Autorregulação e vinculação no primeiro ano de vida do bebé nascido de muito e extremo pré-termo

Abstract

O presente estudo procura contribuir para o corpo de conhecimento sobre a regulação emocional e a organização da vinculação mãe-filho/a no âmbito da extrema prematuridade. Neste sentido, o presente estudo longitudinal teve como objetivos estudar: i) o desenvolvimento dos processos socioemocionais do bebé de muito e extremo pré-termo ao longo do primeiro ano de vida; ii) o contributo de fatores como os demográficos e perinatais, a regulação emocional e a qualidade da interação na organização da vinculação. Para o efeito, selecionamos 50 recém-nascidos com idade gestacional igual ou inferior a 32 semanas, sem sequelas graves ou malformações. Nas primeiras 72 horas após o parto, realizou-se uma entrevista às mães, com o intuito de analisar as suas representações sobre a gravidez, o parto e a maternidade. Posteriormente, aos 3 e aos 9 meses, observou-se a qualidade interativa entre mãe-bebé, em jogo livre, e o padrão de autorregulação emocional do bebé, durante o paradigma experimental Face to Face Still-Face. Aos 12 meses, o comportamento de vinculação de bebé à mãe foi observado na Situação Estranha, e o desenvolvimento foi avaliado com a Escala de Avaliação das Competências no Desenvolvimento Infantil II. Os resultados indicam que a maioria das mães desejou e planeou a gravidez e as restantes mães aceitaram bem a notícia. No entanto, a gravidez é vivida com grande receio e ansiedade. Após o parto precoce, o contacto com o bebé é vivido com sofrimento, medo e culpa, e a vida futura é antecipada com preocupação. Aos 3 e aos 9 meses, a prevalência do padrão de regulação emocional socialmente negativo é elevada, confirmando-se que estes bebés tendem a apresentar uma regulação negativa. A escolaridade materna é superior em bebés com padrão socialmente positivo. Aos 3 meses, os valores da sensibilidade materna são relativamente baixos, e agravam-se aos 9 meses, verificando-se casos com interações de alto risco. Aos 12 meses, o padrão de vinculação mais prevalente é o padrão inseguro-resistente/ambivalente, seguindo-se a vinculação segura e a insegura-evitante. A vinculação segura está positivamente correlacionada com a escolaridade materna e paterna. O perfil de desenvolvimento dos bebés corresponde, em média, ao expectável para os 12 meses, com melhor desempenho na área da interação social e pior no controlo postural ativo. O único fator preditor da segurança da vinculação foi a sensibilidade materna.

This study aims to improve knowledge of emotional regulation and organization of mother-infant attachment in extreme prematurity. For this purpose, we longitudinally investigated: i) the development of socio-emotional processes of the very and extreme preterm baby during the first year of life; ii) the contribution of factors such as demographic and perinatal aspects, emotional regulation, and quality of interaction to the organization of attachment. We selected 50 preterm infants born at or before 32 weeks of gestation without severe sequelae or malformations. During the first 72 hours after giving birth, mothers were interviewed to analyze their representations regarding pregnancy, childbirth, and motherhood. Then, at 3 and 9 months, mother-infant quality of interactions was observed in free-play situations; and patterns of regulatory behavior were observed according to the Face-to-Face Still-Face paradigm. Finally, at 12 months, infant-mother attachment behavior was observed in the Strange Situation, and child development was assessed with the Schedule of Growing Skills II. The results indicate that most mothers wanted and planned the pregnancy, and the remaining reacted positively to the news. However, pregnancy was lived with great fear and anxiety. After the premature birth, contact with the baby is experienced with pain, fear, and guilt, and the future is foreseen with anxiety. At 3 and 9 months, the prevalence of the social-negative oriented pattern is high, confirming that these babies exhibit negative regulation. Mothers´ educational level tends to be higher for babies with a social-positive oriented pattern. By the third month, maternal sensitivity values are relatively low. However, these same values worsen by the ninth, leading to high-risk interactions in some situations. At 12 months, the most prevalent attachment pattern is the insecure-ambivalent, followed by the secure attachment and the insecure-avoidant pattern. Secure attachment is positively associated with mothers’ and fathers’ educational levels. Furthermore, and on average, babies’ developmental profiles corresponded to those expected for a 12 months child with better performance for social interaction and worst for active postural control. The only predictor for attachment security was maternal sensitivity.