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Authors
Pombo, Olga
Advisor(s)
Abstract(s)
Este trabalho tem como seu objecto a questão da Unidade da
Ciência, tema recorrente de toda a cultura ocidental.
Aspiração antiga que, em tensão e alternância constantes com a
tendência contrária à especialização, atravessa toda a história do
pensamento ocidental e que, após um período em que pareceu estar
totalmente ultrapassada pela disciplinaridade crescente resultante do
acelerado processo de especialização do conhecimento científico que se
desencadeou no século XIX, é hoje de novo ressentida como exigência do
próprio progresso dos saberes especializados e da inventividade dos seus
investigadores. Assim nos parece, de facto, poderem ser interpretados
diversos sinais que, das mais diversas formas, se têm vindo a fazer
sentir, quer a nível da produção, quer da transmissão e aplicação do
conhecimento científico: o apelo à interdisciplinaridade, a revigoração do
movimento enciclopedista, a emergência de novas configurações
disciplinares tais como a teoria dos sistemas, as ciências cognitivas, as
ciências da complexidade, a reabilitação das categorias da globalidade, da
interacção, da organização, da teleologia como objecto de uma
investigação científica cada vez menos reducionista ou os fenómenos da
integração, universalização e mundialização da cultura. Eles seriam como
que uma primeira e tímida manifestação institucional da racionalidade
transversal que, cada vez mais, liga as várias disciplinas.
Não estamos pois perante um tema entre outros, uma ideia mais
ou menos bizarra e completamente ultrapassada. Pelo contrário,
pensamos que a ideia de unidade da ciência se confunde com a própria
ideia de ciência. Na verdade, na sua descrição mais breve, a ideia de
unidade das ciências não é mais que a unificação dos saberes, dos dados, das experiências, das regularidades, das leis, das teorias. Conhecer o
mundo significa ter dele uma descrição minimal, isto é, unificada,
identificar similaridades e formular leis universais. Neste sentido, a
unidade da ciência seria a tarefa cognitiva central da própria ciência. Ela
corresponde ao projecto de não renunciar à totalidade sob o pretexto de
ter que analisar cada uma das partes. A unidade da ciência não é assim
um arcaísmo nostálgico mas uma atitude de recusa activa dos limites que
resultam da manifesta carência dessa unidade, uma reacção positiva fac e
à especialização e à racionalidade instrumental que ela facilita.
Dos muitos nomes que, ao longo dos séculos, se confrontaram com
a grande questão da Unidade da Ciência, Leibniz é porventura aquele
que, de modo mais fecundo e convicto, visa a unidade dos saberes. Nesse
sentido, e de algum modo no prolongamento de anteriores investigações
(cf. Pombo, 1987), este estudo tem uma tripla ambição: 1) procurar
pensar quais os desafios que a actual situação disciplinar dos saberes
coloca à concepção unitária do saber de que Leibniz (mas não só ele) é
um destacado representante, 2) ver de que modo Leibniz, e toda a
tradição enciclopedista que dele se reclama, pode ajudar a pensar as
questões que hoje se colocam aos diversos saberes em termos da sua
articulação e da mobilidade e reorganização das suas fronteiras, 3)
apresentar, nos seus traços gerais, os desenvolvimentos teóricos de
Leibniz relativamente à ideia de Unidade das ciências os quais, tendo
como pano de fundo o projecto de constituição uma Mathesis Universalis,
se inserem no quadro do enciclopedismo filosófico. Em particular,
interessa-nos ver de que modo, no contacto com algumas das
investigações enciclopédicas que lhe são anteriores, Leibniz persegue o
velho ideal lullista de uma ciência única e universal, ideal no qual,
segundo cremos, estão pensadas algumas hipóteses e inspirações que
podem - e devem - ser hoje de novo consideradas. (...)
Description
Tese de doutoramento em Educação (História e Filosofia da Educação), apresentada à Universidade de Lisboa através da Faculdade de Ciências, 1998
Keywords
Sociologia do conhecimento Interdisciplinaridade Educação - Filosofia Teoria do conhecimento Filosofia das ciências Ensino Conhecimento científico Teses de doutoramento - 1998
