Christians and muslims in the western Maghrib : defining a zonal frontier (AH 818/CE 1415 – AH 928/CE 1521)

Abstract

This thesis aims at considering the establishment of Portuguese coastal outposts and their surroundings in Western Maghrib as a quintessential frontier society, forged between Christians and Muslims, in the 818/1415 – 928/1521 timeframe. To do so, it will anchor itself in three major assertions: firstly, it intends to further the historical uniqueness of this period, by removing any pre-conceived notion regarding its ulterior colonial ramifications: it will deliberately downplay its symbolical status as the beginning of European overseas’ expansion, as well as of the first colonial(ist) European settlement in what would come to be known as the Kingdom of Morocco; secondly, in tandem with the previous assertion, it will reinforce its medieval roots, by linking them with the political and military strategies employed by the emerging A.H. fifth-sixth-/C.E. twelfth- and A.H. sixth-seventh-/C.E. thirteenth-centuries Iberian Christian kingdoms in regards to Islam and, more particularly, by stressing the historical affinities each side of the Straits of Gibraltar displayed, thus performing what has already been termed “spanning the Strait”; thirdly, without ever disregarding the historical circumstances inherent to any given situation, it will methodologically emphasize the “Christian” and “Muslim” nature of the agents in question, rather than their apparent “national” origin, such as “Portuguese” or “Marīnid”. The thesis is thus divided in two great sections: the first one shall deal with the territorial and sociological dimensions of the frontier: it will be subdivided into the study of the Northern sub-frontier, centred around the cities of Ceuta – al-Qaṣr al-Ṣaghīr – Tangier – Asīlah, and the Southern sub-frontier, based upon the cities of Safī – Azammūr – el-Jadīda – Agadir. Stemming from a thorough analysis of the notion “outer field”, a certain Christian-controlled spatial occupation matrix shall be outlined, which, in turn, shall be doubly related with everyday operations in a militarised setting, such as the ransom of captives, the almogavarias, amongst others, as well as with certain specific events of this history, such as the failed Graciosa attempt and the Muslim victory of al- Maʿmūra. This will also help to further inspect trivialised notions, such that of “protectorate” and “peace moors”. The second one shall deepen the notion of hybridisation, by confronting the doctrinal debates within Christian and Muslim sources with a religious conversions-, volatile loyalties- and mutual acculturation-filled quotidian. To enrich the comprehension of this historiographical cause célèbre by establishing the analytical relevance of a frontier mind-set will be the ultimate objective of this work.

Esta tese tem como objectivo central o estudo da sociedade de fronteira que cristãos e muçulmanos estabeleceram no Magrebe ocidental, durante o período mais importante da ocupação portuguesa desta região, entre 818/1415 e 928/1521. Para tal, este estudo ancorar-se-á em três vectores fundamentais: em primeiro lugar, o aprofundamento da singularidade histórica deste período, desligando-o de qualquer noção pré-concebida que prefigure as suas ramificações coloniais ulteriores: centralmente, desvalorizará os refrões insistentes que tomam esta época como o momento genesíaco da expansão europeia oceânica, bem como do primeiro assento colonial(ista) europeu no solo do que viria a ser o reino de Marrocos; em segundo lugar, em articulação com o aspecto anterior, reforçará as raízes medievais do fenómeno, relacionando-o com as estratégias políticas e militares empregues pelos emergentes reinos cristãos ibéricos com respeito ao Islão, no decurso dos séculos A.H. V-VI/D.C. XII e A.H. VI-VII/D.C. XIII. Prestará especial atenção às afinidades históricas existentes entre ambos os lados do Estreito de Gibraltar, num exercício que já foi designado como o de “articular o Estreito”; finalmente, não desconsiderando jamais as circunstâncias históricas de cada situação específica, colocará uma ênfase metodológica particular na pertença religiosa dos intervenientes em causa (cristãos ou muçulmanos), em vez de os afunilar indesejavelmente num rótulo pretensamente “nacional”, como o sejam o de “portugueses” ou de “merínidas”. A tese encontra-se dividida em duas grandes secções: a primeira será dedicada ao estudo das vertentes sociológica e territorial da fronteira: subdividir-se-á no estudo da sub-fronteira norte, baseada nas cidades de Ceuta, Tânger, Arzila e Alcácer-Ceguer, e no da sub-fronteira sul, sedeada nas cidades de Safim, Azamor, Mazagão e Agadir. Partindo de uma análise aprofundada da noção de “campo exterior”, definir-se-á uma matriz básica de ocupação do espaço sob domínio cristão, relacionando-a duplamente com as operações diárias de convivência num espaço tendencialmente militarizado, como o sejam o resgate de cativos, as almogavarias, entre outros, bem como com certos momentos específicos desta interacção, como o sejam o falhanço da Graciosa ou o desastre de Mamora. Tal permitir-nos-á também problematizar conceitos trivializados como os de “protectorado” ou de “mouros de pazes”. A segunda parte aprofundará a noção de hibridização, confrontando os debates doutrinais nas fontes cristãs e muçulmanas com o quotidiano marcado por conversões religiosas, lealdades voláteis e pela aculturação mútua. O objectivo último desta tese será, não só o de pintar um quadro mais complexo de um tópico historiográfico muito debatido, mas também o de comprovar a pertinência analítica de uma moldura mental, baseada no conceito de fronteira, para este espaço e período temporal.