Vózrtice. [Re]velaciones íntimas de una travesía. Entre el Vocear – Escuchar – Sentir – Pe(n)sar

Abstract

Vózrtice. [Re]velaciones íntimas de una travesía. Entre el Vocear – Escuchar – Sentir – Pe(n)sar es un trabajo final de doctorado desenvuelto en el marco del Programa en Estudios de Teatro de la Universidad de Lisboa, en el que indago en la posibilidad de acceder a formas de existir (y resistir) en y a través de la voz como herramienta performativa sentipensante. Enmarcado en el paradigma da Investigación Artística/Práctica como Investigación, me inspiro en el concepto Etnosonía (Molinari, 2016), como base metodológica para explorar la vocalidad en sus infinitas posibilidades de significar. Este trabajo contempla componentes textuales y no textuales, siendo el componente escrito aquí presentado el cierre de la investigación doctoral, mediante el cual procuro entrelazar y reflexionar en varias prácticas y materiales desenvueltos, con el propósito de aportar a los siguientes objetivos: a) explorar la voz como matriz para hacer, sentir y pensar; b) contribuir al sentipensamiento a través de la voz en una perspectiva transdisciplinar; y c) investigar a través de la práctica artística una vocalidad multidimensional. Este componente escrito se divide en tres capítulos, llamados momentos vitales: El germen, Zozobra y Las voces de mi vida, cada uno de los cuales aborda diferentes prácticas vocales desarrolladas, a las que llamé vocoacciones. En Cariñarse presento las consideraciones finales, centrándome en los aciertos, dificultades y posibilidades de dar continuidad al trabajo. Sostengo que Vózrtice se configuró como un conjunto de prácticas a través de las cuales se desarrollaron diversos procesos de experimentación y reconocimiento de la voz autoral singular, tanto individualmente como en relación. Adicionalmente, comparto algunas propuestas en formato poético visual que entiendo como cuerpos vocales y que pueden entenderse como otras camadas de comprensión. Igualmente, identifico algunos hallazgos metodológicos que se evidenciaron de manera transversal durante la investigación y comparto caminos futuros imaginados durante el trabajo. Destaco que este trabajo busca desterritorializar los conocimientos académicos tradicionales vinculados al fenómeno vocal, valorizando un conocimiento situado y singular sobre y en la voz surgido a través de la práctica vocal.

Vozrtice. Intimate [re]velations of a journey. Between Voicing – Listen – Feel – Thi(n)k is a final doctoral project developed within the framework of the Theater Studies Program at the University of Lisbon, in which I investigate the possibility of accessing ways of existing (and resist) in and through the voice as a feeling-thinking performative tool. Framed in the paradigm of Artistic/Practice as Research, I am inspired by the concept of Etnosonía (Molinari, 2016), as a methodological basis to explore vocality in its infinite possibilities of meaning. This work contemplates textual and non-textual components. Being the written component presented here the closing of the doctoral research, through which I try to intertwine and reflect on various practices and materials developed, with the purpose of contributing to the following objectives: a) explore the voice as a matrix to do/make, feel and think, b) contribute to feeling/thinking through voice in a transdisciplinary perspective; and c) investigate multidimensional vocality through artistic practice. This written component is divided into three chapters, called vital moments: The germ, Zozobra and Voices of my life, each of which addresses different developed vocal practices, which I called vocoactions. In Cariñarse I present the final considerations, focusing on the successes, difficulties, and possibilities of continuing the work. I maintain that Vózrtice was configured as a set of practices through which various processes of experimentation and recognition of the singular authorial voice were developed, both individually and in relation. Additionally, I share some proposals in visual poetic format that I understand as vocal bodies and that can be understood as other layers of understanding. Likewise, I identify some methodological findings that were evident transversally during the research and share future paths imagined during the work. I emphasize that this work seeks to deterritorialize traditional academic knowledge linked to the vocal phenomenon, valuing a situated and singular knowledge about and in the voice that emerged through vocal practice.

