A tua vida na minha mão : o impacto percebido no trabalho com pessoas com ideação suicida e o autocuidado em psicólogos clínicos

Abstract

O trabalho dos psicólogos envolve contacto direto com o sofrimento humano, o que adquire um maior relevo quando se trabalha com populações vulneráveis, nomeadamente as pessoas que experienciam ideação suicida estruturada ou já realizaram tentativas de suicídio. Estes pacientes podem exigir do psicólogo mais recursos emocionais, o que torna importante compreender qual é o impacto percebido do trabalho com pacientes com ideação suicida no bem-estar dos psicólogos; numa tentativa de encontrar resultados ainda não amplamente discutidos na literatura de forma conjunta. As práticas de autocuidado surgem como relevantes na medida em que podem ser alicerçadas à vivência deste contexto, dos seus riscos e do seu impacto; de modo a auxiliar o psicólogo na manutenção do seu bem-estar. Este estudo qualitativo pretendeu explorar o entendimento subjetivo dos participantes acerca do seu trabalho com esta população, acedendo às suas perceções, crenças e significações. Nas entrevistas semiestruturadas participaram dez psicólogos clínicos portugueses, tendo sido feita uma análise temática das suas respostas, com auxílio do software QSR NVivo 14. Os resultados sugerem que os participantes percebem o trabalho clínico com esta população como um trabalho de elevada carga emocional, onde o distanciamento é mais difícil e o sentido de responsabilidade é maior. Por outro lado, os psicólogos identificam um sentimento de gratificação quando trabalham com estes pacientes. A antecipação da perda de um paciente por suicídio é percebida com medo e ansiedade pela maioria dos participantes. Quanto ao autocuidado neste contexto, os participantes reconhecem a sua importância e todos identificam a utilização de estratégias de autocuidado. Relativamente às barreiras ao autocuidado, a maioria dos participantes parece identificá-las. Por último, este estudo sugere uma melhor compreensão da vivência deste contexto e do seu impacto.

The work of psychologists involves direct contact with human suffering, which becomes more important when working with vulnerable populations, namely people who experience structured suicidal ideation or have already attempted suicide. These patients may require more emotional resources from the psychologist, which makes it important to understand the perceived impact of working with patients with suicidal ideation on the well-being of psychologists; in an attempt to find results not yet widely discussed in the literature jointly. Self-care practices emerge as relevant to the extent that they can be based on the experience of this context, its risks and its impact; in order to assist the psychologist in maintaining their well-being. This qualitative study aimed to explore participants' subjective understanding of their work with this population, accessing their perceptions, beliefs and meanings. Ten Portuguese clinical psychologists participated in the semi-structured interviews, and a thematic analysis of their responses was carried out, with the help of the QSR NVivo 14 software. The results suggest that the participants perceive clinical work with this population as highly emotionally charged work, where the distancing is more difficult and the sense of responsibility is greater. On the other hand, psychologists identify a feeling of gratification when working with these patients. The anticipation of losing a patient to suicide is perceived with fear and anxiety by most participants. As for self-care in this context, participants recognize its importance and all identify the use of self-care strategies. Regarding barriers to self-care, most participants seem to identify them. Finally, this study suggests a better understanding of the experience of this context and its impact.