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http://hdl.handle.net/10400.5/98908
Título: | An ethnography of women’s working spaces in the night time: gender violence and the right to the night |
Autor: | Galavielle, Juliette Marion Philippine |
Orientador: | Paiva, Daniel André Fernandes Mateo, Jordi Nofre |
Palavras-chave: | Geographies of the night Gender-based violence Nightlife Night work Right to the night |
Data de Defesa: | 21-Fev-2025 |
Resumo: | This dissertation explores the spatial dimension of gender-based violence for the workers of the
nightlife in the city of Lisbon. It is based on an ethnographic study conducted over the course
of the years 2023-2024. Through direct observation, participation, interviews and informal
conversations, the study collects the experiences of women and gender minorities working as
bartenders, waitresses and managers in festive nocturnal spaces such as bars, clubs, restaurants
and cultural spaces. The results of this study highlight the exposure of the workers to a
continuum of violence, encompassing repeated forms of slow violence (jokes, comments,
intimidation) as well as aberrant acts (sexual assault, physical violence, harassment). The
dissertation explores how the pervasiveness of violence, mostly gender based but also racist
and homophobic, impacts the workers relationship with their workspaces. It reveals the
particular spatial strategies and alliances formed between them to discreetly manage their safety
while working. Moreover, it analyses these strategies in the light of the right to the city and
offers a discussion around the concept of the right to the night, arguing that the strategies
employed by the workers in the nightlife venues are materializing their claim for their right to
the night. Ultimately, the dissertation uncovers the limits of the right to the night for women
working in nightlife venues, and proposes a shift of the discussion to another field, which
analyses the materialization of the right to the night in a techno collective organizing rave
parties in Lisbon, and studies the volunteers’ experiment with policy-making and the creation
of an Awareness Team within the collective. Esta dissertação explora a dimensão espacial da violência de género para as trabalhadoras da vida noturna na cidade de Lisboa. Na intersecção entre a Geografia de Género e os Estudos da Noite, este projeto de investigação centra-se na temporalidade da noite nos espaços urbanos. Pretende juntar-se ao recente interesse académico desenvolvido pelo estudo da noite, acompanhando o movimento natural de 'nocturnalização' da nossa sociedade moderna. Esta expressão identifica uma expansão contínua dos usos sociais e simbólicos da noite, evidenciando o papel crescente da noite nas nossas vidas. Porque a noite já não é apenas um momento de descanso, tornou-se um espaço com diferentes usos, reproduzindo hábitos diurnos no espaço noturno: na nocturnização das nossas sociedades, com a ajuda da iluminação pública e do planeamento urbano, a noite pode ser um espaço de trabalho, de lazer, de mobilidade, de festa ou de consumo... as possibilidades são vastas. No caso deste projeto, a noite será abordada como um espaço de festa, e a discussão centrar-se-á na economia da vida nocturna, Mais importante, esta dissertação oferece a oportunidade de olhar para o lado obscuro da noite. Quando a vida nocturna é suposta ser uma temporalidade e um espaço de prazer, leveza, lazer, menos pressão social, geralmente associada à liberdade e à diversão, este estudo centra-se nas questões da violência contra as mulheres, da discriminação e da falta de segurança geral na vida nocturna. Baseia-se num estudo etnográfico realizado ao longo dos anos 2023-2024. Através de observação direta, participação, autoetnografia, entrevistas e conversas informais, o estudo recolhe as experiências de mulheres e minorias de género que trabalham como barmen, empregadas de mesa e gerentes em espaços festivos noturnos como bares, discotecas, restaurantes e espaços culturais. Estudar esta categoria de trabalhadores implica compreender como as suas experiências de trabalho na vida nocturna estão ligadas ao seu género. Pressupõese que as mulheres que exercem estas profissões enfrentam um espetro de discriminação e violência devido ao seu género. Assim, o principal objetivo deste projeto é compreender como as experiências de trabalho das mulheres na vida nocturna de Lisboa são moldadas pela violência de género que enfrentam, e como constroem estratégias para resistir a essa violência enquanto trabalham. Em seguida, ao remobilizar o direito à cidade de Lefebvre, esta dissertação propõe-se refletir sobre a forma como as estratégias das mulheres podem ser entendidas como uma materialização do direito à noite. Por isso, a utilização do método etnográfico é essencial para se envolver nas experiências e práticas vividas de grupos marginalizados específicos, nomeadamente as mulheres e pessoas não binárias. Esta dissertação inspira-se metodologicamente em três vertentes do trabalho etnográfico. Em primeiro lugar, pode argumentar-se que o tipo de etnografia aqui efectuada pode ser associado a uma chamada “geo-etnografia”, uma vez que coloca a noção de espaço no centro da análise. Em segundo lugar, a dissertação implica um profundo envolvimento com a autoetnografia. Esta abordagem envolve o estudo reflexivo da própria experiência do investigador num determinado campo e tem sido destacada como um método estratégico para abordar tópicos de investigação sensíveis em campos onde outros participantes podem ter limitações na comunicação das suas experiências. Como fui empregada de bar durante muitos anos durante a universidade, decidi utilizar a minha experiência profissional complementar ao trabalho etnográfico e as entrevistas. Por último, a dissertação experimenta uma abordagem de investigação-ação. Neste caso, a investigação-ação é entendida, em termos gerais, como uma forma de investigação etnográfica em que os investigadores estão envolvidos na transformação política das relações sociais no terreno. Desenvolvendo-se espontaneamente à margem do trabalho de campo inicial, este segundo trabalho de campo levou a autora a envolver-se ativamente com um coletivo emergente cujo trabalho aborda questões relacionadas com a segurança das mulheres na vida noturna e, por conseguinte, com o direito das mulheres à noite. Esta dissertação começa com uma discussão sobre a definição de violência e uma observação da sua manifestação durante a noite. De facto, a violência de género inclui uma variedade de atos psicológicos, físicos e sexuais que penalizam as transgressões das normas de género e reforçam as relações de poder fundamentadas no género. Esta forma de violência abarca não apenas a violência contra as mulheres, mas também a violência dirigida a pessoas LGBT ou a homens que não cumprem as expectativas de género.. O estudo da economia das actividades de lazer nocturnas põe em evidência uma vida nocturna mainstream frequentemente caracterizada por ambientes patriarcais, heteronormativas e heteronormativizantes. Neste contexto, a violência de género na vida nocturna tem sido objeto de um número crescente de publicações, com estudos que vão desde a violência física à negociação da sexualidade no contexto de ambientes de festa. Neste sentido, os resultados deste estudo destacam a exposição dos trabalhadores a um continuum de violência, abrangendo formas repetidas de violência lenta (piadas, comentários, intimidação), bem como actos de violência explícita (agressão sexual, violência física, assédio). A dissertação explora a forma como a violência generalizada, sobretudo baseada no género, mas também racista e homofóbica, tem impacto na relação dos trabalhadores com os seus espaços de trabalho. Por um lado, o estudo revela e ilustra que existe uma dimensão espacial assimétrica na intensidade da violência de género em Lisboa. Do outro lado, o trabalho de campo mostrou que, muitas vezes, os trabalhadores não sabem como lidar com esta violência, enfrentam-na isoladamente, sem o apoio ou os recursos necessários para a gerir eficazmente, enquanto trabalham, o que tem repercussões consequentes na sua relação com o seu espaço de trabalho. No entanto, o estudo demostra que os trabalhadores não são vítimas passivas da violência de género, que não só usam e se apropriam do espaço de trabalho, como o produzem ativamente: desenvolvem a capacidade de identificar padrões e antecipar a violência, um conhecimento notável dos seus espaços de trabalho - para os utilizarem com segurança. Dado que os locais de diversão noturna são construídos em territórios específicos que proporcionam diferentes níveis de segurança para as trabalhadoras, esta dissertação constatou que a dimensão espacial da violência de género para as trabalhadoras da vida noturna também tem um sentido de territorialidade. Mais, a dissertação revela as estratégias espaciais particulares e as alianças formadas entre elas para gerir discretamente a sua segurança enquanto trabalham. Estas estratégias são individuais e colectivas, e são classificadas em quatro categorias: evitar, antecipar, gerir e combater a violência. A investigação demonstra que os cuidados e o apoio mútuo entre os trabalhadores da vida nocturna existem através de muitos mecanismos. Além disso, analisa estas estratégias à luz do direito à cidade e propõe uma discussão em torno do conceito de direito à noite, argumentando que as estratégias utilizadas pelas trabalhadoras dos espaços de diversão nocturna materializam a reivindicação do seu direito à noite. Ao revelar os limites do direito à noite para as mulheres que trabalham em espaços de diversão nocturna, a dissertação propõe uma deslocação da discussão para um outro trabalho de campo, realizado numa perspective de investigação-ação. Aí, analisa-se a materialização do direito à noite num coletivo techno que organiza festas rave em Lisboa, e estuda-se a experiência dos voluntários com a elaboração de policy-making e a criação de uma Awareness Team no seio do coletivo. |
URI: | http://hdl.handle.net/10400.5/98908 |
Designação: | Geografia Humana: Globalização, Sociedade e Território |
Aparece nas colecções: | IGOT - Dissertações de Mestrado |
Ficheiros deste registo:
Ficheiro | Descrição | Tamanho | Formato | |
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