Contributos para a construção e validação de um teste de avaliação da linguagem em idade escolar

Abstract

Este estudo visa contribuir para a construção e validação das provas do domínio da fonologia (TALIE-FON) e do domínio da morfologia (TALIE-MORF), do Teste de Avaliação da Linguagem em Idade Escolar (TALIE), assente nos pressupostos da fonologia não linear e da morfologia inferencial. O Instrumento pretende avaliar, em cada um dos domínios, as competências de produção, perceção e consciência linguística de crianças portuguesas, com idades entre os seis e os dez anos. Na construção do nosso instrumento, considerou-se fundamental a inclusão, não só de estruturas de estabilização tardia, no desenvolvimento típico (DT) e atípico (DA), como ainda aquelas apontadas na literatura nacional e internacional, como marcadores linguísticos relevantes para a identificação da Perturbação do Desenvolvimento da Linguagem (PDL). A versão 1 do TALIE-FON e do TALIE-MORF, que integrou 21 provas (15 provas do domínio da Fonologia e seis provas do domínio da Morfologia), foi aplicada a uma amostra de 12 crianças (oito com DT e quatro com DA), com vista à validação das ilustrações. Esta versão foi, posteriormente, submetida a um painel de seis peritos, no sentido de recolher pareceres relativos à validade de conteúdo. O índice de validade de conteúdo (IVC) global apurado foi de 0,97. A versão 2 do instrumento, já com 23 provas, 17 provas do domínio da fonologia e seis provas do domínio da morfologia, foi aplicada a uma amostra piloto constituída por cinco crianças (quatro com DT e uma com DA), permitindo reformulações metodológicas e de conteúdo que resultaram na versão 3 do instrumento. Esta versão final, contendo o mesmo número de provas da versão 2, foi aplicada a 77 crianças com DT e 12 crianças com DA, com idades compreendidas entre os seis e os dez anos. Os principais resultados observados sugerem que o TALIE-FON e o TALIE-MORF permitem discriminar o perfil de desenvolvimento linguístico típico do atípico, com significância estatística (p=0,000), tanto para os domínios testados, como para as competências avaliadas. A validade de construto foi, igualmente, demonstrada através do aumento da cotação média no grupo típico, em função da idade, bem como da sua capacidade em discriminar sujeitos com DT de sujeitos com DA. Para determinar a consistência interna global do instrumento, foi calculado o coeficiente alpha de Cronbach, que indicou uma muito boa consistência interna (α=0,97), reforçando a fiabilidade global do instrumento. O TALIE-FON e o TALIE-MORF apresentam medidas psicométricas muito boas, o que sugere que o instrumento é válido e fiável para o uso clínico, preenchendo uma lacuna no contexto nacional de avaliação da linguagem, em idade escolar. Estes resultados sublinham a relevância da colaboração interdisciplinar entre a Terapia da Fala e a Linguística, contribuindo para uma maior profundidade e precisão nas ferramentas de avaliação da linguagem. Tomando em consideração o tamanho da amostra, os dados apurados, embora válidos, não podem ser generalizados à população com DT e com DA. Para a obtenção de dados normativos, será importante avançar com as restantes etapas de validação e posterior estandardização do instrumento junto de uma amostra representativa das populações em estudo.

The main purpose of this study is to contribute to development and validation of the phonological tasks (TALIE-FON) and the morphological tasks (TALIE-MORF), of the Teste de Avaliação da Linguagem em Idade Escolar (TALIE), based on the assumptions of non-linear phonology and inferential morphology. This Instrument aims to assess, in both domains, the production, perception, and linguistic awareness skills of Portuguese children, aged six to ten years old. When developing our instrument, it was considered essential to include not only late stabilization structures, in typical and atypical development, but also those highlighted in national and international literature as relevant linguistic markers for the diagnosis of children with Developmental Language Disorder. The first version of TALIE-FON and TALIE-MORF, which included 21 tasks, 15 of them relating to phonology and six of them relating to morphology, was applied to a sample of 12 children (eight with typical development and four with atypical development), in order to validate the illustrations. This version was then submitted to a panel of six experts, to obtain their opinion on content validity. The overall content validity index obtained was 0.97. The second version of the instrument, now containing 23 tasks, 17 of them relating to phonology and six of them relating to morphology, was applied to a pilot sample consisting of five children (four with typical development and one with atypical development), allowing for methodological and conceptual reformulations, that, ultimately, resulted in the third version of the instrument. This final version, containing the same number of tasks as version 2, was applied to 77 children with typical development and 12 children with atypical development, aged between six and ten. The main results suggest that TALIE-FON and TALIE-MORF allow to discriminate between typical and atypical samples, with statistical significance (p=0.000), for both domains tested and for the skills assessed. Construct validity was also demonstrated, in typical group performance, by age differentiation and by the ability to discriminate children with and without typical development. To determine the global internal consistency of the instrument, Cronbach's alpha coefficient was calculated, which indicated very good consistency (α=0.97), reinforcing the global reliability of the instrument. The TALIE-FON and TALIE-MORF present very good psychometric measures, which suggests that the instrument is valid and reliable for clinical use, filling a gap in the national context of language assessment at school age. These results highlight the importance of interdisciplinary collaboration between Speech and Language Therapy and Linguistics, in enhancing both the depth and precision of language assessment tools. Considering the sample size, the data collected, although valid, cannot be generalized to the population with typical and atypical development. To obtain normative data, it will be important to proceed with the remaining validation steps and subsequently standardize the instrument with a representative sample of the populations under study.