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http://hdl.handle.net/10400.5/99755
Título: | Contribution of green roofs to the biodiversity of Lisbon |
Autor: | Pires, Ana Margarida Rei |
Orientador: | Martins, Ana Isabel Camoez Leal da Encarnação Tiago, Patrícia Maria Nunes |
Palavras-chave: | Ecologia urbana Coberturas verdes Aves Artrópodes Conservação da biodiversidade Teses de mestrado - 2025 |
Data de Defesa: | 2025 |
Resumo: | Prevê-se que o crescimento da população humana e a sua progressiva concentração em áreas urbanas
irá levar à contínua expansão das cidades nas próximas décadas. Este aumento exige mais espaço e mais
recursos, resultando inevitavelmente na fragmentação e destruição de habitats naturais. Perante este
cenário, torna-se cada vez mais urgente procurar soluções que possam mitigar, pelo menos em parte, os
impactos negativos na biodiversidade. Nesse contexto destacam-se as Soluções Baseadas na Natureza
(ou Nature-Based Solutions – NBS) que, especificamente no contexto urbano, têm como objetivo
promover um crescimento urbano sustentável integrando questões ambientais, sociais e económicas.
As Coberturas Verdes são um exemplo de Solução Baseada na Natureza em que a infraestrutura
construída, como os telhados de edifícios ou áreas por cima de parques de estacionamento subterrâneos,
é parcial ou totalmente coberta por vegetação. Estas infraestruturas oferecem uma série de benefícios
bem descritos e analisados, tanto para as áreas urbanas como para o bem-estar humano, como a retenção
de águas pluviais, a redução da temperatura, a melhoria da qualidade do ar e até benefícios económicos.
No entanto, existe uma desproporção entre o número de estudos que se focam nestas questões e aqueles
que se dedicam a explorar a importância destas infraestruturas para a biodiversidade urbana e a sua
integração na matriz das cidades. A cidade de Lisboa não é exceção a esta realidade. Estudos prévios
feitos nesta cidade focaram-se principalmente na viabilidade económica da sua instalação, dando ênfase
aos seus benefícios melhor descritos, como a regulação térmica, isolamento sonoro e valor estético, com
menos atenção dada ao impacto das coberturas verdes na biodiversidade. Lisboa tem diversos espaços
verdes, espalhados pela cidade, com tamanhos, comunidades vegetais e estrutura variáveis. O maior
destes espaços verdes é o Parque Florestal de Monsanto (PFM), com cerca de 900 hectares, que está
conectado a vários pontos da cidade através de corredores verdes. As coberturas verdes oferecem novas
possibilidades para a implementação de mais áreas verdes na matriz urbana de Lisboa, contribuindo para
estes corredores.
As aves são um grupo faunístico bem conhecido e amplamente utilizado em estudos ecológicos, sendo
relativamente fáceis de detetar e observar, têm amplas distribuições e são bons indicadores de alterações
ambientais. Especificamente em meio urbano, alguns autores têm vindo a descrever as aves como
indicadores da complexidade ecológica da matriz urbana, já que respondem a diferentes aspetos dentro
da mesma. Alguns exemplos incluem o favorecimento de espécies generalistas em zonas com maior
desenvolvimento urbano e diminuição da riqueza específica com o aumento da perturbação, por
oposição aos espaços verdes, que apresentam níveis mais elevados de riqueza e evenness (a proporção
de abundância de cada espécie relativamente às outras espécies dentro da comunidade). Relativamente
a coberturas verdes, há também estudos que indicam que as coberturas podem oferecer recursos
adicionais às comunidades de aves e aumentar a conectividade de habitat, inclusive durante a época de
reprodução.
Os artrópodes são outro grupo faunístico que é usado com frequência como indicador ambiental, já que
são relativamente fáceis de amostrar, são um grupo altamente diverso (inclusive funcionalmente), e
respondem de forma relativamente rápida a alterações ambientais. No passado já foi demonstrado que a
riqueza de artrópodes tende a diminuir de forma geral com níveis mais altos de urbanização, e que um
aumento de impermeabilização das superfícies contribui para diminuição da diversidade deste grupo.
Em ambientes urbanos, as coberturas verdes parecem complementar espaços verdes pré-existentes,
podendo ser colonizadas pelas comunidades de zonas circundantes, especialmente coberturas com
maiores dimensões e instaladas em paisagens urbanas com mais vegetação. Foi também demonstrado em estudos anteriores que, quando comparadas a telhados convencionais, os telhados verdes apresentam
maior abundância de artrópodes.
Assim, este estudo tem três objetivos principais: (1) caracterizar as comunidades de aves e artrópodes
que utilizam as coberturas verdes de Lisboa, (2) comparar estas comunidades em duas tipologias de
coberturas verdes (Intensivas e Extensivas), e (3) comparar as comunidades das coberturas verdes com
as de outras estruturas presentes na matriz da cidade, utilizados como controlos – jardins urbanos (jardins
convencionais, que não configuram coberturas) e áreas cinzentas (áreas com pouca a nenhuma
vegetação).
Para tal, foi realizada uma avaliação das comunidades que utilizam as coberturas verdes de Lisboa
através de métodos tradicionais de amostragem: pontos de escuta de 10 minutos para as aves, e transetos
de busca ativa de 30 metros para os artrópodes, em duas épocas (inverno 2023-2024 e primavera 2024),
em coberturas verdes que abrangiam a maior diversidade possível de locais na cidade. O número de
pontos de escuta e transetos realizados em cada cobertura variou, tendo em conta fatores como a área
da cobertura e a estrutura da vegetação. As aves foram, na sua maioria, tratadas ao nível da espécie,
enquanto os artrópodes foram identificados até ao nível taxonómico mais baixo possível, sendo tratados
ao nível da família.
