Utilize este identificador para referenciar este registo: http://hdl.handle.net/10451/59855
Título: Potenciais benefícios sociais e ecológicos da vegetação urbana : o caso de Lisboa, a Capital Verde Europeia em 2020
Autor: Almeida, Juscidalva
Orientador: Dias, Maria Teresa Machado
Nunes, Reginaldo de Oliveira
Palavras-chave: benefícios sociais
corredor verde
resiliência ecológica
sustentabilidade urbana
vegetação urbana
ecological resilience
green corridor
social benefits
urban sustainability
urban vegetation
Data de Defesa: Abr-2023
Resumo: Com cada vez mais pessoas a viver em áreas urbanas (estima-se que em 2050 cerca de 70% da população humana viverá em cidades), também os impactos negativos da urbanização se vão acumulando e potenciando uns aos outros: degradação ecológica, poluição atmosférica e sonora, desigualdades sociais, problemas de saúde física e mental, e consequentemente uma redução do bem-estar humano. Se aos impactos negativos da urbanização juntarmos os das alterações climáticas, torna-se fundamental e urgente desenvolver medidas que promovam a qualidade ambiental, a saúde, a economia, e o bem-estar humano nas cidades, ou seja, que promovam a sustentabilidade urbana. A sustentabilidade urbana nas suas três dimensões (social, económica e ambiental) entrou definitivamente para as agendas políticas locais, regionais, nacionais e até mesmo de instâncias internacionais como é o caso das Nações Unidas (por exemplo com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 11 - Cidades e Comunidades Sustentáveis). Mas como atingir a tão almejada sustentabilidade urbana? Embora diferentes insituições e entidades defendam diferentes soluções como sendo prioritárias, há algumas soluções que reunem unânimidade. Assim, nesta tese serão abordadas duas das soluções prioritárias para a sustentabilidade urbana que reunem maior unanimidade: promover os espaços verdes urbanos e a mobilidade ‘limpa’ (i.e., sem veiculos motorizados). Esta tese pretende relacionar a vegetação urbana com os seus potenciais benefícios sociais e ecológicos. Para isso, avaliou-se a evolução recente (entre 2010 e 2020) da vegetação urbana em Lisboa, e focou-se num componente dos espaços verdes urbanos muito pouco estudado: os corredores verdes. Considerando que Lisboa foi distinguida como a Capital Verde Europeia em 2020, e testemunhando as inúmeras medidas que têm vindo a ser implementadas para promover a sustentabilidade urbana (e.g., implantação de corredores verdes, construção de ciclovias, plantação de árvores) nos últimos anos, seria de esperar que a vegetação tivesse aumentado a sua cobertura. Como numa cidade, podemos encontrar vários tipos de vegetação (com ou sem manutenção regular, estar presente em áreas públicas ou privadas, ser vegetação seminatural ou natural), a vegetação urbana foi classificada nas seguintes categorias: áreas verdes públicas, arborização viária e infraestrutura verde urbana. Assim, mediu-se as alterações na área de cobertura da vegetação de Lisboa entre 2010 e 2020 para as três categorias de vegetação. Calculou-se a área de cobertura da vegetação (m2 ), área de cobertura da vegetação por residente (m2 de vegetação pessoa-1 ) e a % de área de cobertura da vegetação (% da área total que está coberta por vegetação). Os dados referentes às áreas verdes públicas e à arborização viária foram disponibilizados pela Câmara Municipal de Lisboa, enquanto a área da infraestrutura verde urbana foi estimada com base no valor de Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) calculado a partir de imagens multiespectrais de satélite (Landsat 7-8). Globalmente, Lisboa não ganhou vegetação ao longo da década 2010-2020. Em termos de variação de área, observamos redução de 2% nas áreas verdes públicas, e um aumento de 38% na arborização viária e de 5% na infraestrutura verde urbana. Tendo em conta a coexistência de áreas em Lisboa urbanizadas há muitos séculos, e outras, nas últimas décadas, estudou-se a evolução das categorias de vegetação urbana também à escala das freguesias. Usando os espaços verdes públicos como exemplo de categoria de vegetação urbana, identificámos: i) 19 freguesias (das 24) que apresentam áreas de espaços verdes públicos disponíveis por residente abaixo da área mínima desejável de 12 m2 pessoa-1 ; e ii) 17 freguesias com % de espaços verdes públicos inferiores à % mínima desejável de 5%. Esta informação pode contribuir para priorizar medidas nas freguesias com maior carência de vegetação, e facilitar o planeamento do território urbano, conciliando a qualidade ambiental com os objetivos sociais e económicos. Ao longo deste estudo foram levantadas várias questões pelo que sugerimos a necessidade