Impacto do rastreio dermatológico no diagnóstico precoce de cancro da pele

Abstract

Introdução: Nas últimas décadas, verificou-se um aumento significativo da prevalência de cancro da pele (CP), que se associa a importante morbi-mortalidade e custos para os sistemas de saúde. No entanto, ao contrário do que acontece com outras patologias, não foi ainda implementado um rastreio organizado de CP. Este trabalho pretende identificar fatores de risco para CP e avaliar o impacto dos rastreios de CP na população estudada, no âmbito de um rastreio oportunista na comunidade. Objetivos: Identificar a prevalência de lesões pré-malignas e neoplasias na população rastreada; caracterizar a população; avaliar a viabilidade da participação de estudantes de medicina em rastreios dermatológicos; identificar subgrupos que tornem o rastreio mais rentável. Metodologia: Estudo retrospetivo com 8331 participantes ao longo de 4 edições dos rastreios dermatológicos de CP promovidos pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, onde foi realizada uma ação de educação para a saúde e preenchido um inquérito para recolha de dados relevantes. Foram analisados possíveis fatores de risco para o desenvolvimento das lesões estudadas recorrendo ao teste de qui-quadrado, Mann-Whitney, regressão logística binária e análise de Kaplan-Meier. Ajustou-se os resultados para fatores confundidores. A prevalência de lesões foi ajustada para a população europeia estandardizada e a viabilidade participação dos estudantes de Medicina foi avaliada através do cálculo da especificidade desta intervenção. Resultados: A idade mediana foi de 60 anos e 61,2% era do sexo feminino. Foram identificadas 685 lesões suspeitas (8,2% dos participantes) e confirmadas 417 (especificidade de 60,9%), das quais se destacam 149 queratoses actínicas, 124 nevos atípicos, 22 carcinomas espinocelulares, 60 carcinomas basocelulares e 19 melanomas. A utilização de creme protetor solar parece associar-se ao diagnóstico de melanoma (OR 4,258 IC 1,461 – 12,407, p=0,008), nevo atípico (OR 1,643 IC 1,092 – 2,473, p=0,017) e para os antecedentes de todas as lesões estudadas. O autoexame mensal da pele encontra-se associado a uma maior frequência de antecedentes de CBC (OR 2,230 IC 1,478 – 3,365, p<0,001) e de melanoma (OR 2,551 IC 1,401 – 4,647, p=0,002), enquanto a vigilância de saúde não demonstrou este efeito. O antecedente de transplante de órgãos foi fator de risco para carcinoma espinocelular (OR 59,083 IC 6,506 – 536,514, p<0,001) e cancro da pele (13,707, CI 1,475-114,898, p=0,002). Conclusões: Este trabalho reforçou o papel de alguns fatores de risco já conhecidos e levantou algumas questões em torno da utilização de creme protetor solar e do papel deste na alteração dos hábitos de exposição solar. Os resultados deste estudo são animadores em relação à viabilidade da utilização de estudantes de medicina em rastreios dermatológicos de CP, uma vez que a sua intervenção apresentou elevada especificidade e reduziu significativamente os custos associados.

Introduction: The prevalence of skin cancer has been increasing during the last decades. Even though it is associated with significant mortality and morbidity and carries significant strain to healthcare systems, an organized skin cancer screening initiative is yet to be implemented into clinical practice. This study aims to identify risk factors and evaluate the impact of the screening initiative in the population. Objectives: To identify the prevalence of pre-malignant and malignant lesions of skin cancer within the population; Characterize the same population; Evaluate the viability of the employment of medical students in skin cancer screening initiatives; Identify subgroups that make screening more cost-effective. Methods: Retrospective study with 8331 participants collected throughout four editions of the skin cancer screening initiative promoted by Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Each screening included health education related to the topic and the collection of relevant participant data. Potential risk factors for screened lesions were assessed using Chi-square and Mann-Whitney tests, binary logistical regression, and Kaplan Meier analysis. Results were adjusted for confounding factors. Prevalence was adjusted for the standard European Population of 2013 and the viability of the participation of medical students was assessed by calculation the specificity of their intervention.Results: Median age was 60 years, 61.2% of the screened were female. 685 suspected lesions were presented to the assisting dermatology team, 417 of which were confirmed (specificity of 60.9%). We identified 149 actinic keratosis, 124 atypical nevi, 22 squamous cell carcinoma, 60 basal cell carcinomas and 19 melanomas. Sunscreen use was associated with higher rates of melanoma (OR 4,258 CI 1,461 – 12,407, p=0,008) and atypical nevi (OR 1.643 CI 1.092 – 2.473, p=0.017) in the screening initiative and to previous diagnosis of all the lesions listed above. Self-examination for skin cancer was associated with higher rates of previous diagnosis of basal cell carcinoma (OR 2.230 CI 1.478 – 3.365, p<0.001) and melanoma (OR 2.551 CI 1.401 – 4,647, p=0,002), even though adherence to health surveillance practices did not produce the same effects. History of organ transplant was identified as an important risk factor for squamous cell carcinoma (OR 59,083 CI 6,506 – 536,514, p<0,001) and skin cancer (13,707, CI 95 (1,475-114,898), p=0,002). Conclusion: We consider that this study provides interesting insights into the risk factors of skin cancer, questioning the role of sunscreen in the risk of skin cancer. This study supports the participation of medical student in skin cancer, as their intervention yielded a high specificity while significantly reducing the costs of the initiative.