Utilize este identificador para referenciar este registo: http://hdl.handle.net/10451/51747
Título: Adapting Jane Austen´s Emma: From Literary Text to Digital Afterlife
Autor: Silva, Ana Daniela Alcobia Coelho da
Orientador: Sousa, Alcinda Maria Pinheiro de Sousa
Cartmell, Deborah Jayne
Palavras-chave: Austen, Jane, 1775-1817 - Adaptações - História e crítica
Austen, Jane - 1775-1817. Emma, Adaptações
Romance inglês - Adaptações - séc.18-19 - História e crítica
Cinema e literatura
Televisão e literatura
Literatura e informática
Meios de comunicação social e literatura
Intermidialidade
Teses de doutoramento - 2020
Data de Defesa: 29-Jan-2020
Resumo: The present thesis aims at studying adaptation both as a process of reappropriation of the past and as a marker of contemporaneity, departing from Jane Austen's (1775-1817) Emma (1815), given the canonical status held by this novelist in literature and in adaptation studies. Acknowledging the present time as one of redefinition for adaptation studies, this thesis frames its discussion of adaptations of Emma not only in relation to key publications in the field (Hutcheon 2013 [2006]; Sanders 2016 [2006]; Cartmell and Whelehan 2010) but also taking into consideration more recent debates, particularly those broadening the scope and reach of adaptation, both inside and outside the academic environment (Newell 2017; Leitch 2017). Thus, recognising the broad scope of adaptation, which includes a variety of cultural products as well as the possibility of diverse intermedia exchanges, my analysis focuses on adaptations from diverse media, including the traditional cinematic and television products but with a particular emphasis on digital, online, and visual objects of the twenty-first century. Aware of the contemporary significance of digital humanities, this thesis intends to contribute to rethinking the place of literature and its subsidiaries in the digital age as well as to the ongoing debates on the (re)definition of adaptation studies as an independent and interdisciplinary field of knowledge. Furthermore, it seeks to describe and understand the cultural and social significance of these adaptations, pnmary objects of consumer involvement in an intended participatory culture (Jenkins 2006), and to underscore their potential for critical engagement in an age of globalisation and social media.
A presente tese procura estudar o fenómeno da adaptação, simultaneamente enquanto processo de reapropriação do passado e como marcador da contemporaneidade, a partir do romance Emma (1815), de Jane Austen (1775-1817), cujo estatuto canónico é indisputável tanto a nível literário, como dos estudos de adaptação. Reconhecendo o tempo presente como um momento de redefinição para os estudos de adaptação, este estudo enquadra a discussão de adaptações de Emma, não apenas em relação a publicações essenciais no campo de estudos (Hutcheon 2013 [2006]; Sanders 2016 [2006]; Cartmell & Whelehan 2010) mas tomando também em consideração contribuições recentes para esse mesmo debate, em particular as que dilatam o escopo dos estudos de adaptação, tanto dentro como fora da academia (Newell 2017; Leitch 2017). Assim sendo, reconhecendo o alargado espectro próprio à adaptação, que compreende uma variedade de produtos culturais bem como a possibilidade de diversas permutas intermediais, a presente análise centra-se em adaptações para diversos media, incluindo os tradicionais produtos para cinema e televisão, dando particular ênfase a objectos digitais, visuais e em plataformas online, produzidos no século XXI. Consciente da actual importância das humanidades digitais, esta tese tenciona contribuir para um repensar do lugar da literatura e outras artes na era do digital, bem como para os debates em curso quanto à redefinição dos estudos de adaptação enquanto um campo de estudos independente e interdisciplinar. Concomitantemente, esta tese procura também descrever e compreender a importância cultural e social destas adaptações enquanto objectos promotores do envolvimento dos consumidores numa cultura que se quer participativa (Jenkins 2006), bem como sublinhar o seu potencial para avaliação crítica numa era de globalização