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Authors
Advisor(s)
Abstract(s)
O carcinoma da mama (BC) afeta milhões de pessoas no mundo e apesar das melhorias na terapêutica
e abordagem clínica, continua a constituir um grave problema clínico. Esta doença divide-se em três
subtipos moleculares, o BC do tipo luminal, que expressa o recetor de estrogénio e/ou progesterona, o
BC enriquecido com HER2, que apenas expressa o recetor do fator do crescimento epidermóide 2, e o
BC do tipo triplo negativo (TNBC), se não expressar nenhum destes recetores. Este último é o carcinoma
com o fenótipo mais agressivo e com uma maior taxa de mortalidade entre os subtipos de BC. Isto devese parcialmente ao facto de não existirem terapias alvo e ao desenvolvimento de resistência à terapêutica
convencional.
Um melhor conhecimento dos mecanismos subjacentes à biologia da doença pode ajudar a identificar
novos marcadores e alvos terapêuticos. Sabe-se que, apesar de ser uma doença multifatorial, todas as
células malignas partilham características comuns, as hallmarks do cancro. Neste contexto, o estudo do
metabolismo tumoral ocupa um lugar privilegiado. As células malignas sofrem remodelação metabólica,
de forma a sustentar a elevada capacidade proliferativa e de biossíntese. Esta remodelação promove a
adaptação ao microambiente tumoral e à biodisponibilidade de nutrientes. Assim, as células
cancerígenas expressam transportadores que medeiam a importação de compostos orgânicos do meio
extracelular.
Vários estudos mostram que o metabolismo da cisteína e dos ácidos gordos contribuem para a
progressão do BC. A cisteína é um aminoácido essencial, cuja importação é feita através do
transportador xCT, que o nosso grupo descreveu estar sobreexpresso em linhas celulares e amostras
humanas de TNBC. A cisteína no interior da célula é utilizada para sintetizar a glutationa, que é
biologicamente muito relevante, pois é um cofator de várias enzimas antioxidantes e destoxificantes,
nomeadamente, a glutationa peroxidase 4, que protege as células de danos por peroxidação lipídica. Os
ácidos gordos desempenham várias funções no interior da célula, sendo uma fonte de energia,
constituintes de membranas, e moléculas de sinalização. A sua importação é feita através de vários
transportadores, nomeadamente o FATP1 que também está associado à biossíntese de gotas lipídicas
(LD). Estas são organelos intracelulares de ácidos gordos, que capturam os lípidos não esterificados no
seu interior, na sua forma neutra, protegendo as células da formação de peróxidos lipídicos, e ainda os
libertam controladamente consoante as necessidades energéticas das células. Estudos prévios realizados
pelo nosso grupo demonstraram que linhas celulares e amostras humanas de TNBC apresentam
expressão aumentada de FATP1.
O xCT e a formação de LD são inibidores da ferroptose, que é uma morte celular provocada pela
acumulação de peróxidos lipídicos, devido à geração de radicais livres relacionados com iões ferro.
Assim, este projeto tem o objetivo de explorar se a inibição do xCT e do FATP1 poderá ser uma
abordagem terapêutica viável em BC, promovendo a ferroptose. A inibição do xCT e do FATP1 foi
realizada com selénio-crisina (SeChry) e arilpiperazina 5k, respetivamente. Para os modelos in vitro
utilizou-se quatro linhas celulares que representam diferentes subtipos moleculares de BC, as MCF7 e
BT474 do subtipo molecular luminal, e as HCC1806 e MDA-MB-231 do subtipo TNBC. Para a
observação dos efeitos do SeChry e do 5k in vivo, foi desenvolvido um modelo xenógrafo ortotópico
murino, usando as células MDA-MB-231. As linhas celulares foram expostas ao SeChry, ao 5k, e à
combinação dos dois, durante 24 h. Os ratinhos foram tratados com SeChry encapsulado num
dendrímero de poliureia funcionalizado com ácido fólico (SeChry@PUREG4-FA2), para reduzir a
toxicidade sistémica, sendo mais específico para as células tumorais, visto que estas sobreexpressam o
recetor do folato. O tratamento desenrolou-se ao longo de 2 semanas com 2 aplicações a cada 3 dias,
sendo o SeChry@PUREG4-FA2 administrado no tumor e o 5k no peritoneu.