Para a seleção das coberturas verdes a amostrar foram tidas em conta as boas condições de manutenção)
e acesso (com preferência para locais públicos), bem como área suficiente para proceder à amostragem
quer de aves, quer de artrópodes. Procurou-se ainda, para o maior número possível de coberturas verdes,
ter zonas controlo (jardins urbanos e zonas cinzentas) afastadas num raio máximo de 250 metros da
cobertura correspondente. Para comparação entre tipos de coberturas, foram amostradas 19 coberturas
verdes, divididas entre Extensivas (aquelas que apenas tinham substratos herbáceos e/ou arbustivos) e
Intensivas (coberturas que incluem também um estrato arbóreo). Para comparação entre habitats, foram
amostrados 11 locais de cada tipo: coberturas verdes, jardins urbanos e zonas cinzentas. Posteriormente,
as comunidades foram então comparadas através de métricas como o índice de Shannon, a abundância
e a riqueza de espécies (aves) ou famílias (artrópodes), além de (nalguns casos) curvas de rarefação e
Non-Metric Multi-Dimensional Scaling (NMDS).
Os resultados mostram que, no caso das aves, existem diferenças estatisticamente significativas entre
coberturas verdes Extensivas e Intensivas quando comparados o índice de Shannon e a riqueza
específica, bem como os resultados das curvas de rarefação. As coberturas Intensivas apresentam
comunidades de aves mais diversas. A análise NMDS mostra uma maior variabilidade nas coberturas
Extensivas, enquanto as Intensivas parecem mais semelhantes entre si. Relativamente aos artrópodes,
esta comparação não revelou resultados significativos, o que pode ser atribuído possivelmente ao tipo
de amostragem utilizada e à diferença no número de locais entre amostras. Quando comparados os tipos
de habitat, a maioria das análises – índice de Shannon, abundância, riqueza e curvas de rarefação –
indicou que, para as aves, não há diferenças estatisticamente significativas entre os espaços verdes
amostrados, coberturas verdes e jardins urbanos, mas que estes são distintos das zonas cinzentas. A
exceção a estes resultados verifica-se na comparação da riqueza e abundância, especificamente no
inverno, em que a diferença entre coberturas verdes e zonas cinzentas é apenas quase significativa –
ainda assim, não se observa diferença entre as coberturas verdes e os jardins urbanos. A análise NMDS
apresentou resultados que corroboram as análises realizadas na época da primavera. Em relação aos
artrópodes, as análises mostraram resultados estatisticamente significativos na primavera, época na qual
foram semelhantes aos obtidos para as aves, sem diferenças entre coberturas verdes e jardins urbanos.Em geral, estes resultados evidenciam, por um lado, a importância da complexidade/diversificação dos
habitats, que oferecem uma maior quantidade de recursos alimentares e de refúgio, e, por outro lado,
salientam o potencial benéfico da instalação de coberturas verdes sempre que possível, em alternativa a
infraestruturas sem vegetação. Assim, esta investigação não só contribui para uma compreensão mais
completa das coberturas verdes e do impacto da sua estrutura vegetal nas comunidades faunísticas
urbanas, como também as identifica como uma possível estratégia para aumentar a área ocupada por
espaços verdes nas paisagens urbanas, enfatizando a sua importância crítica para a biodiversidade de
ambientes urbanos. Green roofs are a type of Nature-Based Solution (NBS) where built infrastructure (as building rooftops or spaces above underground parking structures) is partially or fully covered by vegetation. These infrastructures offer well documented and analysed benefits for urban areas and human well-being, including rainwater retention, temperature reduction, air quality improvement, and economic benefits. However, there is a notable disproportion between the number of studies that focus on these aspects and those that explore the role of green roofs in supporting urban biodiversity and their integration into the urban matrix. As such, this study aims to contribute to fill that knowledge gap, having three main objectives: (1) characterizing bird and arthropod communities using green roofs, (2) comparing these communities in different types of green roofs (Intensive and Extensive), and (3) comparing the communities of green roofs with those of other structures present in the city’s matrix – urban gardens and grey areas (with little to no vegetation). For this, biodiversity assessments were carried out in 19 green roofs in Lisbon, through the use of traditional sampling methods: point counts for birds, and active search transects for arthropods. Results show that, for birds, there was statistically significant differences between Extensive and Intensive green roofs, with the latter having more diverse bird communities. Furthermore, for the metrics used, this study shows that the bird and arthropod communities that occupy the sampled green roofs are similar to those in conventional urban gardens, and that both these structures are more diverse than grey areas. In conclusion, this study not only contributes to a more comprehensive understanding of green roofs and the impact of their plant structure on urban faunistic communities, but also highlights their potential as a mean to expand green spaces within urban landscapes, highlighting their critical importance for biodiversity in urban environments. |
Descrição: | Tese de Mestrado, Biologia da Conservação, 2025, Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências |
URI: | http://hdl.handle.net/10400.5/99755 |
Designação: | Mestrado em Biologia da Conservação |
Aparece nas colecções: | FC - Dissertações de Mestrado |
Ficheiros deste registo:
Ficheiro | Descrição | Tamanho | Formato | |
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TM_Ana_Margarida_Pires.pdf | 3,67 MB | Adobe PDF | Ver/Abrir |
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