Desenvolvimento e implementação de um programa de intervenção para o Ensino das Ciências a alunos com necessidades educativas especiais

Abstract

O presente estudo tem como finalidade averiguar qual o papel do ensino das ciências em alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE), no caso particular de alunos com Deficiência Mental, e organiza-se em torno das seguintes questões: (1) Serão as aprendizagens de ciências, relevantes para o desenvolvimento de capacidades que possam vir a ser mobilizadas na vida activa por estes alunos? (2) Serão estas aprendizagens promotoras da autonomia desses alunos? (3) Serão estas aprendizagens transferíveis para outras áreas, nomeadamente leitura e escrita? De acordo com estas questões estabelecemos os seguintes critérios: tempo que o aluno se mantém focado na tarefa, classificar, medir, seriar, ler, escrever, aplicar o conceito de unidade e argumentar. O estudo é exploratório e decorreu com um grupo de oito alunos, com um currículo alternativo, dos 5°, 6° e 7° anos do ensino básico. Adoptou-se uma metodologia qualitativa assumindo a investigação um carácter de estudo piloto, essencialmente exploratório. Implementou-se um programa de intervenção, baseado no módulo "sistemas e medidas", do projecto curricular Full Options Science Sistem (FOSS). Usaram-se como fontes de dados registos de observação, registos áudio, registos escritos de trabalho dos alunos e também as notas elaboradas pelo investigador durante e no final de cada sessão. A análise de dados permite afirmar que tudo parece indiciar que actividades de carácter eminentemente prático, envolvendo a mobilização de capacidades manipulativas na construção de instrumentos de medida, promovem aprendizagens relacionadas com a utilização correcta de aparelhos de medida de uso corrente e que, os alunos possam vir a utilizar, de forma autónoma, quer no seu dia a dia quer na esfera da profissão que alguns venham a exercer. Verificou-se também que este tipo de actividades é facilitador de os alunos passarem a estar mais tempo focados numa tarefa. A partir do ensino das ciências é ainda explorada e promovida a escrita, a leitura e argumentação assim como a mobilização das capacidades de seriar, comparar e classificar. A leitura e a escrita geralmente são consideradas áreas de insucesso nestes alunos. Por isso, na leitura foi fundamental que nos textos surgissem personagens com os seus nomes. Isto leva a que os alunos empatizem com as personagens ou mesmo se identifiquem com elas e incentiva-os gradualmente à leitura. Já em relação á escrita, as actividades curriculares devem ser desenhadas, de tal forma que obriguem frequentemente os alunos a terem de escrever, não apenas vocábulos isolados mas frases simples minimamente estruturadas e estreitamente relacionadas com o que estão a fazer em cada momento. Assim sendo a estratégia parece ser facilitadora do aumento gradual da produção de texto com mais qualidade e facilitadora também da aprendizagem escrita de alguns termos sem erros ortográficos. Começam a reconhecê-los em termos de leitura, com repercussões na reprodução quer em termos de escrita, quer em termos de leitura. Indicam-se ainda algumas implicações na formação de professores. Sugerem-se também algumas futuras investigações.