In vitro, caracterizaram-se os efeitos do SeChry e do 5k com ensaios de morte com anexina-V e
iodeto de propídio (PI) por citometria de fluxo. Foi demonstrado, que as células quando expostas a concentrações crescentes de SeChry tinham um aumento significativo de morte celular. Com estes
resultados também se determinou as concentrações de EC50 para este composto, onde se obteve que as
células mais sensíveis são as MDA-MB-231, seguidas das MCF7, BT474 e HCC1806. Porém, o 5k não
apresentou um efeito citotóxico significativo. A expressão do xCT e FATP1 basal e na presença dos
inibidores foi avaliada por imunofluorescência indireta. Observou-se que todas as linhas celulares
expressavam ambos os inibidores, e que a expressão do FATP1 diminuiu quando as células eram postas
em cultura com os inibidores.
In vivo, o volume do tumor em ratinhos tratados com SeChry@PUREG4-FA2 foi significativamente
menor comparado com o grupo não tratado, contudo, o tratamento conjunto com SeChry@PUREG4-FA2
e 5k não teve qualquer efeito no volume tumoral. Estes resultados confirmam a validade do xCT como
alvo terapêutico e a eficácia do SeChry, e demonstram que o 5k protege as células do BC dos efeitos do
SeChry.
A ocorrência da ferroptose in vitro foi determinada por microscopia de fluorescência, para observar
as LD, usando o corante Nile Red, e por citometria de fluxo para analisar os níveis citoplasmáticos de
espécies reativas de oxigénio (ROS) e de peróxidos lipídicos, usando as sondas DCF-DA e Bodipy
581/591 C11, respetivamente. Nas linhas celulares de BC expostas a SeChry e 5k, observou-se um
decréscimo na formação de LD e nos níveis de ROS intracelulares, com um aumento concomitante dos
níveis de peróxidos lipídicos, sugerindo que está a ocorrer ferroptose. Visto que o 5k impediu os efeitos
do SeChry@PUREG4-FA2 nos tumores dos ratinhos, levantou-se a hipótese que a morte por ferroptose
ocorre proporcionalmente aos lípidos presentes no ambiente intracelular, e a absorção de lípidos pelas
células depende da disponibilidade destes no microambiente, algo que foi demonstrado em estudos
anteriores. Para testar esta teoria, repetiram-se ensaios de morte e análises de peróxidos lipídicos, em
que as células de BC foram expostas ao SeChry, 5k e SeChry + 5K, cultivadas na presença ou ausência
de ácido linoleico (C18:2). Observou-se uma diminuição de viabilidade celular compatível com a
acumulação de peróxidos lipídicos nas linhas celulares de TNBC quando expostas a um ambiente rico
em ácidos gordos. Estes resultados revelam que as células de TNBC que correspondem ao subtipo de
BC com pior prognóstico são as mais suscetíveis a este tipo de morte celular.
Secções congeladas dos tumores de ratinhos foram analisadas por histoquímica com Nile red e
Bodipy 581/591 C11, para avaliar a presença de LD e peróxidos lipídicos, respetivamente. Observou-se
que os tumores dos ratinhos tratados com SeChry@PUREG4-FA2 apresentavam evidências de ferroptose.
Verificou-se uma diminuição da produção de LD nos tumores de ratinhos tratados com
SeChry@PUREG4-FA2 e SeChry@PUREG4-FA2 + 5k. Contudo, o aumento dos níveis de peróxidos
lipídicos apenas se verificou nos tumores dos ratinhos tratados com SeChry@PUREG4-FA2, o que
justifica o volume reduzido dos tumores. Estes resultados permitem concluir que o 5k de facto protege
as células de BC da ferroptose induzida pelo SeChry.
Adicionalmente, com o objetivo de caracterizar os efeitos do SeChry@PUREG4-FA2 in vitro,
determinou-se a concentração de EC50 para as linhas celulares através de ensaios de morte. A expressão
do recetor de folato for avaliada por imunofluorescência indireta e confirmou-se que todas as linhas
celulares de BC expressam este recetor. Num ensaio de comparação equimolar, avaliou-se o potencial
diferencial anti-cancerígeno do SeChry (SeChry@PUREG4-FA2), do selénio (Se@PUREG4-FA2) e da
crisina (Chry@PUREG4-FA2) encapsulados na nanopartícula. Todas as linhas celulares apresentaram
respostas diferentes, mas em suma ambos o SeChry@PUREG4-FA2 e a Chry@PUREG4-FA2 foram
eficazes a induzir morte celular.
