Sintra e Torres Vedras: uma reunião privada e um Conselho Régio na preparação da expedição de Ceuta

Abstract

D. João I trazia a ideia da conquista de Ceuta já desde pelo menos 1409. Distante dos argumentos sociais e económicos da historiografia tradicional, o Rei pretendia, sobretudo, armar os seus filhos cavaleiros num grande feito que lhes concedesse honra, idêntica à alcançada por muitos que participaram na batalha de Aljubarrota e que estariam a seu lado na conquista da praça-forte do Magreb. Assim como buscava pelas armas a legitimidade que a sua bastardia lhe não concedia, reforçaria ao mesmo tempo o seu papel e prestígio no quadro dos reinos ibéricos e da Cristandade. Em Sintra, provavelmente no Verão de 1412, o Rei terá reunido o Conselho para dar conta aos seus privados das notícias trazidas pelos dois embaixadores enviados à Sicília. Pois esta foi uma embaixada dissimulada quando o objetivo principal da viagem era recolher informação acerca do assentamento e da defesa militar de Ceuta, motivo de que o monarca manteve sigilo no Conselho. Na sequência deste, em reunião privada com os embaixadores-espiões, tomou conhecimento das condições de defesa da cidade. Dois anos depois, em Torres Vedras, D. João I voltou, em reunião magna, a consultar seus os privados, aqueles que integravam o seu Conselho, no verão de 1414. Este estudo analisa os dois Conselhos Régios, e, no caso de Sintra, sobretudo a reunião privada sequencial ao Conselho. Esta foi importante para a tomada de conhecimento e decisão acerca de como preparar a empresa, enquanto o Conselho Régio de Torres Vedras foi decisivo na preparação da armada para a expedição a Ceuta.

King John I had been contemplating the conquest of Ceuta since at least 1409. Diverging from the traditional historiographical focus on social and economic arguments, the King primarily aimed to knight his sons through a significant achievement that would bestow upon them honor akin to that attained by many who participated in the Battle of Aljubarrota and who would stand by his side in the conquest of the stronghold in the Maghreb. In seeking legitimacy through military endeavors - a legitimacy denied to him due to his illegitimacy - he simultaneously aimed to strengthen his role and prestige within the Iberian kingdoms and Christendom. In Sintra, likely in the summer of 1412, the king convened the Council to inform his privy counselors of the news brought by the two ambassadors sent to Sicily. This was, in fact, a covert mission, as the primary purpose of the journey was to gather intelligence regarding the settlement and military defenses of Ceuta—information that the monarch kept confidential within the Council. Following this, in a private meeting with the ambassador-spies, he became acquainted with the city's defensive conditions. Two years later, in Torres Vedras, King John I again consulted his privy counselors during a significant assembly in the summer of 1414. This study analyzes the two Royal Councils, with particular emphasis on the private meeting that followed the Council in Sintra. This meeting was crucial for understanding and deciding how to prepare for the expedition, while the Royal Council of Torres Vedras played a decisive role in the preparation of the fleet for the expedition to Ceuta.