e redes sociais. O principal objectivo desta tese é questionar de que forma a adaptação contribui para a reinterpretação e mesmo reformulação de Austen, autora canónica mas também ícone da cultura popular, para a contemporaneidade. Nesse sentido, a adaptação é aqui considerada no âmbito de uma multitude de diferentes meios e formatos e não limitada ao habitual quadro conceptual da adaptação romance-filme, mas antes tomando em conta uma complexa rede de objectos que evidencia um profundo cruzamento de influências e referências. A questão fundamental à qual esta tese procura responder é de que forma os novos tipos de produção e recepção de conteúdo, potenciados pelo recente paradigma digital, estão a alterar a maneira como pensamos a adaptação, mas também a literatura, a cultura, a sociedade e, em última análise, como nos entendemos. O presente trabalho tenciona em particular abordar a questão da precedência em adaptação, dado que diversas adaptações recentes de Emma partem não exclusivamente do romance, mas também ( e por vezes até de forma mais significativa) de adaptações prévias e da percepção contemporânea de Austen enquanto constructo cultural complexo. De forma a desenvolver estas questões, o presente estudo encontra-se dividido em duas partes distintas: a primeira, composta de dois capítulos, propõe uma reflexão alargada da concepção de Austen enquanto produto da construção cultural, por um lado, e um exemplo arquetípico nos estudos de adaptação, por outro. A segunda parte, composta por ·três capítulos, constitui a dimensão mais prática da tese, com foco na análise comparativa de diversas adaptações de Emma. Tendo em conta esta divisão, a presente tese uucia, não com o habitual capítulo teórico dedicado a uma revisão da literatura mais relevante no campo de estudo, mas com uma reflexão sobre a relevância e preponderância actuais de Jane Austen, ícone cultural que ultrapassa em muito os limites da figura literária canónica. Essa reflexão parte da breve análise de três objectos publicados em 2017 como forma de celebrar o bicentenário da morte de Austen: The Jane Austen Project (Kathleen A. Flynn), The Times Literary Supplement: Jane Austen (Stig Abell, coord.) e Jane Austen: Writer in the World (Kathryn Sutherland, coord.). Constatada não apenas a omnipresença de Austen na contemporaneidade mas as diversas ( e frequentemente contraditórias) interpretações da autora e da sua obra, o capítulo prossegue com um levantamento de estudos que procuraram a definição crítica deste fenómeno (Wiltshire 2001; Harman 2007; Ells 2011; Dow & Hanson 2012; Johnson 2012; Looser 2017). O primeiro capítulo encerra com uma breve incursão em áreas nas quais o fenómeno Austen enquanto constructo cultural complexo se afirma como potenciador de novas actividades, nomeadamente o turismo e a indústria heritage. Ainda que não directamente dependentes de ou classificáveis como adaptação de obras de Austen, a relação que muitas destas actividades estabelecem com essa mesma adaptação é inegável, sendo também óbvia a sua contribuição para um melhor entendimento do fenómeno de Austen enquanto activo (económico) global. O segundo capítulo procura traçar a evolução dos estudos de adaptação, com particular ênfase nos desafios que o campo enfrenta na actualidade. Historicamente, a adaptação sofreu de urna atitude derisória, não apenas em termos generalistas - com variações do comentário "mas o livro é melhor" repetindo-se em múltiplos contextos - mas também em ambiente académico, dada a sua posição de subaltemidade em relação às duas áreas com as quais frequentemente partilha tanto objectos de estudo como conceitos teóricos: a literatura e os estudos de cinema. Coincidentemente, o foco dos estudos de adaptação tem desde sempre sido em objectos que, partindo de textos literários, concretizam a sua remediação para o meio audiovisual, particularmente o cinema. Desse modo, essa relação de subalternidade tem encontrado reforço no interior do próprio campo de estudo, apesar de inúmeros apelos em contrário (Naremore 2000). Em contraste, contribuições recentes têm apontado novos caminhos, relevando os estudos da adaptação enquanto o espaço ideal para questionar assumpções