Para concluir, este trabalho reforça que as células de BC dependem do metabolismo da cisteína para
controlo do stress oxidativo e que os ácidos gordos contribuem para a biologia da doença. Assim, a
inibição de xCT com o SeChry poderá ser uma estratégia eficaz de tratamento de BC, sendo o
mecanismo de ação mais provável a indução de ferroptose.
Breast cancer (BC) affects millions of people worldwide. A better understanding of BC biology, including metabolic remodeling of malignant cells, can aid in identifying new biomarkers and therapeutic targets. Our team disclosed the relevance of fatty acids in BC to sustain bioenergetics and biosynthesis, and the role of cysteine reliance in metabolism and redox control. This project aimed to explore whether disturbing fatty acid and cysteine uptake would induce ferroptosis, a form of cell death involving the accumulation of lipid peroxidation, in BC. This was tested by inhibiting the transporters FATP1 and xCT with 5k arylpiperazine and selenium-chrysin (SeChry), in BC cell lines from different molecular subtypes and in in vivo BC mouse models. In vitro, cell death was assessed by flow cytometry using annexin-V-FITC and propidium iodide labeling, and the levels of lipid droplets (LD), reactive oxygen species (ROS), and lipid peroxides were assessed by cytochemical stains and fluorescence microscopy. SeChry, but not 5k, increased cell death, accompanied by decreased accumulation of LD and ROS and increased levels of lipid peroxides, which is compatible with ferroptosis. Moreover, in a fatty acid-enriched environment, SeChry and 5k induced higher cell death in TNBC cell lines compared with luminal cell lines. It was also confirmed that SeChry is the best option for BC cells, since it induced significant cell death in all BC cell lines, while selenium presented significant toxicity in MDA-MB-231 cells, and chrysin was more toxic to BT474 and HCC1806 cells than SeChry. In vivo, SeChry significantly reduced the tumor volume, but 5k inhibited the effect of SeChry. These results were underlined by ferroptosis activation upon SeChry and ferroptosis inhibition upon 5k, due to decreased accumulation of LD and ultimately decreased lipid peroxidation. This work reinforces SeChry as a therapeutic opportunity to tackle metabolism and improve the clinical management of BC.
Breast cancer (BC) affects millions of people worldwide. A better understanding of BC biology, including metabolic remodeling of malignant cells, can aid in identifying new biomarkers and therapeutic targets. Our team disclosed the relevance of fatty acids in BC to sustain bioenergetics and biosynthesis, and the role of cysteine reliance in metabolism and redox control. This project aimed to explore whether disturbing fatty acid and cysteine uptake would induce ferroptosis, a form of cell death involving the accumulation of lipid peroxidation, in BC. This was tested by inhibiting the transporters FATP1 and xCT with 5k arylpiperazine and selenium-chrysin (SeChry), in BC cell lines from different molecular subtypes and in in vivo BC mouse models. In vitro, cell death was assessed by flow cytometry using annexin-V-FITC and propidium iodide labeling, and the levels of lipid droplets (LD), reactive oxygen species (ROS), and lipid peroxides were assessed by cytochemical stains and fluorescence microscopy. SeChry, but not 5k, increased cell death, accompanied by decreased accumulation of LD and ROS and increased levels of lipid peroxides, which is compatible with ferroptosis. Moreover, in a fatty acid-enriched environment, SeChry and 5k induced higher cell death in TNBC cell lines compared with luminal cell lines. It was also confirmed that SeChry is the best option for BC cells, since it induced significant cell death in all BC cell lines, while selenium presented significant toxicity in MDA-MB-231 cells, and chrysin was more toxic to BT474 and HCC1806 cells than SeChry. In vivo, SeChry significantly reduced the tumor volume, but 5k inhibited the effect of SeChry. These results were underlined by ferroptosis activation upon SeChry and ferroptosis inhibition upon 5k, due to decreased accumulation of LD and ultimately decreased lipid peroxidation. This work reinforces SeChry as a therapeutic opportunity to tackle metabolism and improve the clinical management of BC.
Description
Tese de Mestrado, Biologia Humana e Ambiente, 2024, Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências
Keywords
Cisteína Ácidos gordos Ferroptose Peroxidação lipídica Carcinoma da mama Teses de mestrado - 2024
