Creatina:

Abstract

A creatina é um derivado aminoácido não proteinogénico, sintetizado endogenamente a partir dos precursores arginina, glicina e metionina, podendo também ser obtido a partir da ingestão alimentar ou pela suplementação. No organismo humano, a creatina desempenha um papel crucial no metabolismo energético das células musculares e nervosas, sendo considerada um regulador natural da homeostase energética em condições fisiológicas. A fosforilação da creatina a fosfocreatina permite a posterior doação de fosfato na conversão de ADP em ATP, fundamental ao fornecimento da energia necessária para a contração muscular. Alterações na biossíntese, transporte e metabolismo da creatina terão um impacto significativo nos mecanismos de patogénese. Situações de stress metabólico podem ser geradas por limitações no transporte de creatina através das membranas celulares, bem como no seu armazenamento. O aumento da sua disponibilidade pode promover o metabolismo celular e diminuir a gravidade de certas condições patológicas. A suplementação dietética com creatina pode melhorar a perda muscular associada a determinadas patologias como o cancro ou doenças crónicas. A creatina mono-hidratada é a forma química mais amplamente estudada quanto à sua biodisponibilidade, eficácia e segurança como suplemento. Os estudos existentes incidem sobretudo sobre o potencial ergogénico deste composto na prática de exercício físico de alta intensidade. Mas, as evidências estendem-se ainda às propriedades terapêuticas da creatina em várias patologias como doenças neurodegenerativas, cardiovasculares, sarcopénia, diabetes, distúrbios metabólicos, doenças inflamatórias ou osteoporose. A integração da creatina como componente importante de uma estratégia nutricional para ajudar a manter a capacidade mental e funcional, controlar a doença e promover a sua recuperação tem fundamentado inúmeras pesquisas e publicações científicas. O presente trabalho inclui uma visão geral sobre o papel da creatina na saúde e na doença enquanto agente terapêutico ou suplemento ergogénico, bem como uma revisão sobre a sua segurança e eficácia. Os dados atuais parecem sugerir que a creatina não apresenta riscos toxicológicos graves. No entanto, investigações futuras são necessárias para entender melhor os benefícios e os riscos da creatina em diferentes grupos populacionais em vários estados fisiológicos e patológicos e desenvolver as aplicações futuras da suplementação de creatina com eficácia e segurança.

Creatine is a non-proteinogenic amino acid derivative synthesized endogenously from the precursors arginine, glycine, and methionine. Creatine can also be obtained from food intake or supplementation. In human, creatine plays a crucial role in energy metabolism of muscle and nerve cells, being considered a natural regulator of energy homeostasis under physiological conditions. The phosphorylation of creatine to phosphocreatine allows the subsequent donation of phosphate in the conversion of ADP into ATP, which is essential for providing the energy needed for muscle contraction. Changes in creatine biosynthesis, transport and metabolism will have a significant impact on pathogenesis mechanisms. Metabolic stress can be generated by limitations in transport of creatine across cell membranes, as well as in its storage. Increasing its availability can promote cellular metabolism and decrease the severity of certain pathological conditions. Dietary supplementation with creatine can improve muscle loss associated with certain pathologies such as cancer. Creatine monohydrate is the most widely studied chemical form concerning its bioavailability, efficacy, and safety as a supplement. Existing studies focus mainly on the ergogenic potential of this compound in the practice of high-intensity physical exercise. The evidence also extends to the therapeutic properties of creatine in various pathologies such as neurodegenerative diseases, cardiovascular diseases, sarcopenia, diabetes, metabolic disorders, inflammatory diseases, and osteoporosis. The integration of creatine as an important component of a nutritional strategy to help maintain mental and functional capacity, control the disease, and promote its recovery has supported numerous research and scientific publications. The present work includes an overview of the role of creatine in health and disease as a therapeutic agent or ergogenic supplement, as well as a review of its safety and efficacy. Current data seem to suggest that creatine poses no serious toxicological risks. However, future investigations are needed to better understand the benefits and risks of creatine in different populations in various physiological and pathological states, and to develop the future applications of creatine supplementation with improved effectiveness and safety.