Vózrtice. [Re]velaciones íntimas de una travesía. Entre el Vocear – Escuchar – Sentir – Pe(n)sar é um trabalho final de doutoramento desenvolvido no âmbito do Programa em Estudos de Teatro da Universidade de Lisboa, no qual se investiga a possibilidade de aceder a modos de existir (e resistir) na e através da voz como ferramenta performativa sentipensante. Este trabalho enquadra-se no paradigma da Investigação Artística/Prática como Investigação, para o qual convoco o conceito de Etnosonía, proposto por Paula Molinari (2016), como base metodológica para explorar a vocalidade nas suas possibilidades infinitas de significar. A proposta de Molinari ajudou-me, particularmente, a enquadrar diversas práticas vocais – que entendo como fluxos de vocear-escutar-sentir-pensar –, atendendo à forma como estes acontecem e às reflexões que convocam, numa lógica que procura conjugar as diversas possibilidades de ser, sentir, evocar, invocar, e vocear associados à vocalidade. O trabalho final encerra, assim, diversas componentes – textuais e não textuais –, sendo a componente escrita que aqui se apresenta o culminar da investigação de doutoramento, através da qual se procura entrelaçar e refletir sobre as várias práticas desenvolvidas e os diversos materiais gerados, com vista a contribuir aos seguintes objetivos: a) explorar a voz como matriz para fazer, sentir e pensar; b) contribuir para o senti-pensamento através da voz numa perspetiva transdisciplinar; e c) investigar através da prática artística uma vocalidade multidimensional. Esta componente escrita está dividida em três capítulos que chamo de momentos vitais: O Gérmen, Zozobra e As Vozes da Minha Vida, cada um abordando as diferentes práticas vocais que foram desenvolvidas ao longo da investigação de doutoramento, a que dei o nome de vocoações. No primeiro momento vital, O Gérmen, começo por introduzir o estado da investigação sobre e através da voz, explicando que esta é concebida como um campo de estudo móvel que intersecta diversas disciplinas. Apoiada no trabalho de Konstantinos Thomaidis e Ben Macpherson (2015), destaco a ausência de uma definição única da voz, propondo-a como uma pluralidade que pode ser percecionada enquanto fenómeno situado. Nesse sentido, o trabalho final desenvolvido apela ao diálogo entre autores com epistemologias diversas numa perspetiva transdisciplinar. De seguida, abordo o conceito de vocalidade, cunhado por Paul Zumthor (1993), e corpo vocal, por Adriana Cavarero (2005), procurando manter a ênfase na corporeidade afetiva da voz que está em mudança permanente, para então explorar como a vocalidade e o corpo vocal podem ser compreendidos ao nível do seu potencial de fazer, sentir e pensar. Neste contexto, apoiando-me nos conceitos de corazonar e sentipensamiento, aventuro-me a entender a voz como uma matriz para sentir e pensar enquanto processo de investigação situado. A partir desta perspetiva conceptual, proponho a prática de vocear escutar sentir pensar como metodologia generativa. A prática que gerou a proposta audiovisual Crisálida, roteiro de uma confissão, é, então, apresentada, já que se trata do culminar desta primeira fase de investigação. No segundo momento vital, Zozobra, atendi às vozes disfónicas e improdutivas, questionando a ideia de uma voz normativa e única enraizada na concepção da terapia vocal, e da ideia de capacitismo vocal ainda presente nas artes cénicas. Para tal, começo partilhando a vocoação Recuperar a Voz, na qual recorro a exercícios de trato vocal semi-ocluído (SOVT) – utilizados habitualmente para evitar a hiperfunção vocal e diminuir a inflamação das pregas vocais –, o que me permitiu abordar a relação entre erro, capacitismo e prática vocal de palco e, assim, questionar os padrões que definem as vozes como “aceitáveis”. Posteriormente, apresento a vocoação Soar com (como) o Culo, na qual exploro um canto quotidiano – a meio entre a voz falada e o canto com fins artísticos –, enquanto forma de resistência aos ideais técnicos e interpretativos. Esta vocoação levou-me a adotar uma metodologia (auto)etnosônica híbrida, combinando métodos artísticos e científicos para explorar, através da escuta, possíveis caminhos a que estas vozes improdutivas podiam levar. Esta abordagem foi desenvolvida em duas vocoações: a primeira, 12X12 – na qual utilizei a análise acústica de Espectro Médio de Longo Prazo (LTAS) e uma escala analógica visual para caracterizar as vozes improdutivas como modo de escuta analítico –, a partir da qual criei uma instalação audiovisual que amplifica doze das vozes trabalhadas; e a segunda, Anomáhlia, na qual transformei segmentos de vozes “erradas” (vozes com erros técnico vocais) em gráficos de voz 3D, combinando a escuta analítica com uma experiência de escuta visual. Anomáhlia incluiu também, a criação de pequenos textos poéticos e quadros bordados que traduzem um modo de escuta háptico, através do qual - explorando a relação entre vocalidade e arte têxtil - criei uma instalação com 25 peças de vozes bordadas e 25 vozes escritas. Deste modo, tanto em 12X12 como em