Exposição passiva ao fumo ambiental do tabaco como factor de risco para a otite média em crianças

Abstract

A exposição passiva das crianças ao fumo ambiental do tabaco (FAT) é um factor de risco independente, modificável e que contribui directamente para a otite média (OM). Nos primeiros anos de vida existe maior susceptibilidade para o desenvolvimento de OM, havendo também maior vulnerabilidade ao FAT. As crianças portuguesas encontram- se entre os jovens europeus mais expostos ao FAT, principalmente em casa. Vários compostos presentes no FAT provocam alterações estruturais nas barreiras físicas do tracto respiratório, assim como alterações imunológicas, predispondo ao desenvolvimento de infecções, como a OM. De acordo com a evidência disponível, são os pais e familiares a principal fonte de exposição para a criança, predominantemente no carro e em casa. Vários estudos concluem que o tabagismo materno constitui o factor de risco mais importante para o surgimento de OM nas crianças com maior tendência para a cronicidade e, consequentemente, com necessidade de tratamento cirúrgico. Verifica-se ainda que, a OM tende a recorrer mesmo após a realização de timpanostomia. Assim sendo, a OM, e a morbilidade a ela inerente, enquanto secundárias à exposição ao FAT, constituem um problema major de saúde pública que acarreta um grande impacto social, económico e familiar. Este facto alerta para a necessidade de implementação de medidas anti-tabaco efectivas que permitam criar ambientes livres de tabaco, mitigando a acção nefasta do FAT na saúde das crianças. Os pediatras, os médicos de medicina geral e familiar e outros profissionais de saúde, encontram-se numa posição privilegiada para sensibilizar e proporcionar assistência aos pacientes e às suas famílias na educação, prevenção, redução e cessação do tabagismo. O objectivo principal desta revisão bibliográfica consiste em rever a evidência disponível referente à associação entre a exposição passiva das crianças ao FAT e o desenvolvimento de OM.

The passive exposure of children to environmental tobacco smoke (ETS) is an independent and modifiable risk factor, directly associated to otitis media (OM). During the first years of life there is a higher susceptibility to the development of OM, as well as a greater vulnerability to passive smoking exposure. Portuguese children are among the young Europeans more exposed to ETS, especially at home. Many components of tobacco smoke produce immunological and structural changes in the physical barriers of the respiratory tract, which inevitably is inclined to develop infections, such as OM. Based on available evidence, parents and family are the main source of exposure, especially in cars and at home. Many studies establish maternal smoking as the main risk factor for OM in children, leading to chronicity, and therefore to surgical treatment. There is also evidence of recurrent OM even after tympanostomy. OM and its morbidity, while secondary to ETS exposure, represents a major public health concern, with not only a social and economic impact but also an impact on families. This fact raises awareness for the need of implementation of effective anti-tobacco measures that will allow to create smoke free environments, mitigating the harmful effects of ETS on children’s health. Pediatricians, general practitioners and other health care professionals are found to be in a privileged position to sensitize and to assist patients and their families with education, in prevention, and in the cessation of smoking. The aim of this paper is to present a review of the literature published about the relationship between children’s passive ETS exposure and the development of OM.