é uma ferramenta valiosa para a investigação e monitorização de populações vegetais em
falésias. O mapeamento da falésia vertical de Cabo Espichel foi realizado em apenas duas horas de voo,
proporcionando uma resolução espacial excecional. Embora o processamento de imagens e a extração
de dados topográficos exijam tempo adicional, este método é consideravelmente mais rápido, seguro e
menos invasivo do que abordagens tradicionais baseadas em escalada. A integração da deteção remota
com identificação ex-situ e modelagem baseada em machine learning potencia a monitorização de longo
prazo de E. pedroi, permitindo a análise comparativa da distribuição da espécie ao longo do tempo e a
interpretação de perturbações ambientais. O modelo de Random Forest revelou-se preciso na avaliação
da influência das variáveis ambientais de alta resolução na ocorrência da espécie, classificando
corretamente pontos de presença e ausência. As métricas MDA e MDG demonstraram que a orientação,
inclinação e altitude são fatores críticos para a predição da presença da espécie, refletindo a
complexidade das interações entre variáveis ambientais e distribuição da planta. O modelo também
evidenciou que fatores microclimáticos, como exposição solar e proteção contra ventos, podem
desempenhar um papel determinante na distribuição da espécie, além de indicar possíveis interações
bióticas que afetam seu nicho ecológico. No entanto, algumas limitações metodológicas foram
identificadas. A ausência de pontos de controlo terrestre comprometeu a calibração da variável de
altitude, sendo necessária uma correção posterior. Além disso, o modelo foi treinado com dados de
apenas uma secção da falésia, o que pode ter introduzido um viés nos resultados e limitado a capacidade
de predição para altitudes superiores. A subdivisão da falésia em diferentes secções, com E. pedroi mais
concentrada em altitudes intermédias, também pode ter afetado a distribuição dos resultados.
Perspectivas futuras incluem a adoção de tecnologias avançadas, como sensores multiespectrais e
índices de vegetação tal como o NDVI, para melhorar a identificação remota da espécie. Métodos
baseados em deep learning, como segmentação semântica aplicada a ortomosaicos verticais e nuvens
de pontos 3D, poderiam aprimorar a eficiência e automação do processo. Além disso, a monitorização
a longo prazo, incorporando variáveis microclimáticas e edáficas, pode fornecer uma compreensão mais
abrangente do nicho ecológico da espécie. Os resultados deste estudo oferecem uma base científica
sólida para orientar estratégias de restauro ecológic e conservação de E. pedroi. Ao identificar com
precisão as condições topográficas ideais para a espécie, torna-se possível selecionar áreas prioritárias
para reintrodução e reforço populacional, otimizando o sucesso de programas de restauro e mitigando a competição de espécies invasoras. Assim, a replicabilidade desta metodologia em diferentes regiões e
espécies pode contribuir significativamente para a gestão e preservação de ecossistemas rupícolas
vulneráveis. Coastal cliffs are unique biodiversity hotspots, yet many cliff-dwelling plant communities are increasingly threatened by climate change and invasive species. This study, integrated into a Mossy Earth project, aims to develop monitoring, sampling, and modeling strategies to provide high-resolution ecological information, using Cabo Espichel, Portugal, as a case study. The primary objective was to assess tools and methodologies for surveying and monitoring endemic species, particularly Euphorbia pedroi, while identifying key topographic factors influencing its distribution as proxies for microclimatic conditions. Unmanned aerial vehicles (UAVs) equipped with high-resolution imaging tools were used to generate 3D point clouds, enabling precise extraction of topographic variables such as altitude, slope, and azimuth. A Random Forest model applied to these variables achieved 99.05% accuracy in predicting E. pedroi presence, pinpointing its niche conditions. Results highlight the potential of UAV-based remote sensing to reduce fieldwork effort, minimize environmental impact, and provide detailed ecological insights. Despite technological limitations, 3D topographic analysis proved highly effective in characterizing habitat conditions.The study also recommends integrating multispectral imagery, vegetation indices, and machine learning to enhance species detection and analysis. By promoting UAV technologies and 3D modeling in ecological research, this approach bridges modern tools with conservation efforts, including ecological restoration. Understanding these niche conditions is crucial for long-term conservation and provides a scientific foundation for ecological restoration or species reintroduction where necessary. |
Descrição: | Tese de Mestrado, Ecologia e Gestão Ambiental, 2025, Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências |
URI: | http://hdl.handle.net/10400.5/101136 |
Designação: | Mestrado em Ecologia e Gestão Ambiental |
Aparece nas colecções: | FC - Dissertações de Mestrado |
Ficheiros deste registo:
Ficheiro | Descrição | Tamanho | Formato | |
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