Anomáhlia, exploro diferentes modos de escuta, reconhecendo a importância de uma escuta multissensorial nos processos de criação e receção estéticas. Termino o segundo momento vital com reflexões sobre os modos de fazer-sentir-pe(n)sar na voz, propondo o vocear improdutivo enquanto prática criativa capaz de questionar as estruturas de poder na voz e de explorar novas formas de escuta e expressão vocal no campo cénico e pedagógico. No terceiro momento vital, As Vozes da Minha Vida, exploro a lembrança e a memória vocal, partindo de uma perspetiva vivencial para mergulhar na memória sonoro-corporal e na vocalidade intersubjetiva. Para tal, recolhi memórias vocais significativas de pessoas próximas – como canções, palavras e vozes – para criar um esqueleto dramatúrgico vocal baseado no conceito de autobiofonia, tal como definido por Konstantinos Thomaidis (2020). A performance de áudio Travesía Vocal foi criada a partir desta vocoação. De seguida, exploro a memória sonoro-corporal através da vocoação El Pasado Adelante, inspirando-me na sabedoria filosófica andina que entende o passado como parte do presente. Neste sentido, trabalhei numa prática de experimentação vocal coletiva baseada na metodologia Creative Articulations Process (CAP) de Jane Bacon e Vida Midgelow (2014), juntamente com outra artista-investigadora vocal, com o intuito de explorar outras camadas afetivas da vocalidade enquanto experiência intersubjetiva. Deste processo surgiu El Pasado Adelante, um ensaio cénico que interroga a vocalidade nas suas potencialidades de co-construção de memórias de um ponto de vista feminista. Concluo o momento vital 3 com uma reflexão sobre as vozes e sua relação com a memória, propondo uma vocalidade intersubjetiva através da qual se possa reconhecer tanto a diversidade de vozes que coabitam em cada pessoa como a vocalidade que se vai construindo no encontro de vozes, e o quanto esse reconhecimento é relevante nos processos de criação cénica. Além disso, levanto a necessidade de continuar a investigar as formas como o encontro entre vozes cria novas camadas para compor uma vocalidade intersubjetiva nos processos de cocriação sonora, questionando a relação entre uma estrutura dramatúrgica fixa e a experimentação ao vivo dentro de um dispositivo cénico como o proposto em El Pasado Adelante. Para fechar esta componente escrita, apresento as considerações finais no capítulo Cariñarse, onde reflito sobre os processos vivenciados durante o desenvolvimento deste trabalho final de doutoramento, debruçando-me sobre os sucessos, dificuldades e possibilidades de seguimento deste trabalho final. Neste contexto, argumento que Vózrtice se configurou como um conjunto de práticas assentes na relação de vocear, escutar, sentir e pensar, através das quais se desenvolveram diversos processos de experienciação e reconhecimento da voz singular da autora – individualmente e em relação com outras – o que implicou aceitar a incerteza inerente a este tipo de trabalhos de investigação artística. Também em Cariñarse, organizo as reflexões em torno dos momentos vitais, sintetizando tanto as trajetórias de cada jornada quanto os fazeres, sentimentos e pensamentos que cada um contém. Adicionalmente, partilho algumas propostas em formato poético visual que encaro como corpos vocais que surgiram durante o desenvolvimento do trabalho e que podem ser entendidos como outras camadas de compreensão. A partir destas propostas, identifico ainda algumas descobertas metodológicas que se evidenciaram de forma transversal durante a investigação, com implicações em todos os momentos vitais. É ainda em Cariñarse que destaco a importância da investigação na e através da vocalidade em relação aos feminismos decoloniais e mestiços enquanto forças a desestabilização dos saberes instituídos, valorizando um conhecimento situado e singular. A partir do meu contexto de praticante-pesquisadora-professora, mestiça, latino-americana, proponho, assim, um sentipensar que constela conhecimentos sensíveis e não universalizantes, contribuindo para uma viragem nos processos tradicionais de estudo da voz na academia – que se mantêm, na generalidade, ainda muito fechados a este tipo de investigação vocal. Nesse sentido, abordo alguns desafios pessoais, como a solidão e a autocensura, enfatizando a importância de criar um tecido conjuntivo de (auto)cuidado para sustentar as vocalidades envolvidas. Adicionalmente, identifico possíveis adaptações deste trabalho final a processos de formação cénica e em saúde, estabelecendo redes para a realização de pesquisas aplicadas. Por último, partilho caminhos futuros imaginados durante o trabalho. Este encerramento, mais do que um fim, é uma abertura para continuar a complementar o que tem sido feito e a desenvolver novos percursos na investigação artística vocal. Destaco que com este trabalho procuro desterritorializar o conhecimento académico tradicional ligado ao fenómeno vocal, dando a oportunidade de gerar novos tipos de conhecimento sobre e na voz através da prática vocal, num processo contínuo de vocear, escutar, sentir e pensar.