de padronização dos métodos de medição da vegetação urbana. Embora os corredores verdes tenham começado a ser implementados há cerca de 150 anos, e já existam em muitas cidades do Mundo, ainda são muito pouco estudados. Em Lisboa, o primeiro corredor verde de Lisboa começou a ser implementado em 1977, mas apenas foi concluído em 2012. Os restantes oito corredores verdes sugiram entre 2009 e 2020. Assim, foram avaliados os efeitos a curto prazo da recém implementada rede de corredores verdes de Lisboa, caracterizando: i) a conectividade estrutural (com base no número de espaços verdes que são conectados por um determinado corredor verde e na sua extensão); ii) o acesso da população a espaços com diferentes funções (com base no levantamento das estruturas biofísicas disponíveis, e que determinam a(s) função(ões) do corredor verde); e iii) o acesso da população a diferentes graus de mobilidade ‘limpa’ (com base no número de corredores verdes que existem nas diversas freguesias Lisboetas; quanto maior o número de corredores, maior a probabilidade de um residente poder usufruir de mobilidade ‘limpa’); e iv) o aumento da área dos corredores verdes coberta por vegetação (combinando o cálculo do valor de NDVI obtido através de imagens multiespectrais de satélite Landsat 7-8 para os anos de 2010 e 2020, com ferramentas de geoprocessamento). Os corredores verdes que conectam mais espaços verdes, são mais extensos e ligam concelhos vizinhos são os que promovem maior conectividade estrutural (Oriental, Ribeirinho e Periférico). A esmagadora maioria da população (98%) é beneficiada por mobilidade ‘limpa’ baixa, média e alta, e 70% da população é beneficiada por corredores verdes multifuncionais (i.e., para além da função ecológica, desempenham a função cultural e/ou recreativa). Embora esperássemos um aumento da área dos corredores verdes coberta por vegetação entre 2010 e 2020, observámos o oposto: 3,30 km2 em 2010, e 2,22 km2 em 2020. No entanto, é de esperar que a área dos corredores verdes coberta por vegetação aumente nos próximos anos à medida que a vegetação vai crescendo e os troços incompletos vão sendo finalizados. Se por um lado existe um número crescente de estudos focados em diversos aspetos da biodiversidade urbana, tanto quanto se sabe, nenhum estudo avaliou as comunidades vegetais dos corredores verdes. Assim, caracterizou-se a comunidade arbórea e arbustiva dos corredores verdes de Lisboa (as espécies herbáceas foram excluídas porque: i) é a cobertura arbórea e arbustiva nos corredores verdes que tem importantes funções ambientais e sociais; ii) pela sua longevidade, as árvores e os arbustos são os componentes da vegetação mais expostos e mais resistentes aos estresses antropogénicos que caracterizam o ambiente urbano; e iii) a manutenção dos corredores verdes implica a remoção periódica de plantas herbáceas). Além de caracterizar taxonomicamente, as comunidades de árvores e arbustos dos corredores verdes também foram caraterizados funcionalmente (e.g., modo de polinização, dispersão, tipo de folha). Adicionalmente, contou-se e caracterizou-se (e.g., género, faixa etária, meio de deslocação) os utilizadores dos corredores verdes de Lisboa nos mesmos locais onde avaliamos a comunidade arbórea e arbustiva. Ao longo dos nove corredores verdes foi possível observar árvores e arbustos pertencentes a 70 espécies, distribuídas por 35 famílias, sendo a maioria (> 50%) das plantas árvores exóticas, polinizadas por insetos, com dispersão de frutos por animais, folhas perenes e produzindo frutos carnudos. A maioria dos corredores verdes teve número de utilizadores semelhante (20-30 utilizadores h-1 ), exceto o Central e o Ribeirinho, que foram mais frequentados (60 e 100 utilizadores h-1 , respetivamente). Assim, foi possível mostrar que os utilizadores preferem corredores mais ‘verdes’ (i.e., com maior abundância de árvores e arbustos) e mais multifuncionais. Ao analisar a rede de corredores verdes como um todo, apresentamos recomendações no sentido de aumentar os benefícios sociais e a resiliência ecológica. Embora atualmente os corredores verdes de Lisboa favoreçam mais a inclusão dos cidadãos do que a funcionalidade e resiliência ecológicas, num futuro próximo esta rede passará a favorecer tanto a inclusão social e bem-estar humano, como a funcionalidade e resiliência ecológicas, principalmente se houver um aumento das espécies nativas.
URI: http://hdl.handle.net/10451/59855
Designação: Tese de doutoramento, Biologia e Ecologia das Alterações Globais (Ecologia e Biodiversidade Funcional), Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências, 2023
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