teóricas, estéticas e culturais que ultrapassam a visão limitada e limitadora da avaliação de urna adaptação exclusivamente em função da sua relação com a obra original e lhe apontam mesmo um potencial de intervenção crítica e social (Elliott 2017). Partindo dos primórdios da teorização em adaptação (Bluestone 1957; McFarlane 1996), a parte inicial deste capítulo foca-se nas novas perspectivas trazidas pelos múltiplos estudos publicados já no século XXI, como consequência da explosão de adaptações cinematográficas e televisivas produzidas na última década do século anterior (Stam 2005; Hutcheon 2013 [2006]; Leitch 2007; Geraghty 2008; Cartmell & Whelehan 2010). O segundo sub-capítulo foca-se na discussão promovida na segunda década do século XXI, à medida que nos estudos de adaptação se fazia sentir a necessidade de alterar, de forma mais drástica, a forma como se discutia e teorizava a adaptação, ainda prejudicada por premissas e conceitos que, negados em teoria, subsistiam na prática, nomeadamente o persistente argumento da fidelidade à obra adaptada (Leitch 2008). A revisão da literatura crítica foca-se nos estudos que procuraram responder a este desafio, com particular destaque para o aparecimento de diversos (e extensos) volumes de ensaios multi-autorais, também prova da maturidade e vitalidade do campo de estudos (Albrecht-Crane & Cutchins 2010; Cartmell 2012; Leitch 2017; Cutchins, Krebs & Voigts 2018). Como forma de síntese, o terceiro sub- capítulo propõe urna definição de adaptação, composta a partir dos diversos contributos teóricos apresentados e tomada como base do trabalho a desenvolver subsequentemente. O quarto e último sub-capítulo foca-se nas relações entre adaptação, heritage film e Jane Austen, na medida em que estas contribuíram para a construção de uma imagem fixa de Jane Austen na cultura popular e para a teorização da própria adaptação, dada a prevalência de adaptações de obras da autora enquanto objectos de estudo e exemplos paradigmáticos. A segunda parte desta tese concretiza então a análise das adaptações escolhidas, à luz das considerações teórico-críticas tecidas na parte inicial. O primeiro capítulo foca a sua atenção no romance Emma, seleccionando excertos relevantes para análise breve e tendo como princípio orientador a noção de camadas ("layering"), em que o texto literário e as construções críticas sobre o mesmo são tidas como exemplos, entre outros, dessas camadas de interpretação que tanto contribuem para a concepção actual de Austen, como influenciam novas adaptações/interpretações das suas obras. O segundo capítulo explora as adaptações para cinema e televisão, produzidas entre a década de 1970 e a prolifica década final do século XX, nomeadamente Emma (1972, BBC), Emma (1996, A&E/Meridian), Emma (1996, Miramax) e Clueless (1996). O terceiro capítulo centra-se na análise de adaptações produzidas no século XXI, do tradicional formato para televisão (Emma, 2009), a Bollywood (Aisha, 2010) e à adaptação para formato digital e interactivo (Emma Approved, 2013-2014). A estas juntam-se adaptações para formato livro, de actualizações para o tempo e espaço contemporâneos (Emma, 2014, The Austen Project), a comics (Jane Austen 's Emma, 2012, Marvel) e livros para crianças (Jane Austen 's Emma, 2013, Cozy Classics; Emma, 2015, Little Miss Austen). Finalmente, a tese defende que, apesar da impossibilidade em prever a evolução destes fenómenos dada a ainda recente transição para o paradigma digital, o historial das adaptações de Emma revela um processo complexo, com intrincadas implicações socioculturais, mas também estéticas e políticas que contradizem a habitual exoneração destes objectos, em particular dos que mais abertamente se inscrevem nos parâmetros da cultura popular, enquanto objectos de estudo válidos. As adaptações de Austen em particular demonstram esta vertente e evidenciam a potencialidade, crítica, cultural e epistemológica dos estudos de adaptação.
URI: http://hdl.handle.net/10451/51747
Designação: Doutoramento no ramo de Estudos de Literatura e Cultura, especialidade de Estudos Ingleses
Aparece nas colecções:FL - Teses de Doutoramento

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